Nosso colunista Frater Optimus é um mago de outros tempos, e suas opiniões nem sempre estão de acordo com a realidade contemporânea. Mas mesmo que você não concorde com o que ele tem a dizer (ou com a forma como ele diz!), vale a pena ouvir a voz da experiência.
Nesta semana, Frater Optimus fala sobre as Ordens Iniciáticas que existem por aí hoje em dia!
Era só o que me faltava. Outro dia desses vieram me falar que agora tem por aí Maçonarias com 99 graus! E outras Maçonarias que aceitam homens e mulheres – que se dizem “Maçonarias Mistas”. Veja se tem cabimento uma coisa dessas! Depois que me falaram da existência dessas aberrações, eu fiquei aqui pensando com meus botões. E me pergunto se faz algum sentido, em pleno século XXI, com amplo acesso a informação e inúmeras opções para se escolher, o buscador do conhecimento se enfiar em uma furada desse tipo.
E, pensando, concluí o seguinte: algumas pessoas precisam de apoio para trilharem seus caminhos. Realmente, seguir esse caminho sozinho não é para qualquer um. Buscar uma ordem iniciática, um grupo de pessoas com aspirações, planos e caminhos similares não é problema nenhum. Acho até louvável. Mas se enfiar em furada sem necessidade… Para mim, isso é sinal simples e puro de burrice.
Mas como evitar entrar em furada?, você pode estar pensando. Não é fácil, eu sei. Às vezes a furada está bem escondida. Mas às vezes está lá, óbvia, sambando na sua cara, esperando mais um trouxa cair. Existem várias categorias de ordens iniciáticas que não servem em nada para ajudar no seu desenvolvimento pessoal, espiritual, mágico, etc. Vou falar de algumas dessas categorias (é claro que uma mesma ordem pode se enquadrar em mais de uma categoria – essas são as piores!):
Balcões de Negócios
Existe uma série de ditas “ordens” que na verdade são balcões de negócios, não muito diferentes dessas igrejas neopentecostais. Mas em vez de cobrarem dízimo, alegando uma obrigação cristã, arrecadam dinheiro por dois outros métodos: mensalidade e venda de iniciação.
A mensalidade eu consigo entender. Se a ordem tem uma sede física, e precisa pagar as contas, nada mais justo do que aqueles que usufruem da estrutura comunal partilharem também a responsabilidade de pagar por ela. Mas algumas mensalidades fogem completamente da realidade, podendo chegar a milhares de reais. Eu gostaria que isso não fosse verdade, mas é.
Já a venda de iniciações eu não consigo compreender. Primeira coisa: será que alguém acredita que ser iniciado em um novo grau traz iluminação automática? Que ao mudar o grau ocorre uma mudança de consciência? Que palhaçada… Em segundo lugar, tem ordens por aí que fazem a iniciação à distância (às vezes de outro país!), e cobram caro por isso! Às vezes o business de venda de graus e iniciações é tão gritante que algumas ordens aumentam a quantidade de graus para faturar mais. Se você discorda, me faça o favor de explicar por que uma ordem precisa ter 99 graus.
Antigas, Únicas e Exclusivas
Há ordens por aí que usam várias palavras para se destacar das demais: “antiga”, “única”, “autêntica”, “ancestral”, “primitiva”. Desconfie de todas estas.
Se fosse tão antiga, já teria acabado ou mudado de nome com o passar do tempo. Se fosse única, não precisava dizer isso. Se fosse ancestral, não seria chamada de “ancestral” desde seu princípio. Tudo isso é mentira. Abra o olho.
Há também as que não colocam nomes bonitos para se valorizarem, mas que abusam de uma fama estabelecida no imaginário popular. Os Illuminati, por exemplo. Me disseram que se procurar aí na Internet você encontra meia dúzia de “Ordens Illuminati”. Ora, faça-me o favor. Se esses pilantras ainda existem, você acha mesmo que eles estariam se anunciando na Internet, para todo mundo saber o que eles estão tramando? Que coisa ridícula…
Clubes Sociais
Várias ordens que já foram genuinamente mágicas no passado hoje em dia se tornaram apenas clubes sociais. Lugares onde respeitáveis senhores se reúnem para tomar seu guaraná e fazer seu churrasco. Incluo aqui a Maçonaria, até mesmo as sérias (que não são mistas nem têm 99 graus), que hoje em dia são praticamente a mesma coisa que um Rotary ou Lions Club. Se você está interessado em magia e no oculto, esse não é o lugar para você. Se está interessado em fazer amigos influentes, dependendo da loja, talvez seja.
