Por Filipe Dulce
A Magia no Mundo da Informação
Muitas informações estão espalhadas pelo mundo moderno. Na rede, observarmos milhares de textos, opiniões, comentários, citações e uma infindável gama de palavras sobre Magia – e tudo envolvido por ela. Vemos centenas de perfis de anônimos que se dizem bruxas, ocultistas, membros de ordem, thelemitas, caóticos, etc, etc, etc… Há também de celebridades do pop, rock, blues, artistas e diretores que declaram solenemente pertencerem e se dedicarem à Magia. Trocando em miúdos, parece que não há mais mistério no ocultismo, nas práticas outrora consideradas proibidas. Em verdade, existe até o termo pop magick. Linguagens, traduções e contextos. Qual seria a tradução de pop magick? Mágica popular? Ou mágica popularizada? Ou mesmo, para os elitistas, mágica vulgar?
Saindo das Trevas?
Finalmente! A Magia passou das trevas para a luz! Ou será que não é bem assim? Observamos, ao longo dos anos – na verdade, séculos; ou, por que não, milênios! –, a Magia passando por grandes mudanças em seus paradigmas. Isso vale para seus ritos, usos, atribuições e até seus praticantes. Em um momento, ela foi exclusividade de Sacerdotes e Reis; em outro, estava ligada a um submundo habitado por marginais, enxotados dos cânones do correto e moral. Nessas mudanças transcorridas ao longo da História, para o bem de uns e o mal de outros, a Magia deixou marcas no gênio humano, através da Arte, da Filosofia, da Ciência e do Espiritual. Monumentos foram erguidos, civilizações foram desenvolvidas, surgiram medicinas, avanços tecnológicos, contribuições morais e éticas. Surgiram deuses, demônios e uma infinidade de figuras habitantes de um mundo imaginário, ligados e influenciando o mundo que habitamos.
Materializando Ideias
Mesmo num mundo de extrema tecnologia e conquistas materiais, o termo Magia persiste. Aliás, ele dá vida a muitas indagações acerca da realidade deste “novo mundo” e de suas ferramentas. Seriam coisas científicas, como a própria Internet, a energia elétrica, as pesquisas nos campos da Física de ponta, entre outras “aparições” do mundo moderno, também obras da Magia? Existem por aí indagações interessantes…
Carl Sagan, em seu Dragões do Éden, nos mostra como nosso cérebro evolui em meio à Natureza. No entanto, esse cérebro, que vem evoluindo há milhões de anos, ainda nos traz catarses da Magia, da inspiração e das criações humanas. A humanidade, no transcorrer de seu desenvolvimento, cada vez encontra novas formas para transformar o mundo. É assim que coisas que no passado só se podia imaginar se materializam nos dias de hoje. É assim que as loucuras das mentes mais brilhantes ganham forma – as invenções de Leonardo da Vinci, as equações enigmáticas de Pitágoras, as visões de São João e seus símbolos de um mundo pós-cristão…
A Guerra pela Psique Humana
Estaria também a Magia ligada à inteligência e à capacidade de manipulação de outros humanos, por meio de feitiços, poções ou mesmo propagandas, textos jornalísticos e currículos escolares? Haveria uma guerra “oculta”, uma disputa, travada segundo a segundo, não pela alma, mas pelo que deve ocupar as mentes das massas, dos indivíduos, em que e como eles devem acreditar? Retornamos, assim, ao inicio do texto. E algo perspicaz pode aflorar na mente de alguns mais atentos e “vivos”:
Sendo a Magia possuidora de tantos atributos caros ao poder humano, por que ela atualmente está espalhada aos quatro ventos, e não restrita a um grupo seleto?
Mas até mesmo as mentes mais astutas podem fazer perguntas erradas. E perguntas erradas levam, inexoravelmente, a respostas erradas. Perguntas movem a humanidade – ou, pelo menos, alguns humanos que, querendo ou não, se veem, em algum momento, arrastando uma multidão de pessoas atrás de si.
A Pergunta que não Quer Calar
Uma pergunta que todos os sábios, gênios, alquimistas e poetas já se fizeram é: “Quem sou?”. “Eu Sou Aquele que Sou”, responde Jeová ao Hierofante Moisés. Sem entrar em colossais questões teológicas, no entanto embebidos do espírito pós-moderno, pulsando certezas pré-históricas, é de que a resposta ouvida em seu interior, por seu daemon, é o Eu Sou, que Ele é Aquele que É! “Conhece a Ti mesmo! E conhecerá o Universo e os deuses!”. Esta resposta libertadora leva a uma nova percepção da existência.
