Os mistérios da Morte em Palo Mayombe

No ocidente, a Morte geralmente é representada com um capuz preto e uma foice, um ser que sutilmente flutua pela terra, geralmente carregando seu caderno obscuro, riscando dele suas últimas vítimas. Em Palo Mayombe, uma tradição de origem africana e que permanece viva em Cuba, temos outras representações relacionadas à Morte, com significados ocultos profundos.

Centella é a filha e esposa de Cobayende, o Soberano da Morte, aquele que realmente representa a morte corporalmente. Também representa o cemitério em si, também conhecido como o jardim de sangue e dos ossos. Ela também pode ser simbolizada pelo morcego, sendo responsável pelos mistérios vampíricos e licantrópicos, bem como tudo aquilo que indica transição. Lembrando que o morcego, no caso, é considerado um símbolo para iluminação.

Significado de Centelha
substantivo feminino
Partícula que se desprende de um corpo em brasa; fagulha ou faísca.
[Por Extensão] Que brilha somente por um instante.
[Por Extensão] Por Metáfora. Intuição inesperada e repentina: a centelha da criação intelectual.
Por Metáfora. Que diz respeito ao entendimento humano; razão.
[Eletricidade] Descarga elétrica momentânea e luminosa que acontece entre condutores que estão separados por um gás.
Etimologia (origem da palavra centelha). Do espanhol centella; pelo latim scintilla.ae.

Dicionário de Português. 

Segundo Frisvold, escritor de Palo Mayobe, o jardim de Sangue e Ossos, tal iluminação tem a ver com as fagulhas das almas relacionadas a ela, pois o acréscimo da palavra ndoki “indicaria que ela é ‘a faísca de luz na escuridão'”. O próprio nome, Cetella, ou Centelha, em Português, já nos indica um pouco dessa relação divina com a luz (o fogo), que é profundamente enraizada em Palo Mayombe.

Em Cuba, é comum percebê-la como multicolorida – mas ela também harmoniza com as tradicionais qualidades tripartidas que encontramos na África, onde ela é vermelha, branca e preta, tipificando as manifestações femininas extremas. Ela não é somente Santa Tereza de Jesus, mas igualmente Santa Teresa de Ávila. Ela é a fortaleza da morte – e a morte é a soma coletiva da sabedoria ancestral –, aqui ela concede o dom da iluminação na escuridão.

Palo Mayombe

 

Outros simbolismos também e envolvem a Centella , tal como a tempestade, que para as crenças africanas trata-se de um sinal da presença de ancestrais, concedendo a iluminação na escuridão. Seu pai e consorte também é o senhor da terra, conhecido como Táata Mvúmbi, é responsável pela ressurreição da carne, o que levou a sua sincretização com São Lázaro.

Ele é igualmente responsável por guiar as almas e trazer a paz noturna que muitos experimentam no dia-a-dia. Sendo, inclusive, o cemitério este ambiente de tranquilidade, passagem e reverência à morte. Os simbolismos que o envolvem são principalmente cães e urubus.

O urubu é observador, e também o poder altruísta que transforma a vida em terra e permite que surja uma nova vida. Ele é o cristal e todas as árvores chorosas, o véu o caixão. Águas lustrais de vários tipos devem ser preparadas e o sol e a lua devem ser unidos sobre o crânio dele. Como tal, ele é o roseirol de dor e beleza – o jardim de prazer somente alcançado através da morte.

Palo Mayombe

Em Palo Mayombe o leitor não apenas encontra informações a respeito da história e dos cultos, mas tem acesso a informações detalhadas contendo as estruturas de cerimônias litúrgicas, bem como as firmas, mambos, orações, etc, seus significados e importâncias dentro de um ritual. Nele há a presença de vários mistérios revelados e suas relações com outros cultos e entidades.

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