O feriado chegou e muita gente vai compartilhar aquele meme comparando coelho com Jesus Cristo, disseminando a falsa informação de que esvaziamos a páscoa de seu real significado, uma vez que nos importamos mais com chocolates do que com a ressurreição de Cristo Salvador. Este post tem dois propósitos: informar você e te dar a munição necessária para que você compartilhe novas noções com aquele parente implicante.
Existem muitas simbologias envolvendo o termo páscoa. De um lado, temos a celebração judáica, anterior a Cristo, também conhecida como Pessach. O objetivo é celebrar a libertação do povo judeu que estava sendo escravizado no Egito, inclusive tendo bebês judeus exterminados. Conta a lenda que Moisés teria libertado seu povo. A celebração seria um agradecimento à suposta bondade divina e uma reafirmação do laço entre o povo judeu e Deus.
O que hoje chamamos de “Sexta-Feira da Paixão” era celebrado sempre na primeira lua cheia da primavera, segundo a roda do ano no hemisfério norte. No Brasil, corresponde à primeira lua cheia do Outono, uma vez que estamos no hemisfério Sul.
Todas essas regras foram decretadas em 1582 pelo Papa Gregório XIII, responsável pela criação do calendário que usamos hoje, o Calendário Gregoriano.
A Semana Santa começa no Domingo de Ramos, quando Jesus teria sido exaltado, tem o feriado decretado na Sexta-Feira, dia em que por algum motivo os cristãos celebram a morte de Jesus na cruz. Ou melhor, celebrar não é bem a palavra correta. Eles se recordam deste fato, o que faz com que alguns se abstenham de comer carne em memória de seu salvador crucificado.
Aqui, honestamente, me falta um pouco de sensibilidade para compreender bem. Pois, na prática, muitos celebram sim o dia sem trabalhar, aproveitam o feriado para preparar o famoso bacalhau e aquecer o mercado para o Seu Antônio da peixaria. O mais estranho da celebração cristã da Páscoa é a ideia de que cada ano Jesus teria morrido num dia diferente, uma vez que a data depende da lua.
Celebrar a lua cheia é um ato repleto de simbolismo, porém também muito prático. Sem as regalias da energia elétrica, era preferível esperar a luz refletida pela lua atingir seu total esplendor, assim aproveitar-se-ia toda a noite com o reflexo do astro. Digo isso porque é sempre bom lembrar que a lua é um astro iluminado, pois ela reflete a luz solar, e não produz a própria, atuando como um imenso espelho sobre nós.
Ostara
Mas então o que o coelho tem a ver com o povo judeu ser libertado do egito, ou a ressurreição de Jesus Cristo? Pois é. Milênios depois, o que realmente sobra para a conta da maioria dos brasileiros são os ovos de páscoa a preços exorbitantes, ovos estes que têm a ver com o mito da Deusa Ostara.
A maioria ainda acha que Jesus veio antes do coelho. A verdade é que o coelho veio antes de Jesus no mito pagão de Ostara (mais tarde transformado em páscoa). Gente que fica enchendo a nossa timeline reclamando dos coelhinhos: apenas parem. A simbologia dos coelhos é tão importante quanto a de Jesus. Foi o capitalismo que transformou o mito maravilhoso em compras, quando o correto seria cada um decorar seus os ovos e trocarem entre si.
O costume de se procurar os ovos de Páscoa no jardim também estaria baseado na crença dos germanos e de outros povos antigos de que o ovo é o símbolo da fertilidade e da nova vida em crescimento. Já o coelho, símbolo de fertilidade na mitologia grega, só é conhecido como “coelho da Páscoa” no norte da Alemanha há cerca de cem anos. No entanto, o coelho é o animal sagrado atribuído tanto a Afrodite, a deusa do amor dos romanos, como a Ostara.
No sul, conhece-se há mais tempo a lenda dos ovos trazidos pelo coelho da Páscoa. Em suas pesquisas, o catedrático de Medicina de Heidelberg Georg Franck von Franckenau encontrou registros que documentam a lenda. Os mais antigos são de 1678. O hábito teria surgido, segundo Franckenau, há mais de 300 anos na Alsácia (França), no Palatinado e no Alto Reno (Alemanha).
Como os lépidos coelhos e lebres se multiplicam na primavera – a Páscoa cai na primavera no Hemisfério Norte – os padrinhos teriam inventado uma caçada ao coelho, na qual as crianças encontravam os ovos coloridos escondidos nos parques e jardins.
Seja lá qual for a sua crença. lembre-se, é sempre bom esperar o feriado passar para comprar chocolate.