E o pior. Algumas dessas ordens que operam como clubes sociais têm agendas políticas. E talvez essa não seja a mesma agenda de seus membros. Por exemplo, recentemente a Golden Dawn americana estava apoiando o tal Trump. E se um membro qualquer, que ingressou na ordem antes de Trump aparecer no campo da política, não for com a cara dele? Como fica? Hein?
As Ordens Inexistentes
Algumas ordens, ao meu ver, são grandes alucinações coletivas.
Talvez você pense, ué, mas se eu conheço alguns membros, como é possível que seja uma alucinação coletiva? Mas são, e eu explico por que.
Pense, por exemplo, na A∴A∴. Na estrutura dessa ordem, um membro só conhece o membro imediatamente acima de si na hierarquia (o membro que o instruiu), e os membros imediatamente abaixo (os membros instruídos por ele). Esse modelo causa uma espécie de miopia quanto à estrutura da ordem. Ninguém tem conhecimento real de toda a “árvore genealógica”, por assim dizer. Pode ser que haja apenas uma meia dúzia de malucos que pensam que são centenas ou milhares. E outra coisa: supondo que o superior seja uma pessoa menos competente do que seu subalterno, como essa pessoa mais competente vai conseguir evolução dentro da hierarquia da ordem? Para mim, este modelo está fadado ao fracasso.
Você pode argumentar, dizendo que não, que as pessoas na prática conhecem umas às outras, ou que há uma pessoa que mantém os registros e conhece toda a estrutura, que há Mestres Ascensionados em ação. Então isso quer dizer que, para funcionar de verdade, uma ordem com essa estrutura precisaria quebrar suas próprias regras, e que é necessário que influências externas operem para a coisa ir de vento em popa? Me desculpe, mas continuo pensando que essa estrutura é esquizofrênica, míope, e fadada ao fracasso.
Os Colecionadores de Ordem
Vale a pena aqui mencionar uma categoria de pessoas que certamente sofre de alguma espécie de patologia. Se eu fosse especialista em transtornos mentais, inventaria um nome bonito para essa doença. Pena que não sou.
Estou falando dos Colecionadores de Ordem. Pessoas que, não satisfeitas em serem enganadas por uma única ordem, optam por ingressar em várias ao mesmo tempo, e precisam lidar com os objetivos conflitantes, os compromissos concomitantes, e até mesmo o que alguns chamam de “choque de egrégora” (que eu acho uma palhaçada, mas falo disso outro dia).
Qual é o problema dessas pessoas? Carência? Insegurança? Falta se senso de pertencimento? Tudo isso ao mesmo tempo? Francamente, não sei. Para mim, é caso de hospício.
Meu Conselho
As ordens antigamente tinham uma razão de ser. Embora intolerância religiosa ainda seja um problema, não se faz mais fogueiras em praça pública para queimar magos e bruxas, como se fazia antigamente. Há menos necessidade de segredo. O conhecimento não era de fácil acesso, mas hoje é. Se as ordens iniciáticas eram uma forma de conseguir conhecimento de difícil acesso, ao mesmo tempo preservando um certo anonimato, para que elas servem nos tempos atuais, em que o conhecimento está facilmente disponível para todos e as próprias ordens se propagandeiam a quem interessar possa?
Eu acho que o único motivo para alguém se afiliar, em pleno século XXI, a uma dessas ordens, é caso encontre um grupo de pessoas com grande afinidade, objetivos similares, e uma real perspectiva de evolução pessoal e mágica. Qualquer motivo além desses, para mim, é burrice. Ou carência. Ou doença.
E se você realmente decidir se unir a uma dessas ordens, tente ficar só em uma. Duas, no máximo. Não seja um colecionador. É feio, démodé. Pesquise sobre o grupo que te interessa. Pergunte por aí. Veja se não é roubada. Como diz o ditado, macaco velho não mete a mão em cumbuca. O velho aqui sou eu, mas você não precisa aprender errando, porque eu estou te dando esse conselho. Pense duas vezes antes de fazer asneira. Ou, se quiser fazer, faça. Mas depois não venha encher minha paciência, que anda bem pouca ultimamente.
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