Há muitos artigos sobre Magia do Caos, o que é ótimo. Porém, a grande maioria se foca nos mesmos assuntos, geralmente envolvendo sigilos e servidores. Hoje vamos mostrar a vocês a Trindade Caótica de Peter Carroll, também conhecida como as Três Irmãs Sinistras ou Chaomeras.
Peter Carroll, um dos fundadores da Magia do Caos, escreveu sobre três principais divindades em sua obra em seu livro The Apophenion: Chaos Magick Paradigm, ainda sem tradução em português. . A primeira delas já é bem conhecida, mas talvez mal interpretada. É o nosso trabalho suprir essas lacunas de informação.
Antes de mais nada, precisamos entender a importância da trindade:
Três é o único número natural que é a soma de todos os números anteriores. É o único número que é a soma de todos os fatoriais dos números anteriores: 3 = 1! + 2 !. Na Babilônia havia três deuses principais: o Sol, a Lua e Vênus. No Egito havia três deuses principais: Hórus, Osíris e Ísis. Em Roma havia três deuses principais: Júpiter, Marte e Quirino. Na literatura clássica, havia Três Destinos, Três Graças, Três Fúrias.
Via Chaos Matrix
Há ainda algumas frases que conhecemos que reconhecem a força do número três, como a famosa: “todas as coisas boas vêm em três”. Segundo a numerologia, o número três representa bom gosto e otimismo, além de ser um número relacionado à criatividade e interesse pelas artes no geral, inclusive as artes mágickas.
Éris: a Deusa da Discórdia
Certamente uma das divindades mais conhecidas e cultuadas na Magia do Caos é a Deusa Éris, também conhecida como Deusa da Discórdia. Já escrevemos sobre ela aqui.
Éris é a deusa grega da Discórdia. Ela é filha de Nyx, gerada por partenogênese. Tornou-se a mãe de muitos horrores e desgraças que estão presentes no mundo, como a Fadiga, o Esquecimento, a Desilusão, a Fome, as Dores do Corpo e da Alma, as Mentiras, o Ódio, a Desordem, o Erro, as Batalhas, os Combates, as Disputas, os Homicídios, os Massacres, os Litígios, a Falta de Lei e o Espírito dos Juramentos. Creio que o momento de maior destaque de Éris, em toda a Mitologia, é no que concerne ao estopim da Guerra de Tróia.
Via Reino das Fábulas
Mas se Éris é a grande responsável por coisas tão horríveis, por que a cultuamos tanto no Caos? Segundo Peter Carroll, o papel de Éris é desordenar nossas expectativas. Carroll nos lembra que Éris explica grande parte do universo, até mesmo as mais desagráveis.
Quebrar e questionar paradigmas não é algo agradável. Muitas vezes, para nos libertarmos de crenças, precisamos trabalhar com as sombras, enfrentar abismos e e fatos no cotidiano que são difíceis e até mesmo insuportáveis. Éris não é só a treta e o meme irônico que compartilhamos no Facebook. Ela é nosso espelho negro e precisa ser encarada de frente. Portanto, ela faz parte da Trindade Caótica.
Pareidolia: A Segunda Deusa Caótica
Peter Carroll pegou um fenômeno que muitos experimentam e o colocou num status de divindade feminina. Pareidolia é a habilidade de ver imagens em coisas que não fazem sentido,. Por exemplo, quando você vê animais nas nuvens, faces nas vidraças, ouve mensagens de ruídos ou até mesmo a imagem de Jesus na torrada.
https://www.youtube.com/watch?v=1vw6dH5MC2M
É por conta da pareidolia que identificamos animais nas nuvens, vemos rostos humanos em objetos, olhamos aqueles emoticons do whatsapp e conseguimos identificar as reações e expressões, a pareidolia também acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se dissessem algo (cof cof xuxa cof cof).
O cientista Carl Sagan, em seu livro O Mundo Assombrado pelos Demônios, descreve que nós, seres humanos, desde que nascermos temos essa habilidade para identificar um rosto humano, provavelmente sendo uma técnica de sobrevivência natural. Isso quer dizer que, com mínimos detalhes, conseguiremos reconhecer rostos mesmo com fraca visibilidade, podendo nos proteger.
Via Design Culture
Para Peter Carroll, Pareidolia é a Deusa responsável por criar “augúrias das entranhas”.
Apofenia: A Terceira Deusa Caótica
Peter Carroll certamente aprecia tanto esta Deusa que chegou a escrever um livro inteiro sobre o assunto, como colocamos no início deste artigo. Falaremos exclusivamente sobre o livro numa outra ocasião.
Apofenia é a percepção espontânea de conexões e significância de fenômenos que não possuem relação entre si. O termo foi cunhado por K. Conrad em 1958 (Brugger).
Peter Brugger, do Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Zurich, dá exemplos de apofenia tirados do Occult Diary (Diário Oculto) de August Strindberg, a descrição pelo próprio dramaturgo de seu surto psicótico:
Ele viu “duas insígnias de bruxas, o chifre de bode e a vassoura” em uma rocha e imaginou “que demônio os teria colocado lá … exatamente ali e no meu caminho exatamente nesta manhã.” Um prédio então se pareceu como um forno e ele pensou no Inferno de Dante.
Ele vê pedaços de pau no chão e os enxerga como se formassem letras gregas, que interpreta como a abreviatura do nome de um homem, e sente que agora sabe que este homem é aquele que o está perseguindo. Vê pedaços de pau no fundo de um cesto e tem certeza de que formam um pentagrama.
Ele vê minúsculas mãos em oração quando observa uma noz num microscópio, e isso “me encheu de horror”.
Seu travesseiro amarrotado parece “uma cabeça de mármore ao estilo de Michelângelo.” Strindberg comenta que “essas ocorrências não poderiam ser consideradas acidentais porque em alguns dias o travesseiro apresentava a aparência de monstros horríveis, de gárgulas góticas, de dragões, e certa noite… Eu fui saudado pelo Maligno em pessoa…”
Segundo Brugger, “A propensão para ver conexões entre objetos ou ideias que aparentemente não têm relação entre si é o que mais assemelha a psicose com a criatividade… a apofenia e a criatividade podem até ser vistas como dois lados da mesma moeda.” Algumas das pessoas mais criativas do mundo então devem ser os psicanalistas e terapeutas que usam testes projetivos como o teste de Rorschach ou que vêem padrões de abuso de crianças por trás de todo tipo de problemas emocionais. Brugger observa que um analista pensou que tinha apoio para a teoria da inveja do pênis porque mais mulheres do que homens deixavam de devolver os lápis após um teste. Outro gastou nove páginas de um jornal de prestígio descrevendo como as fendas na calçada são vaginas e os pés são pênis, e que o velho ditado sobre não pisar nas fendas é na verdade uma advertência para se manter longe do órgão sexual feminino.
Nas estatísticas, a apofenia é chamada de um Erro do tipo I, enxergar padrões onde na verdade, não existe nenhum. É altamente provável que a significância aparente de muitas experiências e fenômenos incomuns seja devida à apofenia, por exemplo, FVE, numerologia, o código da Bíblia, cognição anômala, “acertos” no Ganzfeld, a maioria das formas de adivinhação, as profecias de Nostradamus, visão remota, e vários outros fenômenos e experiências paranormais e sobrenaturais.
Via Dicionário Cético
Por isso Apofenia é tão importante para Magia do Caos, segundo Peter Carroll, é a força que nos impulsiona a procurar conexões misteriosas.