Uma das poucas questões que provavelmente nunca terão resposta definitiva é o que acontece quando nós morremos. As luzes se apagam, e acabou? Céu e Inferno para todo o sempre? Viramos fantasmas? Reencarnamos? A consciência ou energia se dissipa aos poucos? Todas as alternativas? Nenhuma das alternativas? É difícil responder. As experiências de quase morte (EQMs) nos dão algumas pistas, mas a maioria das vidas termina sem passar por uma experiência como essa. E é claro que alguns intrépidos magistas e psiconautas tentam ativamente chegar a esse estado, de forma relativamente segura, com a intenção de simplesmente explorar ou para se prepararem para o momento em que as cortinas finalmente se fecham.
Quem é você?
O primeiro passo para descobrir o que acontece quando você morre é saber quem é você.
Você é o conjunto das suas experiências, memórias e opiniões, em constante mutação? Se for assim, você morre a todo momento, e renasce imediatamente depois, em uma manifestação levemente diferente. A morte no sentido biológico, portanto, seria apenas o momento em que os renascimentos parariam de acontecer.
Se você é sua alma, e só está habitando esse corpo físico, sua alma é imortal? Ou vai se dissipar quando o corpo se for?
Peter Carroll apresenta uma visão que é compartilhada por diversos magistas contemporâneos: de que você é composto por um corpo físico, um corpo etéreo e Kia. A morte do corpo físico, portanto, acarreta a degradação do corpo etéreo (também conhecido como alma). Finalmente, resta o Kia, cujo destino é menos simples:
O Kia é destinado a ser reabsorvido pela reserva de força vital deste mundo, que se faz conhecer a nós como Baphomet. Para o místico, essa experiência é a União com Deus. Para o feiticeiro, é ser Devorado pelo Diabo, e ele busca deliberadamente evitar que isso ocorra. O magista, por outro lado, pode decidir se deseja preservar sua consciência individual ou não.
Peter J. Carroll – Liber Null e Psiconauta, p. 154
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Experiências de Quase Morte e a Dissolução do “Eu”
Experiências de Quase Morte não são um fenômeno místico ou esotérico. São um fato amplamente estudado pela ciência. Há inúmeros relatos e estudos sobre essa experiência. Quase metade das pessoas que quase morrem passam pelo que é comumente chamado de experiência de quase morte, ou EQM. Mas o que são, afinal, essas experiências?
EQMs acontecem quando as pessoas passam muito perto da morte. Não depende de crença, é um fenômeno que acontece na química cerebral quando as funções vitais chegam muito perto de se interromperem para sempre. Normalmente, quando a pessoa volta à consciência normal, relata uma série de sensações e visões. O famoso túnel com uma luz, memórias da vida passando como um filme em uma fração de segundo, experiências fora do corpo, percepção extra-sensorial, uma união inexplicável com o universo. A cultura da pessoa adiciona alguns outros detalhes: anjos, Deus, etc. Mas a essência é a mesma para todos.
Essas experiências têm a ver com a variação na absorção da substância NDMA no cérebro durante o período de quase morte. É, portanto, um fenômeno fundamentalmente químico. E que, portanto, pode ser replicado em condições controladas (ou quase).
Simulando EQMs com Quimiognose
É claro que algo tão fascinante como a morte não poderia passar sem ser explorado pelos magistas mais ousados. Andando lado a lado com a ciência secular, diversos magistas contemporâneos buscam entender os mecanismos das EQMs para entender como replicá-los artificialmente. Sem precisar, é claro, se colocar em situações de risco extremo.
A forma mais fácil e segura (mas certamente não a única) de realizar estas simulações é através de quimiognose – o uso mágico de drogas para forçar uma alteração da consciência.
É importante ressaltar que o uso mágico de drogas é potencialmente ilegal e obviamente perigoso. Não incentivamos nem estimulamos estas práticas. Só estamos descrevendo-as a título de curiosidade.
Entre as substâncias capazes de alterar a absorção de NDMA (não confundir com MDMA!), simulando uma EQM, estão o DMT, a cetamina e o óxido nitroso. É claro que diversos outros fatores que constituem uma EQM completa e real – tensão arterial, glicemia, etc. – não são tão afetados pelo consumo dessas substâncias, o que faz com que a EQM não seja replicada com exatidão. Mas talvez o uso dessas substâncias seja a forma mais fácil de experimentar o que há do outro lado, e voltar para contar a história.
Mas por que alguém se submeteria de livre e espontânea vontade a uma EQM, colocando sua saúde e sua sanidade em risco?
Treinando para o Abraço de Saturno
Além das razões óbvias para experimentar uma EQM, como por exemplo a curiosidade mórbida, há um bom motivo para se submeter a esse risco. Treinar.
A morte biológica, ao contrário do que muitos acreditam, não ocorre instantaneamente. O cérebro vai desligando aos poucos, e a consciência provavelmente viaja por uma série de estados alterados antes de se apagar por completo. Experimentar EQMs em ambientes controlados é, portanto, uma forma de se acostumar com a sensação da morte, antes da morte chegar para valer.
Talvez não haja um depois, pois estamos mortos; nossa narrativa se encerra nesta última experiência eterna, talvez do céu ou do inferno. Estar aberto para esta experiência, e tê-la praticado magickamente, pode significar a diferença entre qual reino habitaremos subjetivamente pela eternidade no pós-vida.
Julian Vayne & Nikki Wyrd – O Livro de Baphomet, p. 144
A prática mágica de simular a morte é, portanto, uma forma de se preparar conscientemente para o dia em que a morte biológica chegará.
Ter a consciência absorvida pela força vital do Universo? Manter a coesão da individualidade? Buscar reencarnação? Céu, inferno? Todas essas são escolhas para o magista. E pode ser que o magista experiente, mais do que acostumado com estados alterados de consciência, consiga exatamente o que ele busca, em sua primeira e última tentativa. Mas a prática mágica de EQMs parece ser uma boa forma de garantir o resultado desejado nesse último e mais sublime ato mágico, que todos nós realizaremos um dia.
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Liber Null e Psiconauta – Peter J. Carroll
O Livro de Baphomet – Julian Vayne e Nikki Wyrd