Psicologia & Magia – Jung & Crowley

Um deles foi psiquiatra e psicoterapeuta e fundou a psicologia analítica, criou os conceitos de arquétipo e inconsciente coletivo e seu trabalho influencia, até hoje, outras especialidades como a ciência da religião e literatura. Outro foi ocultista, membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada e responsável pela fundação de Thelema, conhecido até os dias atuais por seus escritos sobre magia, influenciando o surgimento e desenvolvimento de inúmeras ordens e escolas ocultistas. Personalidades e obras que parecem muito distantes são, na realidade, mais próximas do que pensamos. A seguir, analisamos algumas delas e tentamos estabelecer uma comparação dessas duas grandes personalidades, Carl Gustav Jung e Aleister Crowley.

Infância outsider

Em seus primeiros anos de vida, tanto Crowley como Jung tinham sérios problemas na hora de socializar. Quando olhamos especialmente para Crowley, percebemos que seu isolamento no passar dos anos se deu tanto de forma autoinduzida como também por consequência de suas escolhas sociais e políticas. Apesar disso, ele não apresentava comportamentos antissociais, muito pelo contrário – Crowley gostava de chamar atenção e fazia isso desde pequeno, sempre escolhendo se comportar de forma que chocasse o senso comum. Jung, por sua vez, sofreu com tantos episódios de abuso por parte de seus colegas de escola que apresentava sintomas físicos de fraqueza e desmaios só de pensar em ir à escola (em um desses episódios, seus colegas de escola bateram tanto nele que ele quase desmaiou). Jung se automutilou inúmeras vezes e em algumas situações chegou a passar perto da morte. Tudo isso foi atribuído à sua infância extremamente incomum.

Cristandade

Tendo figuras paternas profundamente envolvidos com o Cristianismo, tanto Crowley como Jung cresceram em lares com valores cristãos muito fortes. Os dois lidaram com o sistema simbólico católico desde cedo, e resolveram utilizá-lo como base de seus processos de nova interpretação do Cristianismo: enquanto Jung interpreta psicologicamente os mitos centrais, Crowley demonstra como os paradigmas estavam mudando e como o Cristianismo era, em comparação ao novo, extremamente violento e opressivo. Ambos, cada um a seu modo, sentiam que esse sistema deveria ser substituído, e não somente revisado

Influência paranormal nas obras

A operação mais conhecida de Crowley, a operação do Cairo, não tem esse status à toa. Além de ser o “berço” do Livro da Lei, é nela que Crowley “percebe” uma presença no local onde está, e tem um texto ditado por ela. Essa entidade seria Aiwass, o ministro de Hoor-paar-kraat, que ditou a ele as palavras sobre o Novo Aeon. Mais tarde, Crowley identificou a entidade como sendo seu próprio Sagrado Anjo Guardião.

Jung, em sua obra gnóstica Septem Sermones ad Mortuos, ou “Sete sermões aos mortos” (tradução nossa) também entra em contato com uma entidade, Philemon, que teria mostrado a ele a objetividade psíquica ou a realidade da psiquê. Segundo Jung, Philemon representaria o insight superior, uma figura misteriosa que por muitas vezes parecia real, tendo uma personalidade muito parecida com a de um guru.

Contato com outras culturas

Jung e Crowley tinham comportamentos diametralmente opostos quando se tratava de postura perante outras culturas. Enquanto Crowley se esforçava para viver, comer, comprar, falar, ter todo tipo de experiência como os habitantes do local onde resolvia se estabelecer (como por exemplo na Índia e nos Estados Unidos), revelando uma maleabilidade por parte de sua personalidade, Jung via esse comportamento quase como destrutivo. Para ele, uma identificação exagerada com uma nova cultura colocaria em risco a sua identidade. Mas isso não impediu que ele visitasse e estudasse culturas tão distintas da sua.

Sociedades Secretas

Jung acreditava que os processos de iniciação nas sociedades secretas no Ocidente possuiriam pouco a oferecer. Ele se baseava na ideia de que, na nossa sociedade, os processos iniciáticos não levavam a transformações psicológicas, e que apenas preenchiam nas pessoas uma necessidade de irmandade ou de se sentir parte de algo. Uma das razões pelas quais Jung defendia essa ideia era intimamente ligada à data de produção de muitas de suas obras (por volta de 1928), década essa marcada pelo nascimento de muitas ordens ocultas – o que se deu graças à notoriedade de Crowley e de tudo o que ele dizia realizar.

Crowley sentiu realmente que as ordens ocultistas dependiam demais de suposições improváveis ou superstições, e isso o motivou a reorganizar a O.T.O. e a fundar posteriormente a A⸫ A⸫ . Crowley entendia que os processos da Tradição Esotérica Ocidental precisavam de transformações psicológicas e então tentou trazer os mistérios sob uma égide de “ciência”, mesmo não conseguindo ser em alguns momentos tão objetivo como ele exigia dele mesmo e dos outros nessas ordens. A tentativa de Crowley de se aproximar da ciência ficou conhecida como Iluminismo Científico, divulgada e praticada por ele e seus discípulos.

 

Similaridades e diferenças a parte, Crowley e Jung possuem conexões muito interessantes entre seus métodos de desenvolvimento psicológico e espiritual. Apesar de ambos agirem em esferas bastante distintas – sendo Crowley na esfera poética e mística e Jung na esfera empírica e científica -, ambos formaram noções bem similares do processo do desenvolvimento humano. Muitos relatos desses processos de desenvolvimento psicológico e espiritual estão relatados por todo o Liber ABA, que está chegando em português pelo Catarse.

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