Um objeto orbitando outro muito maior e mais pesado. Esse fenômeno ocorre naturalmente com uma enorme frequência. Planetas girando ao redor de um sol. Elétrons girando ao redor de um próton. O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa. Representando visualmente qualquer órbita simples, temos o ponto e o círculo, formando uma imagem icônica.
Representações do ponto e do círculo estão por toda parte. No átomo de hidrogênio, que representa 90% de todos os átomos do universo (se os astrofísicos não estiverem errados). No antigo símbolo do Sol. No simbolismo dos Illuminati. A forma é tão prática e reincidente que, forçando a barra, podemos começar a enxergá-la em coisas do nosso cotidiano. No centro de um ventilador, um lápis visto de cima, um ovo, uma roda de carro. A lista não acaba.
Mas o fato de que esta imagem ocorre naturalmente com uma frequência espantosa não significa que não tenha também seus significados ocultos.
O Terreno e o Sagrado
Simbolicamente, podemos considerar que o círculo é o espaço sagrado – tudo aquilo que nos circunda, que nos rodeia. Por outro lado, o ponto é o centro sagrado, a estrela guia – o ponto a partir do qual se define o círculo.
Esse ponto é, às vezes, representado simbolicamente como um quadrado, como forma de representar a Terra. Afinal de contas, a Terra é o centro do espaço sagrado para nós que nascemos nesse planetinha azul.
De acordo com Nicholaj de Mattos Frisvold, em A Arte dos Indomados, a união entre o círculo e o ponto tem, portanto, o sentido de unir o terreno com o sagrado. É daí que vem a fascinação de Pitágoras e seus seguidores pelo clássico problema da quadratura do círculo.
Em certas tradições de origem céltica, unir o quadrado ou ponto e o círculo significa abertura de caminhos, a montanha da ascenção, a encruzilhada onde cruzamos nosso caminho com aquilo que almejamos.
Percorrendo o Ciclo Solar
Outro sentido óbvio que se depreende da representação do ponto e o círculo é a trajetória solar. O símbolo em si era representado em textos alquímicos para representar o próprio Sol.
Este centro informe é indivisível e a unidade é em todos os sentidos. O ponto é o foco e o círculo é o mundo gerado pelo ponto, ou polo. Percorrer o círculo significa, simplesmente, observar as etapas do Sol enquanto se move em sua sequência natural. Este movimento é anti-horário, através dos signos do zodíaco.
Nicholaj de Mattos Frisvold, A Arte dos Indomados, p. 135
A divisão do círculo solar em quatro partes gera uma imagem das estações do ano – que é exatamente o que representa a Cruz Celta. Dividindo um pouco mais, em oito partes, surge toda uma gama de simbolismos rosa-cruzes.
Há um bom exemplo de quadrado (ou ponto) como elemento central de culto. A Kaaba (ou Cubo) é considerada o centro da fé islâmica. Em suas origens, tinha um sentido fundamentalmente zodiacal, como o Sol percorrendo a orbe celeste. Até hoje, fiéis fazem circumambulações ao seu redor. Como se fosse uma órbita. Qualquer semelhança não é mera coincidência.
O Ponto e o Círculo em Thelema
Na doutrina Thelêmica, há toda uma nova camada de significado para o ponto e o círculo.
O Ponto dentro do Círculo, o símbolo dos Illuminati, não é somente uma representação do Sol e do deus Hórus, mas também, no sistema de Crowley, simboliza a união de Nuit e Hadit, emblemática da Consciência e de sua projeção como um raio de luz.
Kenneth Grant, O Renascer da Magia, p. 12
Grant defende que o Ponto representa o arquétipo solar. No microcosmo, é representado pelo Falo, e também pela Kundalini. De forma análoga, o Círculo representa o útero universal, onde os desejos concentrados podem ser transformados em realidade.
Em termos mais Thelêmicos, a união de Hadit com Nuit resulta em seu filho mágico, Ra-Hoor-Khuit. Trata-se da união de Amor e Vontade. Essa é a fórmula de mágicka sexual ilustrada explicitamente na estela da revelação, e o fundamento básico da Corrente 93.
Para saber mais sobre o simbolismo do ponto e do círculo, recomendamos os livros que citamos. Em A Arte dos Indomados, Nicholaj Frisvold apresenta o assunto como uma introdução para o tema da jornada da alma. Em O Renascer da Magia, Kenneth Grant remove para o leitor a grossa camada de mistério que envolve a fórmula essencial da magia sexual Thelêmica.
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