Minhas primeiras impressões de Mágicka Visual

Meus pés estão descalços e estou lendo debaixo da minha árvore favorita. 

Quanto mais estudo os livros da Penumbra, mais percebo uma certa conspiração. Você pode dizer que estou falando isso porque trabalho aqui. Mas da mesma forma que meus chefes nunca sabem quais serão meus textos, eu não estou por dentro de tudo que acontece na Penumbra, nem de quais serão os próximos livros.

Eu me refiro à conspiração porque fiquei chocada com o diálogo que existe entre todos os livros, e como ele foi bem amarrado em Mágicka Visual. É uma visão xamânica dos meus assuntos favoritos, envolvendo um pouco de Magia do Caos, Thelema e muito mais, profundamente imbuído do trabalho de Spare e também de Grant.

Como leitora viciada, acho divertido abrir os livros, compreender o subtexto e ir encontrando referências um nos outros. Realmente é uma linda aula de ocultismo. Que Mágicka Visual é lindo, todos nós já sabemos.

Mas o prefácio já anuncia:

Se você não gosta de perder o fôlego, fica a recomendação para que você busque outros textos.

Eu não sei você, mas eu adoro perder o fôlego. Gosto de leitura que me desafia. O livro é de fato um energético que deve ser tomado aos poucos, afinal você precisa parar para treinar a corrida.

O autor começa com um dos assuntos mais queridos dos caoístas brasileiros: os famosos sigilos. Aqui, sigilos são como sementes, mas nesta versão, sementes são além do sigilo: são melodias, danças, gestos etc. Eu gostei muito deste termo e irei usá-lo a partir de agora.

Para quem busca entender melhor o que é um sigilo e como ele é feito, este capítulo dá inúmeros exemplos e detalha bastante o processo de criação, mas sem se ater a uma só fórmula. São várias de páginas dedicas a sigilos, então se você busca entender muito bem do assunto, recomendo ativamente a leitura. E para aqueles que já são veteranos: sempre é bom dar uma olhada em métodos alheios.

O capítulo 2 é o ritual. Aqui o autor continua falando sobre sigilo, inclusive a respeito de gnose, mas não necessariamente com este termo, sempre se voltando para o trabalho de Osman Spare. Exemplos de rituais são mostrados. Gostei particularmente de Transmissão, pois nunca tinha pensado em ativar um sigilo pelo método xamânico.

Alguns magistas recomendam que um sigilo deve ser trabalhado até que manifeste resultados. Eu acho essa atitude errada: o sigilo manifestar-se-á quando as condições forem adequadas para seu crescimento. Se elas não forem, nem toda a persistência e a teimosia do mundo manifestarão o resultado desejado; ao invés disso, todos os esforços fúteis desequilibrarão a mente e causarão frustração e câimbras.

Mágicka Visual

No capítulo 3, ele trata de desenhos automáticos, oferecendo exercícios simples e padrões para que o leitor comece sua prática. Este foi sem sombras de dúvidas o texto mais completo que já li a respeito, pois muito se fala sobre a importância de criar sigilos e signos espontâneos, mas não havia visto uma variedade de métodos simples e eficazes, que qualquer pessoa com boa vontade poderia fazer a qualquer momento.

Outro livro com o qual o autor dialoga é Liber Null e Psiconauta. Ele trata o capítulo 4 inteiro apenas sobre visualização, prática também encontrada no Liber MMM, porém em Mágicka Visual ela é mais detalhada e profundamente enraizada com o xamanismo. Exemplo de um exercício que você encontrará no livro:

O próximo experimento pode te mostrar o quanto você é capaz de perceber se você quiser. Experimente isso com uma árvore ou uma planta, pois estes são seres vivos com formas complexas que em grande parte são desconhecidos para a maioria das mentes. Primeiro você precisa achar uma boa árvore. Ande ao redor dela, veja, escute, sinta, prove, cheire a árvore. Quantos detalhes você consegue perceber? Quanto da sua percepção pode ser expressada em palavras? Não se apresse e continue falando.

Mágicka Visual

Olhar para uma árvore desta forma sempre me causou alegria. Este tipo de Magia natural, que recorre às profundezas do ser, é um dos que mais me chama atenção. Quando eu ficava muito melancólica, eu costumava meditar observando as flores do flamboyant caindo. Mais tarde, esta experiência se tornou uma poesia, que eu transformei num hipersigilo musical: a música Absolute:

Substitua sua inquietude
Com a gnosis
De um observador hipnotizado
E veja
Veja a marcha das formigas
Subindo o tronco de um velho carvalho
Ouça as folhas em uma brisa suave
Sinta a textura das folhas secas
Dance
Dance em comunhão com o vento
Sinta
Sinta a bússola do seu coração
O curso da sua corrente sanguínea.
Ouça
Ouça seu sangue cantar

Caotes

Este exercício pode parecer um tanto sem propósito a princípio, mas ele revela um rico microcosmos que simplesmente desprezamos no nosso dia-a-dia. Bom, eu parei por aqui. Preciso retornar ao exercício da árvore. Está tudo interligado, meu jovem.

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