Ei, parceiro! A partir desse instante, nada será mais o mesmo. A semente começa a germinar e lançar raízes nas profundezas da mente, no submundo nunca iluminado. No terreno fértil do inconsciente, a Voz, Daemon, Kia, a Magia se nutre. Nestas condições, essa Voz pode de fato crescer, fazendo suas raízes se fixarem dentro dos mais profundos Infernos, sua copa atingindo os mais elevados Céus. Não invertamos a árvore! Sob o solo, as folhas não poderão realizar a fotossíntese – e convenhamos: uma arvore de ponta-cabeça está fadada ao fracasso! Ressaltando: invertamos a cruz, não a árvore.
Regando a Árvore da Magia
A Magia, então, torna-se a árvore, a pulsão criadora de algo unificador, do mais profundo ao mais elevado! Ela é o equilíbrio, e é direito do Ser Humano cultivá-la! Isso se manifesta de incontáveis maneiras, nas inúmeras culturas humanas, ao longo do tempo e do espaço. Então o mundo atual, vivo com sua carga ancestral, que pulsa em cada gene humano, é o mais libertário em essência e pulsão. Tudo está ao alcance. Mesmo nas mais adversas probabilidades, tudo sempre está e esteve ao alcance de todos. Muitos morreram nas fogueiras das caças as bruxas e bruxos. Muitos judeus foram perseguidos. Muitos ciganos foram enxotados. Os derrotados também são sempre lembrados e reverenciados.
Agora, os judeus sobreviventes ao longo de todos os tempos, com sua astúcia e sabedoria, salvaram sua pele e legaram seus conhecimentos. Os ciganos, que de tão malvistos passavam a vista e a perna nos outros, seguem realizando seus intentos milenares. E as bruxas que não se queimaram metamorfosearam seus conhecimentos, ajudaram a semear novos terrenos, que abrigariam imensas árvores produtoras dos mais belos e simples frutos. Estes, sim, são nossos ancestrais.
A Magia é vitoriosa quando emerge de um coração corajoso e intuitivo! “Torna-te o que Tu És!”, nos ensinou Nietzsche; inspirado, como ele mesmo sempre gostou de frisar, pelo excelso Dionísio.
Cuidado Com o que Você Deseja…
Todos têm a oportunidade, dada pela Vida, de penetrar nos Arcanos. Os antigos, os habitantes das roças, os caipiras e serranos das Minas Gerais, que aprendiam a lidar com as forças misteriosas, fosse através de benzições ou feitiços, tinham a seguinte crença: tudo que você pensa pode ser ouvida somente por Deus. O estudante de Magia conhece este Deus como S.A.G., daemon, guia, ou como quiser chamar. No entanto, ainda segundo os antigos, tudo dito verbalmente pela pessoa, tudo que escapava de sua boca era passível de ser conhecido pelo Diabo.
Fica claro para quem coloca sentido em tais palavras um conceito prático: não se devia confiar a qualquer um os seus segredos, para não ser prejudicados por terceiros. No entanto, pela experiência, sabemos também que quando lançamos palavras ao vento, mesmo que ninguém esteja perto para ouvi-las, o resultado da realidade exterior é diverso dos momentos em que a forma-pensamento ainda estava em nossa mente. Talvez seja para isso que existem os Sigilos, para esquecermos dos desejos e confundirmos, com eles o Diabo, ou quem queira nos atrapalhar. (Cuidado com os contratos…)
Libertas Quæ Sera Tamen
Saibamos, então, como seguir. No meio de tanta informação, ajuda, recursos, técnicas, escolas, iniciações, feitiços, desejos, aprendamos de uma vez por todas a quem recorrer e o que fazer. Ser Mago é ansiar pela Liberdade acima de tudo. Conhecer nosso verdadeiro Mestre e Iniciador. Reconhecer nossa intuição acima de qualquer coisa. Compreender que todo estudo e livros são necessários, para trazer à tona aquilo que está dentro de nós. São as águas que regam nossa semente, trazendo vida à nossa árvore. Assim, conseguiremos cada vez mais Poder, Ousar, Querer e Calar. E assim nos tornamos a Magia!
Filipe Dulce é mineiro, tem 30 anos, é formado em História pela UFOP e leciona na rede estadual. Lê desde os 4 anos e produz literatura desde os 7. Hoje escreve contos fantásticos inspirados em Allan Poe e nas histórias que ouvia de sua avó. Sua avó, benzedeira, lhe transmitiu seus primeiros ensinamentos esotéricos. Sua prática mágica atual envolve uma mistura de elementos, que incluem caoismo, naturalismo, tradições familiares, regionais e um pouco de malandragem. Você pode segui-lo no Facebook clicando aqui.
Imagem por Jonathan C. Wheeler – usada sob a licença Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported.