Como Druidas e Memes Venceram a Segunda Guerra

Como Druidas e Memes Venceram a Segunda Guerra

Tudo bem, o que realmente venceu a Segunda Guerra Mundial foram tropas, muitas armase munição, aviões, tanques, submarinos, seis anos de esforço de meio mundo, bombas e milhões de mortes desnecessárias. A gente sabe disso. Mas nenhuma guerra é lutada só no front. E no caso da Segunda Guerra mundial, druidas e memes tiveram um papel importante na luta contra o Eixo – principalmente para a Inglaterra, o país onde todo mundo já nasce meio bruxo.

No Limite da Legalidade

Já falamos outras vezes por aqui, mas não custa lembrar: a bruxaria só foi descriminalizada na Inglaterra em 1951. E a Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939 e 1945. Portanto, todos os atos de bruxaria aqui descritos estavam no limite da legalidade.

Fugindo das tecnicalidades jurídicas, Peter Grey define muito bem o que é considerado bruxaria, ilegal e condenável:

Por toda a história registrada a bruxaria tem sido malefica, venefica, incesto e assassinato. A aldeia ao lado, a cidade ao lado, o país ao lado, a velha, a jovem, o Judeu, o leproso, o Cátaro, o Templário, o Ofita, o Bogomilo. Eles fazem isso. Não nós, você entende, mas eles. Você encontrará a bruxa no final de um dedo apontado.

 

Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 14

Como bruxaria é só o que “os outros” fazem, a magia da alta sociedade é logicamente boa, justa, aceitável e desejável. Por isso temos tantos maçons envolvidos com eventos importantes da história do mundo, por exemplo. E por isso pessoas importantes, como Winston Churchill, passaram incólumes por esses tempos.

Winston Churchill, o Druida

Sabe o Winston Churchill? Aquele cara que lutou na primeira guerra, e que foi primeiro-ministro da Inglaterra durante a segunda? Que aparece em um milhão de filmes como um cara durão, genial e implacável? Que ficou imortalizado no clipe de Aces High, do Iron Maiden?

Esse mesmo. Ele era um druida.

Você não leu errado. Churchill foi um druida, e isso não é teoria da conspiração, e sim fato confirmado. Ele foi afiliado à Loja Albion do braço de Oxford da Antiga Ordem dos Druidas (Ancient Order of Druids, ou AOD), uma ordem fundada na Inglaterra em 1781 e em atividade até hoje. Veja só o naipe das figuras (não confirmamos nem negamos que as barbas são verdadeiras).

Assim como a maçonaria, a AOD teve entre seus membros algumas figuras ilustres. A própria AOD diz que a ideia da organização é ressaltar os valores dos Druidas: justiça, benevolência e amizade.

Agora responda com sinceridade: você realmente acredita que alguém coloca essa indumentária, cultiva uma barba dessas e se reúne periodicamente com outros malucos só para ser justo, benevolente e amigo? Está claro que a AOD tinha, sim, uma vertente espiritual/mágica/esotérica. E Churchill estava nessa onda.

(Ainda bem que não é bruxaria! Se fosse, o primeiro-ministro que chutou a bunda dos nazistas seria um criminoso. Ufa!)

Mas vamos voltar ao Churchill logo mais.

Druidas e suas Barbas

Dion Fortune e a Batalha da Bretanha

Dion Fortune, a bruxona mais sinistra da Inglaterra do século XX, também teve um papel importante na defesa da Inglaterra durante a Segunda Guerra. Em 1939, ela passou a acreditar que tinha recebido a tarefa mágica de defender o Reino – uma missão que, em tempos passados, foi responsabilidade do Rei Arthur. Não é pouca coisa, não.

Para lutar uma guerra, é preciso ter um exército. Dion passou a aceitar praticamente qualquer um que desejasse ingressar em sua Ordem – A Fraternidade da Luz Interior. E passou anos mandando cartas semanais para seus novos companheiros de Ordem. Toda quarta-feira ela mandava cartas para todo o país, e em um determinado horário, todo domingo, todos os membros da Ordem faziam uma meditação, seguindo instruções contidas na carta.

As meditações começaram com simples exercícios para sintonizar todos os participantes na mesma frequência, e foram ficando mais complexos. Em determinado momento, Dion e sua Ordem já estavam visualizando anjos defendendo a costa da Bretanha, lançando ataques mágicos à Alemanha, e amaldiçoando os inimigos do Império.

Aí você pode se perguntar se isso tudo funcionou. E a resposta é simples: quem ganhou a guerra, no fim das contas?

Dion sabia que a guerra seria vencida por bombas de verdade. Mas ela também sabia que os Aliados precisavam de um milagre, e ela estava trabalhando nisso. Ela também tinha plena consciência de que seus esforços faziam muito mais efeito na moral das tropas e do povo britânico do que qualquer outra coisa. Mas em tempos de guerra, esse é o tipo de vantagem capaz de virar o jogo.

E, falando em moral, voltemos a Churchill.

Arte: Alex Tomlinson

Churchill, Crowley e o V de Vitória

Churchill era druida, como já vimos. Também era maçon (na época, quem importante não era?). Ele tinha, no mínimo, uma noção teórica do que a magia poderia alcançar. Sabia, também, que ações como as de Dion Fortune poderiam fazer a diferença. E decidiu ouvir os conselhos de seu conterrâneo mais reconhecido no campo do ocultismo: ninguém menos do que Aleister Crowley.

