Frater Optimus é um mago de outra geração, que ainda não entrou no fluxo do século XXI – e provavelmente nunca vai entrar. Ele está naquela idade em que nenhum processo contra ele tem grandes chances de se encerrar ainda com ele vivo, e tira proveito disso para expressar suas opiniões controversas sem papas na língua.
Neste artigo, ele expõe como a ciência de hoje em dia enxerga a magia e o oculto – é claro, tudo de seu ponto de vista peculiar.
Era só o que me faltava. Parece que foi ontem, mas já faz mais de vinte anos que Carl Sagan escreveu O Mundo Assombrado Pelos Demônios. E agora um monte de gente que nunca leu o livro começou a deturpar os conceitos que ele apresenta. É uma gentinha ridícula mesmo. Imagine só como vai ser com os meus escritos daqui a vinte anos. É certeza que dirão um monte de idiotices em meu nome, coisas que eu nunca disse. Vão fazer que eu pareça um velho convencido e intransigente. Mas chega de falar de mim. O que está me incomodando de verdade é o mal-uso que as pessoas estão fazendo do conceito do “Dragão de Garagem”.
Quando Sagan apresentou o famoso Dragão de Garagem, a ideia era mostrar que só bla bla bla sem evidência não é suficiente para provar alguma coisa. Por exemplo, se eu te disser que tenho um dragão na minha garagem, e você for olhar e não encontrar nada, eu posso dizer que na verdade o dragão é invisível. E posso inventar novas desculpas esfarrapadas para responder cada pergunta que você fizer sobre o dragão. Por exemplo, se você disser que jogando farinha no chão é possível identificar as pegadas do dragão, eu posso responder dizendo que o dragão flutua. Essa argumentação pode seguir indefinidamente.
O Dragão de Garagem expõe ao ridículo conceitos que não podem ser explicados pela ciência, e que na verdade não existem mesmo. Quando, por exemplo, um fiel de uma doutrina monoteísta tradicional tenta provar que Deus tem existência objetiva para um cientista, a discussão é muito parecida com a história original do Dragão de Garagem.
Até aí tudo bem. Mas os cientistas – e, pior do que isso, os céticos sem conhecimento de causa – passaram do limite. Hoje em dia o Dragão de Garagem é usado como método para desacreditar qualquer coisa. E está ficando cada vez mais normal ver os supostos cientistas ridicularizando a si mesmos, sem perceberem, ao tentarem usar a abordagem do Dragão de Garagem.
Considere um evento inexplicável qualquer. Por exemplo, uma casa assombrada. O motivo da tal “assombração” é desconhecido. O crédulo vai dizer que é um fantasma. O cético vai inventar mil desculpas para isso, e tentar ridicularizar o crédulo, já que não é possível achar evidências concretas de que fantasmas existem. Mesmo que objetos voem pela casa, a temperatura despenque repentinamente, barulhos estranhos sejam ouvidos, fenômenos de voz eletrônica sejam gravados, animais fiquem sobressaltados, pessoas adoeçam sem motivos, ferimentos estranhos se manifestem nos moradores, variações eletromagnéticas sejam registradas, móveis sejam arrastados no meio da noite, mensagens bizarras (e coerentes) sejam passadas aos presentes e imagens estranhas sejam registradas em vídeo e em fotografias, os céticos sempre insistem que não há evidência concreta de que uma assombração de fato existe naquele ambiente. Para eles, algo só seria considerado “evidência” se um fantasma aparecesse dizendo oi para uma câmera de vídeo, por exemplo. E mesmo assim, eles diriam que poderia ser uma pessoa fantasiada, ou um efeito especial.
Muito bem. Nesse exemplo, o cético está tentando ridicularizar o crédulo o tempo todo. Afinal de contas, para eles, fantasmas não existem. Todos os eventos acima podem ser explicados facilmente: fios de nylon movendo objetos, vazamentos de gás, uma torre de celular próxima, sujeira nas lentes. E ainda assim, acusam os crédulos de terem um “fantasma de garagem”. Mas pense bem. O que está acontecendo é justamente o contrário.
