Antes de escrever este artigo, tomei o cuidado de ler muitos textos a respeito de Chico Xavier. Minha intenção aqui é apenas fazer provocações e não colocar uma verdade absoluta a respeito de sua pessoa, vida ou obra.
Mágicka Visual e Desenhos Automáticos
A ideia para este artigo surgiu quando estávamos fazendo a nossa live de segunda-feira para nosso grupo de estudos. Se você ainda não sabe, todas as segunda-feiras estamos estudando o livro Mágicka Visual, de Jan Fries, conhecido como João das Batatinhas. Pois bem, no terceiro capítulo do livro, Batatinhas aborda o tema de desenhos automáticos e faz uma crítica aos médiuns espiritualistas.
Assim que li este trecho, eu me lembrei da obra do nosso espiritualista mais famoso: Chico Xavier, que escreveu mais de 450 livros durante seus 92 anos. Ele teria começado a escrever aos 21, ou seja, teve cerca de 71 anos de produção, o que o levaria a escrever cerca de 7 livros por ano, alguns dos quais ele escreveu em parceria com outros médiuns.
O Blog Charlatões do Espiritismo argumenta que Chico Xavier teria plagiado alguns livros ou até mesmo sequer escrito alguns deles:
Os plágios de Xavier eram feitos com livros de panfletarismo religioso pachorrentos, em parceria com editores da FEB ou colaboradores diversos como Waldo Vieira e o então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas. Nos anos 1980 e 1990, há indícios de livros em que Chico Xavier nem sequer escreveu uma vírgula, feitos inteiramente por seus editores.
Além desses detalhes, há o de obras literárias diversas terem trechos plagiados em vários livros de Chico Xavier. Os plágios eram feitos com trechos de livros copiados, com apenas trocas de frases e de palavras, para dar uma impressão de que não foram literalmente reproduzidos. Há também casos de livros praticamente plagiados por completo, como Nosso Lar, cuja fonte foi A Vida Além do Véu, do reverendo inglês George Vale Owen.
Essas críticas carecem de fontes. Então mesmo que você desconsidere a possibilidade de Chico Xavier ter plagiado ou sequer escrito suas obras, muitas pessoas levam o fato de que são mais de 400 livros publicados como se fossem provas de que suas obras seriam ditadas por espíritos, mas se você analisar bem, os números não são tão impressionantes assim.
Os números de Chico Xavier
Para efeitos de comparação, temos Van Gogh, que criou mais de dois mil trabalhos em cerca de uma década, sendo que de suas obras, 860 eram pinturas a óleo. Ou seja, Van Gogh produziu cerca de duzentas peças por ano. Se formos apenas considerar os números, Van Gogh era cerca de 28 vezes mais produtivo que Chico Xavier. É bom lembrar que muitas destas, na verdade, foram feitas nos seus dois últimos anos de vida do pintor.
Além disso, Van Gogh trocou mais de 600 cartas com seu irmão. Ou seja, ele também escrevia bastante, o que o tornou um artista extremamente prolífico. É possível que alguém argumente que Van Gogh também recebia espíritos. No entanto, isso seria desmerecer sua genialidade completamente.
A grande crítica do Batatinhas
Um médium espiritualista entra em uma espécie de transe e produz desenhos em todo tipo de condição absurda. Depois da sessão, ele finge ter sido usado por algum agente espiritual como um veículo, ‘porque eu não sei desenhar nada!’. Frequentemente, pessoas precisam insistir na origem ‘automática’ de suas criações quando não ousam assumir responsabilidades por elas. É muito mais seguro dizer ‘eu não sei desenhar, mas às vezes o espírito de Leonardo me possui…”, como se esse espírito não tivesse nada melhor para fazer.
Jan Fries
É importante ressaltar que Chico Xavier produzia psicografia, que pode ser interpretada como escrita automática, e não desenhos automáticos. São técnicas diferentes. Porém, a crítica é relevante para ambos os casos.
Como dissemos, esta crítica também vale para escrita automática. É muito mais fácil para Chico Xavier dizer que foi tomado por espíritos do que assumir a teoria de sua obra. Primeiro porque isso reforça sua divindade e adula seu status como médium, segundo porque isso o exime da responsabilidade.
De fato, Chico Xavier não ganhou nenhum centavo do que produziu. Ou melhor, doou tudo para a caridade. Ainda que isto seja algo bem quisto, não o torna imune aos questionamentos em relação à sua obra. Cabe aqui a crítica do Dossiê Espírita em relação a médiuns famosos que são considerados humildes, mas que de certa forma louvam a fama:
Eles queriam mais: queriam ser o centro das atenções, reduzindo os mortos a figurantes ou até nomes a enfeitar a publicidade religiosa do ‘espiritismo’ brasileiro. Queriam bancar os pensadores, com suas frases prontas sobre qualquer coisa. Queriam ser profetas, achando que podem prever o futuro, e querem ser cientistas, achando que possuem argumentos intelectuais para tanto.
Resumindo: existem muitas outras formas das quais um espiritualista pode se basear que não sejam dinheiro: fama e influência são algumas delas. Isso não é um problema, a priori. O problema é que Chico Xavier era extremamente moralista e conservador.
Chico Xavier e outros espiritualistas estão mesmo ligados a controvérsias como fraudes:
Ele (Chico Xavier) também assinou atestados legitimando atos de fraude de materialização, em que pessoas ou objetos eram cobertos de mantos brancos e neles eram colocadas fotos de personalidades falecidas recortadas de revistas, jornais ou álbuns de recordação.
Teologia do Sofrimento versus Magia:
O espiritismo é dualista: ou seja, divide a vivência humana entre boa e ruim, em pecado e santidade, criando esferas de expiação e de bondade. Já a Magia, mesmo quando dualista, não descarta um dos lados deste Yin e Yang, mas sim o abraça completamente, como num círculo.
O magista não teme seu karma, tampouco acha que o sofrimento é uma oportunidade de provar sua superioridade para Deus, tal como ocorre na Teologia do Sofrimento. Para o magista, o sofrimento pode ser canalizado para o próprio ganho, e não é visto como uma punição por severos pais divinos.
A Teologia do Sofrimento, diz que você deve aceitar seu destino quietinho e não abrir a boca para reclamar. O espiritismo também é contra obsessões, tomando “obsessores” como os verdadeiros demônios cristãos. Já a Magia considera importante o trabalho bem feito com a sombra e inclusive criar os seus próprios obsessores, como é no caso de autômatos elementais.
Como queira entender melhor, assista a nossa live sobre transmissão de sigilos: