Frater Optimus, nosso colunista, é um mago das antigas, e não tem muita paciência para o que ele chama de “modernidades” (qualquer coisa surgida depois de 1950). Suas opiniões nem sempre são muito fáceis de engolir, mas mesmo que você não concorde com ele, vale a pena ler e refletir.
Nessa semana, Frater Optimus expõe sua visão sobre os extraterrestres no ocultismo!
Era só o que me faltava. Eu pensava que esse assunto estava morto e enterrado, mas não. Pensava que essa ideia toda tinha evaporado, junto com os cérebros dos hippies que falavam disso um tempo atrás. Mas essa história do tal “menino do Acre” (aliás, que nome ridículo!) trouxe de volta o tema da ligação entre extraterrestres e o ocultismo. E me pediram para dizer qual é a minha opinião. Eu nem deveria perder meu tempo com essas obviedades, mas não consigo me segurar.
O conhecimento oculto sempre considerou a existência de outras inteligências. Deuses, espíritos, anjos, demônios, elementais, gênios; chame como quiser. Essas sempre foram inteligências diferentes das nossas. Não necessariamente superiores, veja bem, mas sempre diferentes.
Vamos ver o que o pai dos burros nos diz sobre o verbete alienígena.
alienígena
a·li·e·ní·ge·na
adj sm+f
Que ou aquele que é de outro país; estrangeiro; forasteiro.Dicionário Michaelis
Não que eu ache que essa gente ignorante tenha o hábito de consultar o dicionário, mas fica fácil, lendo essa definição, entender de onde vem a confusão. Se alienígena é algo ou alguém que vem de fora, é fácil confundir as coisas. Essas inteligências diferentes podem ser facilmente confundidas com alienígenas. Para mim é uma ideia errada, mas é uma confusão compreensível.
O próximo passo é confundir alienígena com extraterrestre – algo que vem de fora da terra. Repare que os termos não são sinônimos, e não devem ser confundidos. Não é só porque algo é diferente e você não o compreende que significa que é alienígena. Muito menos extraterrestre. Isso é forçar demais a barra. Chega a ser desonesto. Ou burro.
A confusão, caro leitor, é fruto de falta de dicionário. Pelo menos parcialmente.
Nos anos 1960, alguns ocultistas já vinham trabalhando com a hipótese de que as inteligências incompreensíveis e exteriores fossem de fato extraterrestres, e os hippies, cheios de tóxicos em suas cabeças ocas, já estavam vidrados no fenômeno OVNI; muitos deles estavam também metidos com esoterismo new age. Foram os primeiros esquisotéricos. Mas até aí tudo bem. Cada um estava na sua, ninguém atrapalhava ninguém. Acima de tudo, ninguém levava essa gente a sério.
Até que uma leva de embusteiros profissionais resolveu incentivar essa interpretação errada – seja para conquistar fama, destaque midiático, para vender livros, ou sei lá mais o que. Acho que o exemplo máximo dessa leva é Erich von Däniken, com seu deplorável clássico Eram os Deuses Astronautas?. Von Däniken não inventou nada, ele só deu voz ao zeitgeist esquisotérico e ufológico da época, e colocou uma porcaria de um título oportunista no seu livro. Até hoje tem gente que propaga as ideias imbecis do Sr. von Däniken, como aquele grego maluco do cabelo esquisito, que está sempre na televisão.
Tudo isso aí é relativamente fácil de entender. Problemas de interpretação de texto, drogas, sensacionalismo, aproveitadores. Tudo isso eu entendo, de coração, mesmo que não concorde. Mas tem coisas que eu simplesmente não consigo entender. Não consigo entender de onde vieram e, principalmente, não consigo entender como alguém leva isso a sério. Não consigo. Mesmo.
Por exemplo, existe uma lista interminável de raças extraterrestres catalogadas, sendo que algumas são boas e nos ajudam a evoluir espiritualmente, enquanto outras são más e só querem nos explorar. Ora, vamos lá! Por que alguém iria querer nos ajudar espiritualmente? E se alguém estivesse ajudando, você acha mesmo que o mundo estaria como está?
