Frater Optimus e o Pacto com o Diabo

Frater Optimus e o Pacto com o Diabo

Nosso colunista, Frater Optimus, é um mago das antigas que acha que na época dele tudo era melhor, e que hoje em dia todo mundo é leitinho com pera. Às vezes ele tem razão. Às vezes não.

No texto de hoje, Frater Optimus fala sobre os famigerados pactos com o Diabo!

Era só o que me faltava. Um dia desses eu estava confraternizando após uma reunião da minha Loja. Um irmão veio me falar que viu nesse tal de Facebook uma pessoa anunciando pactos com o Diabo por módicos cinco mil reais. Eu não quis acreditar. Outro irmão confirmou este absurdo; disse que, pior ainda, tem gente dizendo que o pacto tem que ser feito presencialmente, em um motel ou alguma coisa assim.

A minha pergunta é: o que essa gente tem na cabeça? Eu não sei, mas se burrice for motivo para ir para o inferno, a passagem dessas pessoas está garantida. Mesmo que o pacto seja balela.

Como diz o poeta, “malandro é malandro, mané é mané”. É claro que tem um monte de malandros por aí, mas não existiriam malandros se não existirem manés. O que vemos nessa história de gente vendendo pacto, de pacto feito no motel, é um exemplo claro de um ecossistema completo. Malandros e manés coexistindo em harmonia. E o cidadão que é mané por vocação… essa alma já está mesmo condenada.

O Doutor Fausto, que já tinha tudo mas queria algo além, é a exceção. A regra, a maioria esmagadora das pessoas que se interessa em fazer um pacto com o Diabo, são pessoas desesperadas. Gente que está no fundo do poço, que já perdeu tudo e mais um pouco. Gente que (acha que) já fez de tudo, mas nada resolve seus problemas. Essas pessoas veem no pacto com o Diabo um último recurso, uma cartada final.

E o malandro se aproveita exatamente desse tipo de mané. E pegam o dinheiro de quem não tem nada, e levam as menininhas para o motel. E sabe o que entregam?

Nada.

Isso mesmo. Nada.

Não só porque são malandros aproveitadores. Mas porque não têm nada para entregar, mesmo que quisessem. Fazer um pacto com o Diabo é uma escolha pessoal, intransferível, e ninguém pode te ajudar nessa empreitada. É um caminho que precisa ser seguido sozinho. É preciso encontrar com o Diabo, sozinho, na encruzilhada. É preciso assinar o seu livro. Não adianta dar dinheiro na mão de um enganador qualquer, ou ir tirando as calcinhas (ou cuecas!) por aí. Não. Adianta.

E tem mais. Se você acredita em Deus e Diabo, fazer um pacto com o Diabo não é garantia de dinheiro infinito, prazeres carnais, tudo da noite para o dia. Não existe esse negócio de pacto milagroso. Fazer um pacto é abraçar o outro lado. É deixar para trás o que se considera divino e pio em prol do profano e do lascivo. A pessoa que faz um pacto aceita que anjinhos tocando harpa não representam seu ideal para a eternidade, e uma vida rezando na igreja não tem grandes atrativos. Essa pessoa ganha dinheiro porque para de achar que não merece ganhar dinheiro. Ela consegue sexo porque deixa de ver o sexo como uma coisa condenável.

Nesse sentido, o pacto com o Diabo é uma boa opção para o monoteísta simplório. Mas se você não acredita na dualidade Deus/Diabo, não tem um motivo sequer para fazer um pacto. Se você acha que o universo não é preto e branco, não tem motivo para abraçar um ou outro lado. É melhor levar sua vida como quiser, seguindo sua própria moralidade, e não a dos outros. Se quiser fazer pactos com entidades – não com “O Diabo”, mas com outros demônios – existem opções para você.

Rezar para Santa Maricotinha para salvar seu tio doente, e prometer subir de joelhos a escadaria da Igreja da Penha se der certo – você acha que isso é o quê? Do outro lado, por exemplo, temos a Goetia – uma forma de “pacto” que não culmina necessariamente com a venda da sua alma. Essa mania que os jovens de hoje têm de usar servidores para tudo é uma outra alternativamas evite os servidores feitos pelos outros.

Mas se você quiser mesmo fazer pacto, e acha que vai ficar rico de repente, e todos os seus problemas vão se resolver, vá em frente. E se quiser pagar por isso, deixa mensagem aí nos comentários que eu te passo o número da minha conta (prefiro me abster da parte do motel, a idade já não me permite essas aventuras).

 

A Arte dos Indomados de Nicholaj de Mattos Frisvold trata, entre outros temas, do Diabo, da Encruzilhada e de como o contato com este lado obscuro da psique é um pré-requisito para a Bruxaria. Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll, apresenta os princípios fundamentais do trabalho com servidores mágicos.

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