Vamos colocar de forma simples: não existe consenso sobre o que é o Sabá. A própria natureza deste fenômeno é extremamente pessoal. É esperado que cada um tenha uma definição muito própria e que as definições de diferentes pessoas não combinem entre si.
Descobrindo o Sabá
Mas então como é possível descobrir o que é, afinal, o Sabá?
A melhor forma de descobrir é, sem dúvida, a experiência em primeira mão. Mas até mesmo isso não é exatamente fácil. Algumas pessoas podem participar do Sabá sem nem se darem conta. Outras podem tentar insistentemente, sem nunca conseguirem chegar lá. Na verdade, é difícil até mesmo saber onde é “lá”.
A outra alternativa é se informar – ler a respeito para poder chegar às suas próprias conclusões. Uma opinião formada apenas por relatos de segunda mão com certeza não é o melhor dos mundos, mas pode ajudar a abrir as portas para a experiência direta.
Por isso, identificamos algumas perguntas sobre o Sabá. As respostas são dadas por alguns dos mais influentes ocultistas dos últimos tempos.
O que é o Sabá?
A pergunta inevitável sobre o Sabá é também a mais simples de todas: o que é, afinal, o Sabá?
O mito do Sabá surgiu nos julgamentos medievais de bruxas. Os inquisidores pegaram um punhado de fatos e criaram uma obra de ficção ao redor deles. Com a intenção de demonizar as bruxas, elas eram retratadas como antagonistas de tudo que era considerado sagrado. Infelizmente esse conceito deturpado foi o que mais se enraizou em nosso subconsciente.
O Sabbat da superstição popular é uma caricatura grotesca, quando não uma paródia deliberada, do rito secreto que objetivava despertar a Mulher Serpente pelo uso positivo da Corrente sexual.
Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto, p. 97
Kenneth Grant ressalta que o conceito estabelecido no senso comum é errado, e ressalta a natureza sexual do rito. Peter Grey corrobora essa visão:
O que está acontecendo no Sabá é uma inversão (…) O Sabá é um banquete e uma cama nupcial.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, pp. 134-135
Acima de tudo, o Sabá é um dos ritos centrais da Bruxaria, como ressalta Nicholaj de Mattos Frisvold:
O Sabbath das Bruxas, o voo noturno e sua orgia diabólica na Sombra do Tempo são ideias que seguiram a imagem da bruxa.
Nicholaj de Mattos Frisvold – A Arte dos Indomados, p. 150
Peter Grey aponta a importância do Sabá como parte integrante da mitologia da bruxaria:
Minha tese é que o Sabá é a sobrevivência dos cultos de Mistério e uma mitologia da ressurreição que está oculta no próprio Grande Rito, o mistério dentro do mistério.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 108
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O Sabá acontece “de verdade”?
Essa é uma pergunta complicada, porque pressupõe que se saiba, primeiramente, o que “de verdade” significa. Alguns dizem que o Sabá é um sonho, uma alucinação coletiva. Outros dizem que o Sabá acontece como uma manifestação material.
Austin Osman Spare implica que o Sabá é dotado de materialidade:
Minha própria experiência de diversos Sabbats aponta que há uma exteriorização consumada, e que todas as memórias subsequentes são da realidade.
Austin Osman Spare, citado por Kenneth Grant – O Renascer da Magia, p. 209
Kenneth Grant, um grande estudioso da obra de Spare, sugere que a materialidade pode de fato ser percebida, mas é relativa:
É na substância desse eflúvio que a bruxa encarna o atavismo pelo qual o Sabbat é convocado. É no clímax dessa libertação explosiva do sigilo que o plano astral se adensa a um ponto de substancialidade que dota todo o rito do glamour da realidade.
Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto, p. 148
Peter J. Carroll, um expoente da Magia do Caos, afirma que o Sabá é um fenômeno no plano dos sonhos, e que não tem materialidade:
O chamado sabbat astral é o principal tipo de experimento mágico realizado no nível do sonho. Os participantes combinam sonhar estarem presentes nas companhias uns dos outros em algum lugar real familiar a todos. Os participantes podem entrar no sono em locais separados em um horário previamente combinado ou dormir juntos em um só lugar.
Peter J. Carroll – Liber Null e Psiconauta, p. 134
Peter Grey oferece uma visão conciliadora entre estes pontos de vista aparentemente divergentes:
O Sabá, embora sonhado, também pode coincidir com o corpo e com o ritual (…)
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 120
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Onde acontece o Sabá?
Corpóreo ou não, Peter Grey deixa claro que o Sabá não acontece onde você está: é preciso chegar até lá.
