Paul Carles, diretor, magista, músico e escritor francês teve recentemente seu livro O Chicote do Caos lançado em português. Ele não tem uma rotina e atualmente está fazendo o possível para terminar seu filme Gratitude. Também faz leituras de Tarot e cada semana tem mais e mais clientes nos cafés franceses. Neste ponto de sua vida, provou a si mesmo que é mais que capaz, concorreu em Sundance com o filme Wajma, An Afghan love story. O filme ganhou o prêmio para melhor Melhor Roteiro original. Depois trabalhou como um assistente diretor de Cruel, um filme de crime.
Acabou fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, sentindo-se fraco se não fizesse o suficiente. Em 2015, criou o projeto musical chamado Absalon em que poderia colocar todas as suas contradições, todos pesadelos, todos seus pensamentos.
Lua Valentia: Quando você começou a praticar Magia do Caos e como isso influencia sua arte?
Paul Carles: Não sei se realmente se eu pratico Magia do Caos. Eu pratico minha própria Magia que é uma mistura de Thelema porque eu fui espiritualmente criado com a obra de Crowley e Thelema. Uma mistura disso. Depois disso, descobri que Magia do Caos existe. Eu acho que a extensão natural de Thelema. Influencia minha arte de uma forma muito inconsciente. Por exemplo, eu entendo agora enquanto trabalho no Gratitude, que alguns símbolos no filme que eu nunca tive a intenção de colocar anos atrás quando eu filmava. Eu diria que é um trabalho muito complicado inconsciente, subconsciente até. Algo que você não pode realmente falar sobre.
Lua: Você dirigiu seu próprio filme: Gratitude. É um hipersigilo? Como foi o processo? Há referências Mágickas sobre as quais você poderia falar?
Paul: Gratitude é algo muito difícil de se explicar. É um filme que eu fiz sobre ódio. Sobre o que um ser humano pode fazer quando colocado no mais profundo ódio por algo ou alguém. E ele tem que lidar com diferentes ações em diferentes dimensões e linhas do tempo e ele tem que lidar consigo mesmo em idades diferentes da sua própria vida e entende as diferentes percepções de suas antigas ações em diferentes idades. É um filme muito metafórico e espiritual, com influências esotéricas. Começa como um filme comum, com uma linha de tempo regular e pessoas conversando e então se transforma em algo como o encontro com outras dimensões, um encontro com todas as coisas perdidas na alma. Gratitude não é um hipersigilo, é uma forma de fechar um capítulo da minha vida. Para fechar para sempre. Para dizer: “aquilo está acabado, essas memórias estão acabadas.” Então ir a festivais e obter reconhecimento pelo meu trabalho, eu não sei.
Espere, eu pensei sobre isso, é sim um hipersigilo. É um filme que eu fiz. E agora que vou projetá-lo na tela, é equivalente a um banimento então colocá-lo para fora no mundo, fora do meu inconsciente, pode ser percebido como um hipersigilo porque será carregado para as mentes da audiência, de todos os expectadores e isso é algo que me interessa também.
Gratidute é um filme que eu dirigi com o suporte de 50 pessoas e da minha cidade. Eu queria um tipo específico de luz, queria a luz fosse perfeita, que as cores fossem perfeitas, então eu coloquei muito tempo e dinheiro naquilo. Então eu dirigi a câmera, como deveria parecer, o que vai ser e a direção que eu queria.
Lua: Você também é músico e criou o Absalon. Você poderia contar mais sobre este projeto?
Paul: Absalon é um projeto feito tanto para agradar e incomodar o ouvido. É como o Bondage da música se você quiser uma comparação. É dominação com som, aceitação da dominação com som. Algumas vezes a música será agradável, outras será agressiva. E você precisa suportar. Isso é Absalon: suportar. Beleza e sofrimento.
Lua: Algumas de suas músicas são ótimas para estar em um estado de meditação e outras são barulhentas e desconfortáveis. Essas contradições estão em toda parte em sua arte. Você poderia nos dizer como o público reage à sua música? Será que isso interfere no processo de criação?
Paul: Contradições? Sim, contrastastes. Quebrar a roda: é isso que eu gosto de fazer. Eu vou construir algo que irá permanecer no tempo e depois destruo com algum outro som, algo diferente, um som que você nao poderia imaginar que fosse possível como música, mas se torna música por causa da vontade do artista.
Até mesmo meu filme Gratitude é baseado em confrontos, comparações, vai sempre para este lado, essa ideia de quebrar a roda, trocar de lado, de saber qual é o outro lado e de senti-lo.
Lua: Vamos falar sobre o seu último livro, O Chicote do Caos. Você escolheu os aforismos para falar sobre arte, filosofia e Mágicka. De alguma forma, senti que é semelhante ao trabalho de Nietzsche. Como o trabalho dele influenciou o seu?
Paul: É a única pessoa sobre a qual que eu poderia dizer que sou um estudante dela. Mesmo o trabalho de Crowley ou Spare, ou qualquer outro, ele é a única pessoa da qual fui um estudante. Eu o estudei mais do que estudei qualquer outro. Mas sobre feminilidade, ele era muito limitado porque não experienciou muitas mulheres em sua vida. A única que ele experimentou era uma obsessão e é diferente quando você experimenta várias obsessões, risos. Então ele não sabia o suficiente para falar sobre isso. Como um cara moderno, nós saberíamos muito mais, pelo menos na minha opinião e experiência. E como eu estou magicalmente envolvido com Vênus e com a Árvore da Vida, cuja a minha sephiroth de escolha é NETZACH, eu adoro Vênus no dia-a-dia e estou envolvido com Lilith na adoração. É claro que essa feminilidade, não a pura, mas a duradoura e extendida femilidade. É completamente sagrada para mim pois representa tudo que eu amo na Magia Sexual, no sexo no geral. Eu sei que Nietzsche não falou muito de religião, mas acho que o meu tipo de crença, de espiritualidade, meu tipo de religião é exatamente o que ele valoriza como um filósofo. Então é a coerência entre a realidade e o pensamento. A opinião de Nietzsche sobre Vontade e a opinião de Crowley sobre a Verdadeira Vontade, Nietzsche é tipo um precursor de Crowley. Envolve Vontade de uma maneira mágicka mesmo que ele não soubesse disso, é um ato de Magia enquanto escrevia Zaratustra, mesmo que ele não soubesse disso.