Já escrevemos a respeito do Sabá, um conceito muito amplo e com diversas interpretações. Leia Desvendando o Sabá para entender mais.
Para Peter Grey, em Bruxaria Apocalíptica, o Sabá não pertence a ninguém. Ele não tem marca, não pode ser controlado por um grupo ou uma pessoa. No entanto, algumas pessoas e grupos se apropriam de tais eventos com objetivo de lucro financeiro.
Aqui vale uma observação: instituições, terreiros, lugares sagrados, todos precisam de manutenção, o que exige dinheiro. Quando mais luxuoso for o local, obviamente maior será o custo para mantê-lo. A questão central não é nem sequer a questão financeira em si, mas a apropriação de um conceito que deveria agregar e que acaba segregando.
Nem todo Sabá é para todos os olhos, especialmente de inexperientes. O processo de dedicação é exigente. O ponto é, a questão financeira, em muitos casos, leva grupos mais luxuosos à arrogância, em que a transição livre do conhecimento só é possível para aqueles que pagam pela experiência, em muitos casos rasa e sem a espontaneidade que deveria ser a base de muitos Sabás.
Os Sabás de logotipo
Por experiência própria, quando uma marca ou grupo transforma o Sabá num evento pago, quanto mais caro, mais estruturado se transforma, deixando pouco espaço para experiências de fato genuínas. O dinheiro transforma promoters em sacerdotes, o que não é necessariamente ruim ou condenável, se tais sacerdotes de logotipo respeitarem a criatividade alheia.
As discussões modernas sobre quem frequenta o Sabá são frequentemente diálogos de exclusão, nos quais um grupo tenta insistir que são as únicas bruxas verdadeiras, que sua experiência é de alguma forma mais autêntica que qualquer outra.
Peter Grey
Ainda que sejamos adeptos da discórdia, é lastimoso perceber como grupos já marginalizados acabam se auto excluindo e se destruindo por divergências ignorantes. Isto se torna evidente não apenas com as constantes brigas e ameaças nas mais diversas comunidades virtuais, mas também no mundo físico e astral.
A base dos conflitos
Uma vez que promoters de eventos estruturam seus Sabás, eles precisam remover seus concorrentes, pois assim funciona a lei do mercado. Isso acaba gerando uma disputa não apenas entre egos, mas puramente financeira, pois eles precisam fortalecer a própria egrégora e gerar propaganda positiva.
Assim, começam a “demonizar” a estrutura do Sabá alheio, como se a espontaneidade fosse um problema. Desta forma, criam um evento em que mais e mais pessoas se identificam, pois já saberão o que irá de fato acontecer, sentem-se, portanto mais confiantes. Basicamente, o processo vivido por cristãos, que decoraram a missa.
Quanto mais criativo for o Sabá alheio, mais ele será uma armadilha para o Sabá de mercado, portanto ele passa a ser ridicularizado ou colocado como uma ameaça. Assim se fundamentam as infindáveis discussões entre grupos magísticos. Quando não é por dinheiro, é por controle da Narrativa.
Paranoia afasta mais que constrói
Discussões geram uma espécie de paranoia grupal, em que um grupo “sente” que está sendo astralmente atacado por outro. Alimentando esta egrégora de medo, este grupo pode afastar as mentes sadias que ali estavam. Por outro lado, se os promoters souberem usar o medo grupal em benefício próprio, podem acabar tornando seus pares em servos fiéis.
Veja bem, o processo é simples. Se tudo que der errado na sua vida você acabar atribuindo a um grupo ou pessoa, você está dando poder a tal grupo ou pessoa. Entendeu? Você está colocando a sua sorte nas mãos de outro, ao invés de trabalhar seu próprio destino.
A paranoia grupal é de fato uma ferramenta muito usada por todos os lados, inclusive para matar. Aliás, também recomendamos o texto Como matar alguém com magia. Não estamos aqui, de forma alguma, fazendo um julgamento de valor a respeito de como tais Sabás são estruturados.
Este texto serve mais como um alerta do que como um pretexto.
O Sabá é mais igualitário que isso, ele remove toda a diferença. Ele nos convoca. Este chamado é o aspecto interior que define uma bruxa, e não o aspecto social exterior do dedo indicador acusador de condenação. O primeiro voo para o Sabá é muitas vezes um evento espontâneo. Um evento que não é mediado por coven ou ritual. É uma transfiguração lúcida, embora muitas vezes chocante.
Peter Grey
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