O Sabá (…) deve ter participação, devemos voar até ele, ele não passará pela nossa porta.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 165
O Sabá é um fenômeno comunal, não uma experiência individual, e por isso é preciso que os participantes se reúnam em um lugar:
Há um Grande Sabá, em uma única montanha.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 24
O simbolismo dessa montanha, da colina oca, é explicado em detalhes por Nicholaj de Mattos Frisvold, em A Arte dos Indomados.
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Como chegar no Sabá?
E se o Sabá acontece nessa montanha, nessa colina, como chegar até lá? Essa locomoção pode se dar de várias formas, inclusive espontaneamente:
O primeiro voo para o Sabá é muitas vezes um evento espontâneo. Um evento que não é mediado por coven ou ritual. É uma transfiguração lúcida, embora muitas vezes chocante.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 111
A forma mais comum de chegar à Montanha é por meio de voo mágico, normalmente ocasionado pelo uso de drogas e plantas de poder:
A forma de transvecção que possibilitava à bruxa participar no Sabbat era um fenômeno astral, e o unguento aplicado sobre o corpo era indubitavelmente composto de substâncias indutoras de sono e êxtase.
Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto, p. 147
Mas outras formas de alteração de consciência podem ser aplicadas para chegar ao Sabá, como técnicas xamânicas, e até mesmo magia sexual:
Há muitas maneiras de voar.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 24
O ponto mais relevante é que, para chegar ao Sabá, a consciência não pode estar no seu modo normal de operação. É impossível alçar voo sem deixar de lado a consciência cotidiana.
Então eis aqui um paradoxo final a considerar: não precisamos necessariamente nos envenenar para ir ao Sabá, mas precisamos estar mortos.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 119
Qual é o objetivo do Sabá?
Cada um sugere uma finalidade diferente para o Sabá. Peter J. Carroll, defensor de que o Sabá sempre ocorre nos sonhos, aponta esse evento como uma busca por visões:
O objetivo inicial destes sabbats é obter uma percepção em comum.
Peter J. Carroll – Liber Null e Psiconauta, p. 134
Austin Osman Spare, por outro lado, diz que este evento tem um enorme poder para materialização de desejos:
O Sabbat é sempre secreto, comunal e periódico; uma consumação forçada para realizações de desejos quase ilimitados.
Austin Osman Spare, citado por Kenneth Grant – O Renascer da Magia, p. 203
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Quando acontece o Sabá?
Já sabemos onde o Sabá acontece e como chegar lá. Mas trata-se de um evento coletivo, e não adianta chegar na festa no dia errado. Afinal, quando acontece o Sabá?
As opiniões divergem quanto a isso. Peter Grey defende que a periodicidade destes eventos é determinada pela lua:
Parece impossível não concluir que o Sabá ocorre na lua cheia.
Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 122
E Nicholaj de Mattos Frisvold concorda com isso.
Em um aspecto específico da Lua, o espírito vai à Encruzilhada à noite para encontrar o Diabo.
Nicholaj de Mattos Frisvold – A Arte dos Indomados, p. 80
Mas você já deve ter ouvido falar em Sabás no contexto da roda do ano, do ciclo solar, e não do lunar. Essas datas também são importantes para definir a ocorrência destes eventos:
Os solstícios são pontos importantes para o voo do Sabbath, como também vemos nos revivalismos contemporâneas dos costumes bruxos do passado.
Nicholaj de Mattos Frisvold – A Arte dos Indomados, p. 153
Como dissemos no início, é difícil chegar a conclusões definitivas sobre o Sabá somente lendo o que os outros têm a dizer sobre ele. Experiência própria é a melhor forma de conhecer esse rito misterioso. Você tem alguma história para compartilhar? Deixe nos comentários!
O Sabá é um dos temas centrais de Bruxaria Apocalíptica, de Peter Grey, que além de explorar as origens históricas desse fenômeno nos mostra como ele pode (e precisa) ser explorado nos dias de hoje. Em A Arte dos Indomados, Nicholaj de Mattos Frisvold explica com detalhes o simbolismo da Montanha Sagrada, e dá uma receita prática de como acessar o Sabá: O Rito de Alçar Voo. Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll, foge um pouco da Bruxaria e dá uma perspectiva sobre o Sabá do ponto de vista da Magia do Caos. Aleister Crowley e o Deus Oculto, de Kenneth Grant, tem um capítulo inteiro para explicar o Sabá, enfatizando uma abordagem do ponto de vista da magia sexual. Também de Kenneth Grant, O Renascer da Magia apresenta a visão do grande mago Austin Osman Spare sobre o Sabá.
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