Maldições: quando você transborda e precisa acertar o alvo

Você tem medo de acender uma simples vela preta? Tem medo de fazer uma maldição e ser punido por isso? Vamos direto ao ponto: dizem que pecar significa errar o alvo. Quando você faz uma maldição para alguém, o seu objetivo é justamente acertar este alvo custe o que custar. Portanto, podemos chegar à conclusão de que maldição não é pecado, mas sim uma bênção. Sofismo à parte, a visão dualista e moralista não nos apetece enquanto bruxas e magos. Estamos além destas questões.

Sempre me perguntam se é saudável ou não lançar uma maldição. Imagine a cena. O sujeito está lá: tremendo de ódio. Ele olha para a vela preta. Solta um palavrão. Mas ele é incapaz de ir muito além disso. Por quê? Medo da retaliação do além. O que ele não sabe é o que um simples palavrão pode ser considerado uma maldição, dependendo da intensidade com que é proferido.

Vejo muitos magos completamente submissos aos seus mestres, deuses e oráculos. São incapazes de bater no peito, testar as habilidades e aceitar as consequências. Eles querem receber ordens até mesmo de servidores. Muitos temem dar o próximo passo e fazer aquilo que sua alma implora para ser feito. Lei do retorno, lei do karma, lei da consequência. Sempre colocam uma série de leis no meu colo na tentativa de me impedir falar sobre o assunto. Maldição é tanto tabu que eu preciso escolher a dedo o momento mais adequado para trazer isso à tona. 

Este medo intrínseco de certos magistas é uma qualidade muito brasileira. Creio que isso acontece em parte  por conta da nossa herança kardecista. O Brasil foi escolhido para sediar o evangelho segundo o espiritismo. Muitos magistas ainda estão ligados nesses conceitos dualistas como “luz x trevas”, “pensamento denso x elevado”. Trocamos o inferno pelo umbral. Temos a obrigação de termos pensamentos felizes e encantados o tempo inteiro.

A vida, porém, não é feita apenas de momentos felizes e saudáveis. Somos de carne e osso. Estamos abertos a emoções fortes e toda sorte de perigos. Aliás, esta questão moral que fere muitos carneirinhos foi posta em choque hoje quando eu partilhei um print de um cara perguntando qual a melhor forma de bater em uma mulher sem deixar marcas:

 

Não sei quanto a você, mas este post revoltou muita gente. E se você já foi vítima de violência doméstica, é possível que tenha se revoltado ainda mais. Veja bem, o cara queria métodos para bater e se livrar disso caso fosse denunciado. E isso se repete com golpistas, estupradores, assassinos etc. Todos querem um método simples e prático de continuarem com seus crimes e não serem punidos por isso.

A questão é: você vai esperar a justiça brasileira te ajudar e comer um pedaço da pizza da impunidade? Vai esperar a outra vida chegar para analisar a justiça divina? Ou então vai fazer algo construtivo com este sentimento de ódio e de vingança que existe dentro de você? De fato, é escolha ou não do magista dar a outra face quando ferido. Ou simplesmente se afastar cambaleando, chorando e esperando pela justiça divina.

Ou então, caso queira ser um caote, o magista pode olhar para os milhares de sistemas disponíveis e escolher aquele que mais apetece como forma de catarse da sua raiva. É por isso que eu sou simplesmente apaixonada pelo livro Bruxaria Apocalítica. Porque ele não expressa o sentimento de inferioridade, passividade ou algo do tipo. Ele inspira o confronto.

Então, antes de decidir completamente se você se nega completamente a fazer maldições pense comigo:

1 – A maldição que você quer fazer é um mero capricho seu?
2 – Você quer jogar uma maldição em alguém por pura inveja?
3 – A maldição que você quer jogar pode ajudar o outro a evoluir como pessoa?
4 – Sua maldição é vingança ou você está dando o primeiro passo?

Analise se você é aquele que quer destruir algo ou alguém gratuitamente ou aquele que simplesmente está lutando pelos seus direitos.

A maldição é justamente a canalização do seu sentimento de raiva, ódio, angústia num confronto divino. A questão não é se você vai sofrer por isso. A questão é se você já está sofrendo agora e deseja permanecer num estado de conforto. A questão não é se você vai sofrer retaliação divina por isso, mas se você está disposto, pela sua honra, a lutar pelos seus direitos.

Texto por Lua Valentia