Crowley queria criar uma espécie de ritual que pudesse ser usado milhões de vezes ao dia, por todo e qualquer cidadão, mesmo sem nenhum treinamento. Ele tinha noção de que não daria para complicar demais as coisas. E que, se parecesse mágico demais, as pessoas não fariam. Tinha que criar alguma coisa que cativasse o povo. E foi assim que ele supostamente bolou o símbolo do V de Vitória, aquele V que a gente faz com os dedos da mão. Mas o que tem de mágico nisso?

O Poder dos Memes

Entre todos os gestos possíveis, o V de Vitória não foi escolhido à toa. Há todo um simbolismo por trás dele.

O símbolo máximo dos nazistas (os inimigos da Inglaterra na época) era a suástica. No sistema da Golden Dawn, a suástica é o símbolo de Ísis em lamentação pela morte de Osíris. O que, então, pode combater a suástica? O assassino de Osíris, é claro: Apófis, ou Tífon, simbolizado pelos dois dedos da mão erguidos. O símbolo, que seria repetido insistentemente por toda a população, funcionaria como um hipersigilo para derrotar o nazismo.

A ideia da repetição constante do V de Vitória era que o inimigo, vindo de outro contexto cultural, veria todo mundo fazendo aquele símbolo o tempo todo, repetindo aquele meme sem parar, em todas as ocasiões do dia, e se sentiria cercado. Ele perceberia que aquelas pessoas sabiam de alguma coisa que ele não sabia, e estavam de olho, e tinham formas de se comunicar que ele não compreendia. Eles tinham uma clara vantagem. Mesmo que não fosse estritamente mágico, o V de Vitória serviria ao menos como uma arma psicológica contra os invasores.

Do ponto de vista do povo, teria exatamente o efeito contrário: seria um sinal subentendido de que tudo estava sob controle, que vamos vencer, vamos derrotar Osíris e fazer Ísis chorar, esses alemães não estão com nada.

O Primeiro Meme Transmídia

O V de Vitória não estava só nas mãos do povo. Como um verdadeiro meme, ele se espalhou de diversas formas.

Crowley teria convencido a rádio BBC (na época ninguém tinha televisão) e o MI5 (o serviço de inteligência britânico) de que a ideia do V era boa. Churchill, druidão, comprou o plano, e passou a usar o V de Vitória em suas aparições públicas. Logo o V começou a aparecer em grafites pelas ruas, e na propaganda oficial do governo. Para onde você olhasse, lá estava um V.

Mas como colocar um V na rádio? Em tempos de guerra, a forma óbvia de representar uma letra em sons abstratos é o Código Morse, muito usado em comunicação militar. Nessa linguagem, o V é representado por três toques curtos e um longo (. . . _). E qual música você conhece que começa exatamente assim?

É muito irônico. Usar uma música de um alemão para combater os alemães. Mas foi assim.

Essa música virou praticamente uma vinheta da rádio BBC. Somada às pinturas nos muros, aos pôsteres, e às mãos de praticamente todo o povo, o V de Vitória se espalhou por todo o reino.

Será que funcionou? Bom, mais uma vez, a Inglaterra ganhou a guerra. Londres foi bombardeada, o povo passou fome, mas tudo acabou bem. Tire suas próprias conclusões.

O V de Vitória foi o primeiro meme transmídia, e ajudou a ganhar uma guerra. Isso dá uma noção do que um símbolo poderoso com forte adesão popular é capaz de conquistar.

Outros Fronts Ocultos

Além do Druida sentado na cadeira mais importante do governo, das meditações semanais de Dion e seus seguidores, e do V de Vitória, a Inglaterra contou com outros auxílios ocultos.

A Operação Visco (Operation Mistletoe) teria sido um plano de Ian Fleming (sim, o criador de James Bond, que também era da Golden Dawn) para convencer Aleister Crowley a desenvolver rituais (esses, sim, mais cerimoniais) para ferrar com a Alemanha. Os rituais envolveriam espantalhos vestidos de oficiais alemães sendo incendiados, aviões de brinquedo pendurados em fios, e outras pirotecnicas. Tudo sobre essa operação é muito mal documentado.

Há também uma operação meio mal explicada, na qual Ian Fleming (de novo), que era funcionário da inteligência britânica, plantaria desinformação a respeito de previsões astrológicas para oficiais alemães, na esperança de fazer eles tomarem decisões erradas. Parece que isso funcionou marginalmente.

A lista vai longe. Druidas, meditações sincronizadas, memes, astrologia falsa, rituais pirotécnicos. Tudo isso pode ter ajudado a Inglaterra a vencer a Segunda Guerra Mundial. E tudo isso mostra o poder que o povo unido tem quando munido da bruxaria (que, quando está a favor do status quo, não é crime!).

Peter Grey, em Bruxaria Apocalíptica, fala exatamente disso: de como nós, o povo, podemos (e devemos) usar essas técnicas para forçar a balança a nosso favor. Porque o tempo passa e as coisas mudam, mas nós estamos sempre perdendo uma guerra, seja ela qual for. Se a Inglaterra pôde, nós também podemos. Pense nisso.

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