Era o Yuletide, que os homens chamam de Natal embora saibam em seus corações ser mais antigo que Belém e Babilônia, mais velho do que Mênfis e a humanidade.
H. P. Lovecraft, O Festival – Contos Reunidos do Mestre do Horror Cósmico, p. 386
A noite mais longa do ano
O Yule (pronuncia-se Iúle) é um Sabbath comemorado em várias tradições pagãs ao redor do mundo. É celebrado próximo ao evento astronômico do solstício de inverno, a noite mais longa do ano. É comum confundir as datas do Yule (e de outros eventos da Roda do Ano) nos dois hemisférios da Terra. Mas esta data corresponde a aproximadamente 21 de junho no hemisfério sul e 21 de dezembro no hemisfério norte.
A Origem do Yule
Esta foi a primeira festa sazonal comemorada pelas tribos neolíticas do norte da Europa, e é até hoje considerado o início da Roda do Ano por muitas tradições Pagãs Nórdicas.
Estudiosos atuais creem que o Yule esteja ligado originalmente ao deus Woden, e à “caçada selvagem” (Wild Hunt). Woden, também chamado de Odin, possui vários nomes (como podemos ver assistindo ou lendo Deuses Americanos), entre eles Jólfaðr (Nórdico Antigo para “Pai do Yule”) e Jólnir (“aquele do Yule”).
Posteriormente, este festival foi cristianizado. A passagem do Yule foi assimilada pelos cristãos, que passaram a comemorar o Natal.
Sim, o triste fim de Woden, Wotan, Odin, etc. na sociedade contemporânea foi ser adaptado como o Papai Noel da Coca Cola.
Retorno à Luz
Depois de meses afundando em uma noite cada vez mais longa, o Yule marca o ponto máximo da descida do Sol; e, consequentemente, o ponto em que os dias voltam a ficar mais longos.
Quando o sol chegava à sua derradeira descida no Solstício de Inverno – isto é, quando afundava no abismo abaixo do horizonte – ele entrava na constelação de Capricórnio, o Bode. Este animal, portanto, passou a representar o tipo de deus do submundo, o Sol no Abismo que mais tarde passou a se identificar com a ideia do Diabo em decorrência de sua associação com a escuridão e a morte.
Kenneth Grant, O Renascer da Magia, p. 57
Em Yule, o destaque da celebração é o Deus – na concepção de uma divindade masculina, um deus fálico-solar.
Desde sua morte em Samhain, tudo ficou escuro. Mas já que nesta data ocorrem a noite mais longa e o dia mais curto do ano, e sendo o Sol uma das representações do Deus, o Yule marca a época do ano em que o Deus renasce – porque, a partir do Solstício, as noites ficarão progressivamente mais curtas, e os dias mais longos, marcando o início de uma nova fase.
Qualquer associação com o nascimento de Jesus Cristo não é mera coincidência – a mitologia dos deuses solares é exatamente essa, e Jesus não é o único a nascer no fim de dezembro. O mesmo se aplica a Mitra, Hórus, e outros tantos.
Com este renascimento, a Deusa, que ao parir a criança prometida ainda está em sua fase anciã, voltará a sorrir e logo retornará à sua fase de donzela.
Celebrando o Yule
Nesta noite, os nossos antepassados celebraram o renascimento do Rei Carvalho, o Rei Sol, o Doador da Vida, que aqueceu a Terra congelada. Ou seja, muita festa, comemoração e bebedeira.
Porém, Yule não é só festa e comemoração. É uma data propícia para o Sabbath das bruxas.
Os solstícios são pontos importantes para o voo do Sabbath, como também vemos nos revivalismos contemporâneas dos costumes bruxos do passado. Na realidade, os solstícios são aqueles pontos em que a segunda visão é mais clara, com excesso de noite no inverno e excesso de luz no verão.
Nicholaj de Mattos Frisvold, A Arte dos Indomados, p. 153
Uma outro item tradicional de Yule é a tora cerimonial.
A Tora de Yule
De acordo com a tradição, a tora deve ter sido colhida da terra da família, ou dada como um presente. Ela nunca deve ser comprada. Uma vez dentro da casa e posta na lareira, deve ser decorada com vegetação, encharcada com cidra ou cerveja, e polvilhada com farinha antes de ser queimada. O Freixo é a madeira tradicional da tora, pois remete à arvore sagrada Yggdrasil.
Um tipo diferente de tora de Yule, e talvez um mais adequado para praticantes modernos, é o tipo usado como base para segurar três velas. As cores tradicionais são verde, dourado e preto (o Deus Sol), ou branco, vermelho e preto (a Grande Deusa). Decore-a com vegetação, botões de rosa, cravo e farinha.
Muitos costumes criados em torno Yule foram absorvidos pelo o Natal. Se você decorar sua casa com uma árvore de Yule, azevinho ou velas, você está seguindo algumas das antigas tradições. Mesmo aquela sua tia-avó bem velhinha, extremamente católica, está comemorando antigos costumes pagãos, mesmo sem nem fazer ideia disso. E, aqui no Brasil, com seis meses de atraso.
A Arte dos Indomados, de Nicholaj de Mattos Frisvold, fala mais sobre as celebrações de Yule e de outras datas relevantes da Roda do Ano de acordo com a bruxaria tradicional. O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, trata em detalhes do simbolismo dos equinócios e solstícios para os povos antigos, que celebravam essas datas muito antes de Cristo ou Papai Noel aparecerem por aí.
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