Outra coisa que não entendo é essa ideia de que os extraterrestres reptilianos têm relações com os Illuminati, e juntos eles determinam o destino da humanidade. Ah, eu não tenho mais paciência para essa palhaçada de Illuminati. Eles existiram, é claro, e tinham lá sua esfera de influência. Mas você acha mesmo que tem um grupinho de pessoas que comanda o mundo? Que idiotice…
Essa é uma das coisas mais ridículas de que eu já tive notícia: Ashtar Sheran é um extraterrestre loiro, de olhos verdes, lindo, que comanda um milhão de naves de guerra, e Jesus Cristo era seu contínuo. Se o camarada é um comandante de uma frota de guerra, como é que eu vou aceitar dele uma mensagem de paz e união? E supondo que houvesse várias raças extraterrestres, por que o bonzinho teria que ser o loirinho? Será que o ser humano levou a discriminação racial, que nós mesmos inventamos, até o espaço sideral?
Mas talvez a ideia mais absurda seja a de que há um planeta gigante, que por algum motivo nenhum astrônomo encontrou até agora, vindo em direção à Terra, e quando houver uma colisão, ela será catastrófica. O planeta muda de nome de acordo com o maluco que fala sobre ele: Planeta X, Hercólubus, Nibiru. Este planeta está em eterna rota de colisão com a terra, mas nunca chega. Não faz nem um mês desde a última não-colisão com Nibiru. A humanidade precisa evoluir espiritualmente para sair daqui antes da tragédia.
Isso, para mim, é tudo coisa de gente que quer se sentir especial. Ah, o extraterrestre me escolheu, mandou uma mensagem especial através de mim, eles querem que a humanidade atinja um próximo patamar, e eu serei o veículo dessa transformação. Ora, me poupe.
Algumas poucas pessoas, como é o caso de Kenneth Grant e de sua linhagem, que enxergam essa coisa da comunicação com extraterrestres visando a evolução da humanidade de uma forma um pouco diferente. (Repare que eu não estou isentando o Sr. Grant da acusação de maluquice – acho que ele era um maluco de pedra! Maluco, porém sério.)
Primeiro, nesse caso, o contato seria com inteligências extraterrestres; ou, como diz o próprio Grant, preter-humanas. Isso quer dizer que o contato não se dá no sentido literal, e que essa inteligência não é necessariamente um homenzinho verde, ou um loirão de olhos azuis, podendo ser qualquer coisa, inclusive coisa nenhuma.
Segundo, o objetivo dessas inteligências não é necessariamente a evolução espiritual da humanidade. É uma visão menos maniqueísta.
E terceiro, nessa visão, essas inteligências não escolhem pessoas aleatórias, donas de casa, caminhoneiros. As pessoas têm que se esforçar (e muito!) para conseguir estabelecer este contato.
Portanto, parte do conhecimento que nós temos hoje seria de origem extraterrestre. Um exemplo seria O Livro da Lei, que Aleister Crowley teria “recebido” de um ser conhecido como Aiwass. Olhando por este ângulo, Aiwass não seria o Sagrado Anjo Guardião, ou o “eu elevado” de Crowley. Em vez disso, seria uma inteligência extraterrestre (ou preter-humana). Faz um pouco mais de sentido, mas ainda não me convence.
Eu acredito que este contato é possível, mas estou mais inclinado a pensar em termos de inteligências, não necessariamente de seres. E definitivamente, não extraterrestres. Talvez nem alienígenas. Será que toda essa comunicação com supostos extraterrestres – assim como com deuses, demônios, espíritos, anjos, elementais, etc. – não é só coisa da nossa cabeça? Não me refiro a “coisa da nossa cabeça” no sentido pejorativo. Será que não são apenas manifestações de pedaços da nossa consciência aos quais nem sempre temos acesso? E que são tão estranhos que, para que possamos entendê-los, precisamos revesti-los de uma roupagem que consigamos compreender (deuses, anjos, homenzinhos verdes, tanto faz)?
Agora, pare para pensar. O que você acha mais provável: (1) viajantes intergalácticos em naves espaciais cintilantes; (2) consciências extraterrestres em contato com magistas, fazendo-se passar como entidades clássicas do ocultismo; ou (3) partes das nossas consciências, ou dos nossos subconscientes, que não conseguimos entender e revestimos de um simbolismo qualquer?
Para mim a terceira opção é, de longe, a mais viável. Eu entendo a confusão com a segunda opção, que é o caso de Grant e sua turma. Mas se você acha que a primeira é a correta, meu caro, minha sugestão é pegar o primeiro ônibus para São Thomé das Letras e passar uma temporada por lá tomando chá de cogumelo. Enquanto estiver lá, talvez você encontre, além de extraterrestres, alguns gnomos. E, se procurar o suficiente, talvez ache até o Menino do Acre. Eu, heim.
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