Magia do Caos - Fácil de Aprender, Difícil de Dominar

Magia do Caos: Fácil de Aprender, Difícil de Dominar

Texto por Roberto Chagas

Eu acho que nada sintetiza melhor o aprendizado da Magia do Caos do que o aforismo “easy to learn and hard to master”, que em tradução livre significa “fácil de aprender, difícil de dominar”.

Preciso começar salientando que este texto reflete minha experiência e opinião pessoais. Sendo assim, sua experiência e a das outras pessoas podem ser diferentes, e não há nada de errado nisso.

Meu corpo, minhas crenças.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

A Popularização da Magia do Caos

Nos últimos tempos temos observado um crescimento no interesse por ocultismo e magia. Em especial, a prática da Magia do Caos tem crescido muito. O número de livros publicados é grande e grupos de internet abundam por aí. Também há vários PDFs milagrosos com traduções não-oficiais e a disseminação de intermináveis posts ensinando como embaralhar as letras e fazer um sigilo.

Essa exposição toda tem gerado praticantes dos mais diversos níveis e crenças, pois a abordagem básica (intento + sigilo + masturbação = resultado) caiu no gosto popular. É aparentemente fácil conseguir resultados, e os mais buscados são sexo, dinheiro e vingança (não necessariamente nessa ordem), conseguir emprego e passar em concurso público. Veja bem, não há aqui nenhuma crítica. Querer qualquer uma dessas coisas não é certo nem errado, e depende de crença individual e do que você busca com magia.

Mas essa aparente facilidade atraiu uma legião de praticantes que não entenderam o rolê, e tratam servidor coletivo com “senhor fulano, obrigado pelas benções, digo, resultados”. Trocou-se a crença, mas manteve-se o cabresto.

Minha intenção aqui é contar para vocês que Magia do Caos não se limita e nem deve se limitar a essa abordagem.

Não precisamos ir longe, nem muito a fundo para percebemos isso. Uma rápida olhada no índice do Liber Null e Psiconauta já esclareceria isso. Entre os temas estão gnose, invocação, evocação, augoiedes, feitiçaria, alfabeto do desejo e assim por diante. Caso contrário, três capítulos curtos resolveriam – sigilo, gnose ou como lançar sigilos e, por fim, como usar servidores coletivos. Aliás, esse último se resumiria a “acenda uma vela e faça o seu pedido”.

Bom, vamos voltar um pouco no tempo.

Nos Tempos da Golden Dawn

No século XIX, tivemos um grande expoente esotérico. Refiro-me a uma ordem sobre a qual muitos de vocês já devem ter ouvido falar, que se chamava Golden Dawn. Essa ordem sintetizou grande parte do conhecimento oculto e magístico de sua época, dando origem a grandes adeptos. Estes, depois de muito estudar e praticar, após o fim da ordem, já no começo do século XX, originaram as mais diferentes abordagens de magia. Algumas mais óbvias e ligadas à tradição; outras nem tanto. Entre esses adeptos, temos alguns nomes que você já deve ter ouvido: MacGregor Mathers, que traduziu a Clavícula de Salomão; Dion Fortune e seus clássicos Autodefesa Psíquica e A Cabala Mística; Aleister Crowley, que desenvolveu Thelema e escreveu dezenas de libri; e até Austin Osman Spare, que criou as base do que hoje conhecemos como Magia do Caos. Fim da lição de história.

O Que os Adeptos da Golden Dawn Tinham em Comum

Alguns outros adeptos não foram mencionados acima, mas você reparou o que eles tinham em comum? Muito estudo e prática, para somente então darem sua própria interpretação da magia. Veja bem, não estou dizendo que você não deve fazer sigilos e carregá-los com energia sexual, nem usar servidores coletivos de pessoas que vocês confiem. Só não se limitem a isso. A Magia do Caos tem muito mais para oferecer.

Quantas vezes você praticou Magia do Caos para iluminação? Não estou falando de lançar sigilo para alguém trocar a lâmpada do seu quarto.

Quantas vezes você usou Magia do Caos para metamorfose? Não estou falando de virar um Power Ranger!

Você já usou Magia do Caos para mudar um pequeno hábito que incomoda?

Os maiores resultados que você vai obter com a magia são sobre você mesmo e sua percepção do mundo, sua realidade.

Diferentes Abordagens Para um Mesmo Problema

Pense na seguinte situação hipotética: Você está desempregado e quer um emprego. Qual seria a solução?

Resposta fácil:

  1. Faça um sigilo para obter o emprego;
  2. Acenda vela para o servidor abc.

Resposta interessante:

  1. Faça uma divinação através do oráculo que tiver mais afinidade. Precisa ser resolvido com magia? Quais são os possíveis resultados?
  2. Verifique se a vaga existe. Há alguma vaga específica para a qual você pretenda se candidatar? (Lembre-se, trabalhe em cima de algo possível.) Faça um sigilo para obter a vaga específica, ou semelhante.
  3. Quais são as características pessoais necessárias para obter a vaga? Vamos supor, para o nosso exemplo, que você tenha a formação adequada, mas é tímido e tem que passar por uma entrevista. Faça um encantamento para que tenha autoconfiança ou seja bem comunicativo. Ou, ainda, faça uma invocação de um arquétipo que possua essas mesmas características; use as cores da magia, faça magia laranja ou magia amarela.

Reparou? As ferramentas são praticamente as mesmas, mas a abordagem é totalmente diferente. Agora me diga: qual dessas abordagens você acredita que terá maior possibilidade de resultado positivo?

Grant Morrison que me desculpe, mas magia não é para todos.

 

Roberto Chagas estuda e pratica magia há seis anos, e há dois descobriu uma grande afinidade com a Magia do Caos.

 Magia do Caos - Fácil de Aprender, Difícil de Dominar

Arte: Danny Miki & John Romita, Jr.