Frater Optimus e o Carnaval

Frater Optimus e o Carnaval

Frater Optimus

Frater Optimus é um estudioso e praticante do ocultismo desde a época da fundação da Golden Dawn. Suas opiniões são frequentemente anacrônicas, e nem mesmo nós concordamos com tudo que ele diz, mas pode valer a pena (ou não!) ouvir seus resmungos, nem que seja para discordar. Na coluna desta semana, Frater Optimus fala sobre a festa favorita de 9 em cada 10 brasileiros: o Carnaval.

 

Antes de começar, um esclarecimento. Me deixaram na geladeira na semana passada, e não me deixaram fazer minha coluna. Foi até bom, eu estava precisando de um descanso. A princípio não entendi o motivo; agora ele já faz mais sentido. De qualquer forma, não foi problema de saúde, como alguns especularam. Eu estou forte como um touro. Mas bola para a frente, porque hoje é dia de falar do Carnaval.

Eu acho que é chover no molhado, mas vou dizer mesmo assim. O Carnaval não faz sentido nenhum – não do jeito como ele é comemorado hoje.

Como tudo que vem da igreja católica, o Carnaval é uma apropriação cultural – ou melhor, um conjunto de apropriações – de religiões e tradições pagãs. Não acreditem quando te disserem que ele tem qualquer coisa a ver com Jesus. Não tem. Jesus não apoiaria bundas balançando na Sapucaí, em nome do Seu Pai.

Não vou perder meu tempo (nem fazer você gastar o seu) dando lição de história aqui. Mas só para contextualizar, o Carnaval na verdade vem da Lupercalia, das Bacanais, da Festa de Ápis. A diferença é que a Lupercalia, por exemplo, era muito mais honesta em seus propósitos.

A justificativa oficial da Igreja para o Carnaval ser um período em que “vale tudo” é que ele antecede a Quaresma – um período em que os fiéis deveriam jejuar, se abster da carne (os dois tipos de carne), e orar com devoção. Então, antes de entrar nessa maluquice, nesse suicídio em suaves prestações anuais, os fiéis poderiam chafurdar por alguns dias em tudo que é considerado pecado. É quase como se permitir, moralmente, ir a uma churrascaria rodízio no domingo, antes de começar uma dieta na segunda-feira. Uma lógica maluca, é claro. Mas não é assim com toda a liturgia cristã?

Agora, caro leitor, cara leitora, fica o convite para uma reflexão. Você é, ou conhece bem, um muçulmano praticante? Se sim, você com certeza já viu essa pessoa praticando (de fato e de coração) o jejum do Ramadã. Considerando que você viva no Brasil, eu nem preciso perguntar se você conhece algum católico praticante. É óbvio que sim. Então reflita: você conhece alguém que de fato segue as observâncias restritivas da Quaresma?

Provavelmente não.

E se você não pretende jejuar, se abster, orar, refletir, etc., durante a Quaresma, pergunto: por que causa, motivo, razão ou circunstância você acha que faz sentido comemorar o Carnaval? É a mesma coisa que ir à churrascaria rodízio no domingo e nunca começar a dieta de segunda-feira. E depois reclamar que não para de engordar. Ora, faça-me o favor…

Para mim, isso é sintomático da mania de manter tradições só porque sim. O mesmo acontece com o Natal, por exemplo. Ninguém lembra de Jesus no Natal. Natal virou uma celebração do Culto ao Papai Noel da Coca Cola. Para mim, isso não é nada cristão – na verdade, é paganismo da pior espécie.

Voltando à vaca fria: por que a Igreja mantém o Carnaval no calendário de comemorações se ninguém mais comemora a Quaresma? Alguns países católicos já suspenderam essa maluquice. Mas aqui na nossa república de bananas, na terra do oba-oba, duvido que isso venha a acontecer. O país vai acabar antes do carnaval.

Analisando friamente, o Carnaval só serve para atrapalhar a economia (muita gente acredita nessa imbecilidade de que “o ano só começa depois do carnaval”), e para me impedir de sair de casa tranquilamente, sem ser atropelado por turbas de foliões.

Se você é um desses pervertidos que de fato gosta de carnaval, e que chega ao ponto de comemorá-lo fora das datas prescritas – como parece ser a moda do momento, com essa montoeira infindável de “blocos” –, aqui vai meu recado para você.

Pode ir para o seu bloco, beber sua cerveja quente, mijar atrás do muro, ouvir música ruim, aumentar sua coleção de doenças venéreas, pode fazer tudo isso. Só não me venha com esse papo de que é uma festa cristã. Porque nunca foi, e hoje é menos ainda. Mas veja bem, não tem nada de errado em ir a uma churrascaria rodízio – na verdade, isso é ótimo! Só não adianta depois reclamar que não consegue emagrecer.

Frater Optimus e o Carnaval

Imagens: Ntanos

Texto originalmente publicado no site do Magic(k)ando