Acabamos de passar pelo maior eclipse do século, dia 27 de Julho de 2018, e em breve teremos um eclipse solar para fechar este ciclo, dia 11 de Agosto de 2018. O período entre dois eclipses, ou The Eclipse Gateway, aqui traduzido como ponte, é um dos mais fantásticos para Magia, porém pode ser um período arrastado e difícil para a maioria das pessoas.
O eclipse periódico de um corpo celeste era comparado, na antiguidade, com a ocultação e a efusão regulares do cinocéfalo fêmea, que agia como um relógio natural dos templos egípcios. Era uma etapa mais avançada da evolução das ideias mágicas, a lua minguante ou doentia era representada como Osíris enfaixado como múmia, ou enrolado em linhos como a fêmea humana no momento de sua doença periódica.
Aleister Crowley e o Deus Ocultos – Kenneth Grant
Este será o último período de ponte em 2018. Mas nos próximos anos teremos mais três: entre 05 e 21 de Janeiro de 2019; entre 2 e 17 de Julho de 2019; e entre 26 de Dezembro de 2019 e 11 de Janeiro de 2020.
Muitos ocultistas realmente temem este período, mas é uma boa época para práticas consideradas densas. Se você pensa em destruir uma vila inteira, este é um excelente momento!
Brincadeiras à parte, o período parece especialmente mais difícil e arrastado quando vivenciado no inverno. Por conta do nosso estilo de vida ultramoderno, sempre apressado e cheio de afazeres, não respeitamos o natural recolhimento durante esta época. Tal necessidade é ainda mais evidenciada durante a ponte entre dois eclipses.
Astros escondidos
Há quem diga que durante o eclipse não se deve trabalhar nem com o sol e tampouco com a lua, pois estão “escondidos”. No entanto, justamente por isso, feitiços de ocultação ou de ilusão são os mais adequados para este período.
É comum, portanto, que magistas com pouco contato com suas sombras sintam-se inseguros, confusos ou mais inclinados para alimentarem ideias obscuras, formas-pensamento destrutivas e até mesmo ideias suicidas; algo que tenho observado com grande pesar durante esta época.
Neste período, qualquer profissão ligada à criatividade fica mais prejudicada, lenta. Parece, de fato, que os dias se arrastam e os pensamentos ficam mais nublados que o normal. Quanto mais submerso no estilo de vida urbano, isto é, vivendo em grandes metrópoles, mais o magista sentir-se-á lesado.
Isto tem uma explicação primeiramente ambiental: durante o inverno, a poluição aumenta com o frio.
Segundo a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), a concentração de poluentes aumenta em até 80% durante o inverno em locais onde há grande número de indústrias e veículos em circulação. Isso significa mais monóxido de carbono, enxofre, hidrocarbonetos, ozônio e partículas inaláveis aos montes, que chegam a atingir os alvéolos pulmonares.
Além do agravamento de doenças respiratórias e da clássica irritação nos olhos, a exposição crônica ao poluído tem consequências menos óbvias, mas igualmente perigosas. É possível sofrer com aumento da pressão arterial, o que pode deflagrar eventos cardiovasculares, como infarto e derrame; estudos mostram que a poluição pode gerar problemas cognitivos de forma irreversível; e gestantes têm maior risco de apresentar pré-eclâmpsia e sofrer parto prematuro; e gestantes têm maior risco de apresentar pré-eclâmpsia e sofrer parto prematuro; só para citar alguns problemas.
Além do sentido ambiental, que muitos ignoram por simples desconhecimento, há também o sentido espiritual. Novamente: é possível que até mesmo o magista mais experiente se veja forçado e enfrentar a Noite Escura da Alma, talvez até mesmo em mais de uma ocasião.
Morrer para Renascer
Este seria o momento ideal para manter-se calado, observar mais que emitir opiniões, preparar o solo para a futura criação: tanto no sentido artístico quanto mágicko. É o momento de passar longos períodos encarando o espelho negro, enfrentando os monstros interiores e lidando com doenças respiratórias, que são muito comuns durante este período.
É possível que o magista sinta uma carga maior de opressão e de cobrança, além do peso do mau humor que está cada vez mais constante entre as relações intrapessoais. Mas isto não significa que está tudo perdido! Na verdade, a ponte entre eclipses é uma promessa de transformação.
A imagem mumificada do deus solar à noite (ou seja, a lua) tornou-se, assim, uma imagem de ressurreição. De forma similar, o dilúvio de sangue era ligado à inundação do Nilo, que era uma promessa de fecundidade. As regras da mulher, o eclipse lunar e o enterro de Osíris mumificado, todos resumiam a fórmula do minguar, adoecer, morrer ou ser enterrado para crescer e frutificar ou seja, do ressuscitar.
Aleister Crowley e o Deus Oculto – Kenneth Grant
É preciso morrer para renascer. Da mesma forma, é preciso enfrentar a escuridão do eclipse da alma para finalmente conseguir dar a luz a uma nova criança mágicka. Cabe a cada magista manter ou não sua postura, seu foco e entender seus limites. Os astros apenas nos lembram da realidade que enfrentamos na vida diária.