A Kundalini, a Serpente de Fogo, é uma fonte de imenso poder mágico, acessível a cada um de nós. Ela pode ser usada para praticamente qualquer finalidade mágica. Mas, como seria de se esperar, lidar com a Serpente de Fogo (como o nome já sugere!) não é exatamente o mais seguro dos métodos mágicos.
Kundalini e os Chakras
Talvez Kundalini seja uma palavra nova para você, mas os chakras são temas mais pop dentro do meio do ocultismo. As duas coisas estão profundamente relacionadas.
Chakras são pontos de poder distribuídos pelo nosso corpo. Eles vão dos órgãos genitais até o topo de cabeça, sempre seguindo a linha vertical da coluna vertebral.
“Erguer a Kundalini” consiste em levar energia de baixo para cima, do chakra mais baixo para o mais elevado, seguindo o caminho da coluna. Essa transferência de energia possibilita alcançar níveis e variedades de energia normalmente não disponíveis em determinado ponto do corpo.
A Serpente de Fogo
A representação da Kundalini como uma Serpente de Fogo diz muito sobre sua natureza. O fogo está claramente associado à energia e ao poder contido nessa força. A associação com a serpente está no fato de que os chakras estão dispostos em uma linha, e também na forma que a serpente (o animal) atua.
A serpente, quando está enrolada, não está necessariamente descansando. Muito pelo contrário: ela está pronta para dar o bote. A Kundalini adormecida em nosso corpo é como uma serpente pronta para dar o bote, pronta para se esticar, saltar, partir para o ataque. É como uma mola comprimida, acumulando energia potencial, prestes a ser descarregada.
O Salto da Serpente
O Livro da Lei (Liber AL vel Legis) é a base do sistema mágico de Thelema, e menciona especificamente a Kundalini, seu poder e seus perigos.
Eu sou a secreta Serpente enroscada a ponto de saltar: em meu enroscar há alegria. Se eu ergo minha cabeça, eu e minha Nuit somos um. Se eu pendo minha cabeça, e ejaculo veneno, então é arrebatamento da terra, e eu e a terra somos um.
Liber AL vel Legis, II:26
Esta passagem declara explicitamente que na Kundalini está a chave para a união de Nuit e Hadit, o ponto e o círculo. Mas também deixa claro que existe a possibilidade que o despertar da Kundalini não seja perfeito, e que neste caso a Serpente pode “ejacular veneno”.
Em outras palavras, o grande poder contido na Kundalini pode ser descarregado da forma errada caso o magista não tenha controle suficiente sobre a prática.
Abrindo o Terceiro Olho
A realização máxima da Kundalini é se desenrolar (isto é, sair da base da espinha vertebral, dos órgãos genitais) e chegar até a cabeça, passando em seu caminho pelos outros chakras. A parte do corpo associada ao Ajna Chakra, o terceiro olho, é a famosa glândula pineal.
Aqui está o objetivo da Kundalini, sobre a qual afirma-se que na região da glândula pineal (isto é, Ajna), quando a atenção encontra esse ponto, todo o mundo parece iluminado, incendiado (…) Onde quer que haja alegria no homem, a Kundalini encontra-se na região pineal.
Comentário Kaula citado por Kenneth Grant, Aleister Crowley e o Deus Oculto, p.34
A culminação deste processo, quando realizado adequadamente, conduz a todo tipo de capacidade mágica. Clarividência, iluminação, capacidade de realização – não há, virtualmente, nada que não se possa realizar neste estado.
Controlando a Serpente de Fogo
Há diversos métodos para despertar a Kundalini e fazer com que ela se erga até a glândula pineal. O próprio Livro da Lei sugere que o uso de “vinho e estranhas drogas” pode ser um dos caminhos.
Em tese, qualquer modalidade de magia sexual pode servir para levar energia dos chakras mais básicos até os mais elevados. Isso inclui sexo solitário, com parceiro(s), e até mesmo Karezza (de forma simplista, sexo sem sexo). E essa energia serve perfeitamente para se obter resultados mágicos. Mas os defensores dos métodos tradicionais tântricos alegam que os riscos inerentes ao salto da serpente se aplicam a qualquer método que não trabalhe cada chakra, cada etapa da escalada da Kundalini.
Meditação Kundalini
Em Aleister Crowley e o Deus Oculto, Kenneth Grant descreve um método puramente meditativo e relativamente seguro de erguer o poder da Serpente de Fogo, que não envolve nenhum ato sexual propriamente dito, nem conhecimento teórico sobre chakras. O método é levemente diferente para homens e mulheres (devido às diferenças morfofisiológicas), e se baseia na terceira parte do Liber HHH.
Para mulheres, o método consiste em visualizar a Kundalini como uma serpente de fogo, sobre a região sexual. Ela deve então se forçar, mentalmente, à excitação sexual. Os homens devem visualizar a coluna vertebral como um falo e o cérebro como uma vagina, e imaginar um congresso sexual entre as partes.
Nos dois casos, chegar ao ápice da excitação não é fácil, e pode exigir mais de uma hora de concentração. Mas depende, fundamentalmente, de força de vontade.
E nos dois casos, antes que se chegue a um orgasmo de fato, é necessário substituir mentalmente o objeto de concentração por uma imagem do objetivo mágico. É nesse momento que a Kundalini possibilita ao magista qualquer coisa – a abertura do terceiro olho, a realização de desejos, iluminação espiritual. Realmente qualquer coisa.
Kenneth Grant, em Aleister Crowley e o Deus Oculto, entra em detalhes sobre os mecanismos de funcionamento da Kundalini e como diferentes linhas de trabalho tratam a magia sexual, de Aleister Crowley aos Tantras, passando pelas tradições africanas.
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