O sexto capítulo de Aleister Crowley e o Deus Oculto é totalmente dedicado às magias sexual e oníricas. Afinal, o que Aleister Crowley, Austin Spare e Lovecraft tinham em comum? Segundo Kenneth Grant, a capacidade de sonhar com a consciência plena.
A Corrente de Aiwass de Crowley, o Zos Kia Cultus de Spare e o Culto de Cthulhu de Lovecraft são diferentes manifestações de uma fórmula idêntica — a do controle dos sonhos. Cada um desses magistas viveu sua vida dentro do contexto de mitos oníricos cósmicos que, de algum forma, eles retransmitiram à humanidade a partir de outras dimensões. A fórmula do controle dos sonhos é, em um sentido, usada por todos os artistas criativos, embora poucos tenham sucesso em trazer a consciência humana a uma tamanha proximidade com outras esferas.
Kenneth Grant — Aleister Crowley e o Deus Oculto
Aqui temos um vislumbre da importância do tema, bem como escrevemos em Incubação: a técnica esquecida dos sonhos e 23 técnicas discordianas (ou não) para sonhos épicos.
A Mulher Escarlate é essencial para os ritos
Segundo Kenneth Grant, a Babalon, ou Mulher Escarlate, é essencial por ser “o portão de visão”. Após uma série de práticas descritas por ele, que incluem o despertar de Kundalini e uma série de mudras praticados próximos ao corpo feminino, em que principalmente o chakra básico é trabalhado, a mulher se torna aquela capaz de desdobrar-se.
Neste caso, aquele que está desperto pode controlar a visão, conduzir a mulher para que ela possa descrever o que encontra neste no mundo onírico. Tais visões podem ter um caráter oracular, explicativo ou intuitivo, dependendo do desperto. Há quem, inclusive aprecie fazer um treinamento onírico neste caso, pois o estado dormente seria perfeito para isso, uma vez que a mulher não sofreria de fato.
Crowley teve muitas videntes em sua carreira mágica e o estranho é que elas quase sempre terminavam num hospital para lunáticos. Kenneth argumenta que as mulheres ocidentais não estavam tão mentalmente preparadas para tais práticas, assim como as orientais ou africanas estariam. Noutras palavras, as mulheres ocidentais teriam uma visão muito mais cartasiana e elas não eram preparadas para o mundo astral como as outras.
Estado de gnose e o ato de sonhar
Kenneth descreve também uma outra opção: o sono sem sono. E aqui não está falando sobre devaneios, mas sim consciência plena. Ele descreve este estado como sushupti.
Como não existe pensamento no sushupti, a própria mente, que nada mais é do que o funcionamento dos pensamentos, também não existe lá; a mente não é uma entidade por si só. Portanto, durante os três estados, somente a consciência desperta se faz presente; isto é, consciência vívida, imediata. No jagrat (estado desperto), a realidade é mascarada por objetos, que são pensamentos cristalizados; no estado de sonho (swapna) a realidade é obscurecida por pensamentos, que parecem reais para o sonhador assim como os ‘objetos’ no estado desperto. No estado de sushupti (sono profundo e sem sonhos), a realidade é mascarada pela ausência de pensamentos, e os não esclarecidos confudem esse estado de inconsciência com o vazio.
Kenneth Grant — Aleister Crowley e o Deus Oculto
O Estado de gnose, neste caso, seria atingir a Consciência Pura que é comum destes três estados citados, despertando assim a Kundalini, que dorme na base da espinha. Para isso, muitos usam sexo, drogas, dança etc, tal como Peter Carroll tabelou em seu livros Liber Null & Psiconauta.
Sonhos e Verdadeira Vontade
O objetivo do magista consciente é estar integrado à sua Verdadeira Vontade e esta se faz possível quando se atinge o estado de Consciência Plena durante o sonho. Quando o magista percebe qual é seu sonho inerente, ele finalmente encontra sua Verdadeira Vontade.
De modo geral, isto está intimamente ligado aos Sabbat das Bruxas, que é justamente o evento em que se vivencia a universo onírico da forma mais consciente o possível.
Conforme Spare demonstrou, o verdadeiro Sabbat das Bruxas tinha (e ainda tem) como objetivo a ‘reitificação do sonho inerente’, que é outra forma de dizer que é a tomada da consciência, ou percepção, do sonho como idêntico à consciência desperta.
Kenneth Grant — Aleister Crowley e o Deus Oculto
Portanto, temos as três esferas conectadas: o universo onírico, a magia sexual e a Verdadeira Vontade do magista. Tendo isso em mente, ele é capaz de compreender e moldar seu próprio universo.