Babalon por Babalon: a mulher Escarlate numa visão feminina

Maria de Naglowska é a Babalon central, porém esquecida, principalmente entre os brasileiros. Estamos acostumados com textos escritos por místicos homens a respeito da Mulher Escarlate, mas temos pouco conteúdo de autoria feminina em comparação. Maria, jornalista, escritora, alta sacerdotisa, lançou vários livros de temática sexual na França, durante os anos 30.

Ela criou seu próprio sistema religioso, em que considerava o sexo como peça central para elevação da humanidade. O grupo mágico criado por ela, La confrerie de la Fleche d’Or (A Irmandade da Seta Dourada), fazia práticas eróticas complexas, envolvendo privação sensorial. Maria deu várias conferências em Paris sobre Magia Sexual.

Também foi a responsável por traduzir Magia Sexualis de P. B. Randolph, clássico texto ocultista. Criou o jornal La Fleché, e mais tarde escreveu Initiatic Eroticism: and Other Occult Writings from La Flèche (versão em inglês traduzida por Donald Traxler). Vários de seus livros retratavam o tema em profundidade, desde o básico sobre o sexo, como o The Light of Sex: Initiation, Magic, and Sacrament até o mais avançado como Advanced Sex Magic: The Hanging Mystery Initiation. 

Seu incansável trabalho como sacerdotisa e mística, porém ignorada em inúmeros países: este fato traz o tema para nova óptica. É interessante notar, nas obras de Maria, como ela enxerga o papel da alta sacerdotisa: aquela não casada, que não pertence a homem algum, e que, portanto, consegue controlar a própria vida.

Estimular a nossa própria animalidade para a dominar, conhecendo precisamente o seu poder. O seu poder animal, o poder sublime que não se esqueceu e que permanece intacto nos subterrâneos reptilários do nosso cérebro, que deseja obsessivamente a procriação, o acasalamento. É exaltar a Besta e domá-la conscientemente, direcioná-la para propósitos superiores ou mesmo utilitários. Cavalgar o corcel divino é recalcar voluntariamente a excitação inata e através do trabalho mágico específico da Tradição, caminhar para atingir a iluminação espiritual.

(La flèche nº9 1932)

Para ela, o trabalho da Babalon não é necessariamente amar ou adorar seu parceiro, mas sim ter com ele o coito para alcançar objetivos mágicos. A devoção, no caso, é puramente religiosa. Sendo o sexo um ato religioso em si mesmo e, muitas vezes, um sacrifício pessoal da mulher.

Outra curiosidade a ser assinalada é que Maria considerava Lúcifer como uma pulsão feminina, não uma entidade exterior per se. O satanismo, em essencial, seria feminino, e o conhecimento pertencente à mulher. A sacerdotisa é aquela que escolhe se quer repassá-lo adiante ou não. Ela é aquela que o controla.

É comum encontrar Babalons casadas com sacerdotes, a exemplo do que aconteceu com as Mulheres Escarlates de Aleister Crowley. Elas têm acesso privilegiado aos grupos ocultistas criados por… homens. Porém, na prática, não vemos mulheres livres como fazem supor.

EXPERIMENTE! Para iluminar o orgasmo sob a vontade, não a caverna negra, mas o ápice luminoso da fêmea dada sem seus sentidos, por meio dessa operação diabólica.
Uma vez que está escrito no livro de estudos:
“NÃO DEVE PERMITIR A FORÇA SAGRADA PARA CRISTALIZAR EM LÍQUIDO MORTAL”

Tradução livre de The Grimoire of Maria de Naglowska
Por Robert North

São mulheres controladas por seus sacerdotes, muitas das quais submissas às mais variadas punições. Mulheres que reproduzem máximas ultrapassadas como as de que durante a menstruação, a mulher não deve fazer nada. Mulheres que deixam de falar com seus amigos a mando do marido. E ainda sim são louvadas como Babalon, talvez por outras iludidas.

A Babalon de Maria é de fato aquela que não pertence a ninguém, mas a todos aqueles capazes de verdadeiramente contribuir para a Grande Obra da sacerdotisa.