Para muita gente, Leprechauns são aqueles seres sinistros de filme de terror – membros daquele ramo mais barra pesada da família das fadas. Para outros, são inimigos inconvenientes em jogos de RPG. Ou mesmo mascotes de times de esportes. O representante mais famoso dos Leprechauns na atualidade é Mad Sweeney, de Deuses Americanos – inventado em 2001, mas verdadeiramente famoso só há algumas semanas, com a chegada da série de TV.
Mas os Leprechauns das lendas e mitos dos irlandeses e escoceses têm muito pouco a ver com essas representações da cultura pop.
Os Leprechauns Clássicos
A imagem estereotipada que se tem do Leprechaun é de um homem baixinho, ruivo, barbudo, usando uma roupa verde antiquada e um chapéu. Normalmente guardam um pote ou baú cheio de ouro, que costuma ficar na extremidade do arco-íris. Às vezes são vistos fazendo sapatos. Quase invariavelmente, estão sozinhos.
Essa descrição pode parecer bastante peculiar para nós, sul-americanos do século XXI. Mas essa imagem é praticamente uma caricatura do irlandês típico do século XIX.
William Butler Yeats, o grande poeta irlandês, teve papel importante em compilar as lendas e mitos de seu povo, deixando registros escritos de grande importância. Ele descreve em detalhes a vestimenta dos Leprechauns. Seu paletó, por exemplo, diz Yeats, tem sete fileiras de sete botões cada.
Mas nem tudo aqui é uma caricatura do irlandês de séculos atrás. Há simbolismos mais profundos nessas características.
Os Leprechauns e a Terra
Os Leprechauns são seres da Terra – não do planeta, mas sim do elemento. Todos os seus traços característicos são muito similares aos dos gnomos, que são considerados os elementais da Terra por excelência. Não há aqui nenhuma coincidência.
Além das características físicas (baixa estatura, barba) e indumentária (chapéu, etc.) similares às dos gnomos, outros símbolos dos Leprechaun estão vinculados à Terra. O baú ou pote de ouro representa as riquezas da Terra, que o Leprechaun protege como seu tesouro. Os sapatos, que ele fabrica para outros seres fantásticos, são elos de ligação com a Terra.
Há uma última coincidência, no mínimo curiosa, e nem um pouco óbvia. Lembra do paletó verde com 49 botões em 7 fileiras de 7 botões cada? Compare com este trecho onde Aleister Crowley descreve uma zona de poder localizada no clitóris – associado ao Muladhara Chakra, Malkuth e ao elemento Terra:
As pétalas totalizam quarenta e nove, sendo sete fileiras de sete pétalas. A cor básica é de um rico verde oliva, às vezes brilhando como esmeralda.
Aleister Crowley, citado por Kenneth Grant, em O Renascer da Magia, p. 88
O significado destas palavras é controverso e cabe a cada um decidir.
Fadas da Terra
O folclore irlandês foi mantido vivo por meio da tradição oral por séculos, e por esse motivo muitos detalhes se perderam e modificaram com o passar do tempo. Mas é razoável acreditar que a ascendência dos Leprechauns venha dos Tuatha Dé Danann, uma raça de seres míticos da mitologia irlandesa.
Essencialmente, os Tuatha Dé Danann (e também os Leprechauns) são criaturas de outro mundo, que existe junto com o nosso, mas ainda assim separado. Todos esses nomes são formas de se dizer uma só coisa: fadas. Os Leprechauns são um tipo específico de fadas dessa cultura.
Três Desejos
Com o tempo, o Leprechaun assumiu uma fama de desordeiro, de trickster. Isso pode ter a ver com a quantidade cavalar de álcool que esses seres ingerem (sendo caricaturas do irlandês beberrão). Mas pode também ter a ver com o fato de serem criaturas avarentas, determinadas a guardar seus tesouros, os tesouros da Terra.
Várias lendas contam que, se capturados, os Leprechauns concedem três desejos a quem os captura. Isso é praticamente o oposto dos mitos sobre Djinns, os Gênios da Lâmpada. Enquanto os Djinns concedem desejos a quem os liberta, os Leprechauns os concedem a quem os captura. Mas, da mesma forma que ocorre com os Djinns, a pessoa que pede os desejos costuma se dar mal.
No caso dos Leprechauns, eles usam sua lábia para tentar fazer com que as pessoas peçam coisas idiotas. Ao contrário dos Djinns, não há dívida alguma a pagar. Por isso estas fadas tentarão fugir assim que seus captores desviarem sua atenção.
Um Gosto Pela Transitoriedade
Os Leprechauns têm uma tendência a gostar de tudo o que é transitório. Lugares, tempos, coisas. E é por isso que guardam seus tesouros na ponta do arco-íris – um lugar efêmero e virtualmente inalcançável.
Na sua terra natal, estão frequentemente vinculados a colinas e morros de fadas, locais onde diz-se que a barreira entre este mundo e o outro é mais fina. Em muitas representações, aparecem sentados em cogumelos – que são, efetivamente, portais para outras dimensões de percepção.
E por este mesmo motivo, eles também gostam de lugares que não são uma coisa nem outra. Praias, por exemplo, não são terra nem mar, e por isso são bons points de Leprechauns. O mesmo se aplica ao nascer e ao pôr do Sol – horários que não são dia nem noite. Se quiser entrar em contato com Leprechauns, procure onde a barreira for mais fina, seja num lugar, num tempo, ou no que mais for relevante.
Trabalhando com Leprechauns
Trabalhos mágicos envolvendo seres fantásticos “do outro lado” não são nada extraordinários. Na verdade, são a regra para diversas correntes, como a da Bruxaria ou Arte Tradicional.
O que chamamos de Arte Tradicional é na realidade a Arte da interação com o “Outro-Mundo”, onde a natureza visível e invisível e os humanos interagem como participantes do mesmo mundo.
Apesar de serem tipicamente considerados egoístas e trapaceiros, os Leprechauns não são necessariamente criaturas malignas. Para trabalhar com eles, no entanto, é importante entrar na mesma frequência de raciocínio.
Por exemplo, não adianta pedir iluminação espiritual a um Leprechaun. Você vai falhar miseravelmente. Eles são boas escolhas para se conseguir coisas materiais, de Makuth, da Terra. Dinheiro, posses, bens, sucesso, sorte – é propício buscar estes objetivos quando lidando com estas fadas. Desejos relacionadas à Terra, no sentido de natureza, também são escolhas razoáveis.
Recapitulando, é importante ressaltar:
- encontre o Leprechaun (solitário) em um lugar e tempo transitório;
- se capturá-lo, lembre que ele tentará fugir;
- se não fugir, lembre que ele tentará te enganar;
- satisfaça a ganância dele – se quiser rir, tem que fazer rir;
- respeite a inteligência destes seres, eles estão por aí há muito mais tempo do que você.
A Arte dos Indomados, de Nicholaj de Mattos Frisvold, aborda sem baboseiras new age a forma como o praticante pode se beneficiar do trabalho com os habitantes do mundo das fadas. O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, trata (entre outros temas) da curiosa coincidência entre a descrição de Yeats e as zonas de poder do corpo humano.
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