É comum opinarem que não se deve misturar política com Caos. Os que repetem isso não conhecem a obra de Peter Carroll. Além do trabalho de Hakim Bey a respeito do tema, que já discutimos aqui, é importante ressaltarmos a opinião de um dos fundadores da prática caótica. Carroll dedicou seis capítulos sobre política em seu livro Psyber Magick – ideias avançadas em Magia do Caos.
Ninguém que desja poder político deveria tê-lo.
Peter Carroll
Ele começa fazendo uma análise sobre a conjuntura política. Qual é o problema? Em primeiro lugar, o fato de que precisamos delegar a responsabilidade política a um governo, pois temos outras funções a cumprir. Não seria viável que todas as pessoas da sociedade participassem ativamente da política. Sabemos disso no dia-a-dia, em que mal nos sobra tempo para acompanhar as notícias.
Muitos mal se lembram em que candidatos votaram, não acompanham o que fazem, pouco sabem sobre a decisão que são tomadas e que interferem diretamente na vida coletiva. Para Carroll, os políticos apenas desejam manter o status quo, enquanto os partidos delegam poder àqueles que agem como monarcas, o que gera uma série de disputas internas.
Tendo tudo isso em consideração, Carroll afirma que deveríamos ter mais fé no processo estocástico, ou seja, aquele baseado em probabilidade. Deveríamos, portanto, considerar a Caocracia. Neste sistema, haveria representantes proporcionalmente para todos os sexos e idades e eles deveriam ser eleitos por meios randômicos, ou seja, pelo Caos.
Haveria um assistência civil para assessorá-los, bem como um salário que os colocaria contra a corrupção. A Caocracia seria ideal porque iria acabar com conflitos de partidos políticos e suas ideologias, acabaria também com a mentira que é o processo eleitoral. Para Carroll, os governantes devem debater em público, mas o voto permanecer secreto.
Assim, não haveria uma pessoa apenas a frente do governo, mas sim o resultado do que foi votado por eles, sendo que eles mesmos chegaram ao poder de forma totalmente randômica, assim como acontece quando se escolhem o juri civil.
Tetragrammaton Illuminati
Em tetragrammaton illuminati, a Lei (Lawful) representa o status quo, a ordem e a tradição. O Caos (Chaotic) representa a inovação e a neofilia (amor pelo novo). O Nice representaria o altruísmo e o Nasty um caminho estreito. É comum, mesmo nos meios ocultistas, pessoas seguirem muito mais os quadrantes jehóvicos e crísticos que os satânicos e luciferianos.
Para Carroll, os sistemas crísticos e satânicos são facilmente controlados pelo jehóvicos, deixando apenas o sistema luciferiano como resposta de caos criativo. Ele recomenda que se empurre as fronteiras, para que a liberdade de hoje não se transforme na opressão de amanhã.
É curioso, entretanto, como no capítulo seguinte ele aborda a questão contida na conhecida frase “Liberdade, igualdade e fraternidade”. Ele chega à conclusão que igualdade de oportunidades leva a vibrante e a meritocracia caótica. A parte interessante nisso é justamente que tal meritocracia seria, de certa forma, criada pelo sistema randômico. Este, por sua vez, deveria construir uma política voltada para a igualdade.
A ideia política de Carroll, portanto, é explorar o Caos para além de seu limite. Ele critica o consumismo exacerbado, bem como junk food e junk religions, bem como as ameaças ecológicas que estamos enfrentando. Para ele, apenas pelo Caos, pela opção randômica e a construção de um mundo mais igualitário é que alcançaremos a verdadeira meritocracia.