Esses “cientistas” não percebem o quanto é ridículo acreditar que todas essas explicações materiais se aplicam simultaneamente, no mesmo caso. É possível que tudo tenha explicação científica? É possível. Possível, e tão provável quanto um dragão invisível flutuante morando na minha garagem. Não é muito mais simples crer que existe, de fato, uma assombração no local assombrado?
Aceitar a existência de uma assombração é mais simples, para todos os efeitos. Mesmo que haja explicações científicas para tudo, o que garante que não é a assombração que está na origem de todas essas causas? Para todos os efeitos, é mais fácil supor que há, de fato, uma assombração. Essa explicação justifica tudo que já aconteceu, e pode justificar coisas que ainda não aconteceram. E se uma coisa é tão difícil de identificar que diversas pessoas juntas, munidas de equipamento tecnológico, são incapazes de chegar a um consenso sobre o que se trata, que diferença faz assumir que é uma assombração e ponto final?
Quando chegamos a esse ponto, o “cientista” está aplicando o argumento do Dragão de Garagem contra ele mesmo. É ele quem está inventando desculpas esfarrapadas para justificar a não existência de uma coisa que ele sequer pode ter certeza se existe ou não.
O Dragão de Garagem serve muito bem para explicar, por exemplo, que eu não sou a reencarnação de Napoleão Bonaparte. Ou que a terra não é plana. Mas não serve para explicar que assombrações não existem. Nem discos voadores.
E nem a magia.
O poder de um mago de afetar a realidade objetiva está fundamentalmente na manipulação de coincidências. Mesmo que um mago consiga uma façanha, como por exemplo acertar na Mega Sena, duas vezes seguidas, o “cientista” munido do argumento do Dragão de Garagem e de toda a estupidez que lhe é peculiar sempre poderá argumentar que foi apenas uma coincidência. Ou que o resultado do sorteio foi manipulado. Sempre haverá uma desculpa perfeitamente “racional”. Mas ela sempre será muito mais ridícula do que apenas acreditar que a magia existe. E funciona.
E pode acreditar. Ela existe. E funciona.
Você pode sempre dizer que não, e eu estou pouco me importando. A Ciência está eternamente atualizando seus métodos e conceitos. Mas na sua forma atual, ela é incapaz de aceitar a existência da magia. Assim como um fantasma nunca dirá oi para uma câmera, um mago nunca soltará bolas de fogo pelas mãos. A magia de verdade é a manipulação das coincidências. E é por isso que a ciência, o pináculo do desenvolvimento humano no século XXI, nunca nos entenderá.
Eu acho engraçado que certas coisas que podem ser classificadas como coincidências, como por exemplo o Bóson de Higgs, são aceitas pela ciência como fato inegável. É fácil ser parcial, não é mesmo? Qualquer um poderia argumentar que o tal Bóson é apenas um Dragão de Garagem, mas essa descoberta já atravessou o limiar do incrível e virou crença estabelecida. Os cientistas vão acreditar nele até alguém provar que não é nada disso. E acredite, isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde.
A Ciência, em seu pedestal, virou o Deus do século XXI. Essa é a nova crença predominante. E como toda crença predominante, está fundamentalmente errada. Pode ser que nós (a humanidade) levemos mais dois mil anos para a ficha cair. Mas ela vai cair.
E eis o que eu te digo. Os cientistas que vão para o inferno, com o Deus-Ciência deles. A Ciência nos trouxe a um patamar de conhecimento incrível nos últimos séculos. E eu reconheço que ela serve para isso: para avançar com as invenções e com a tecnologia. Mas como detentora da verdade absoluta a ciência é um experimento falido. E como símbolo de idolatria, ela é tão ruim e prejudicial quanto qualquer crença religiosa. Se a Ciência é o seu Deus, santificado em um pedestal intocável, você provavelmente precisa rever sua postura a respeito do mundo. Acredite: se você é um desses, daqui a alguns anos (não sei quantos), as pessoas vão rir de você.
Tenho certeza que cientistas, tanto profissionais quanto diletantes, vão espernear com o que eu estou falando. Se você é um desses, eu te digo: alguns dragões existem, sim. Pode espernear à vontade. Sua ciência não é tão impecável quanto você pensa. Se você gosta tanto assim de questionar, que tal questionar os seus próprios métodos? E suas próprias certezas? Heim?
E se você se sentiu ofendido, entre na fila e me processe.
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