Diversas culturas de várias partes do mundo têm mitos e lendas relacionados a dragões. Nossa visão contemporânea pode fazer que pareça óbvio associar um fóssil de dinossauro com o dragão dos mitos. Mas entenda – a paleontologia é uma disciplina relativamente nova, e a maioria destes povos tirou inspiração para suas lendas draconianas de algum outro lugar.
Mitos Draconianos
Dragões são associados a coisas diferentes ao redor do mundo. Não existe um consenso, por exemplo, em relação a um elemento. O dragão europeu é normalmente ligado ao fogo, enquanto o oriental costuma estar vinculado à água, e alguns outros estão até mesmo associados ao ar.
Nos mitos mais antigos, como os sumérios, egípcios e gregos, o dragão está ligado ao Caos, à força desordenada e preexistente que existia antes daquilo que conhecemos objetivamente. É o caso, por exemplo, de Tiamat e Tífon. Estes dragões primordiais são considerados forças indomáveis e extremamente poderosas.
Outras mitologias associam o dragão com a sabedoria. Os dragões da China e do Japão, por exemplo, são conhecidos por sua sabedoria, e alguns concedem desejos àqueles que os encontram (e têm coragem de encará-los de frente). Um exemplo bem conhecido por quase todos nós é Shen Long, de Dragon Ball. Mas essa visão não se limita à Ásia. Quetzalcoatl, a Serpente Emplumada da América Central pré-colombiana, também está associada a sabedoria, ensinamento e aprendizado.
Outra importante associação draconiana é a selvageria, o barbarismo. O dragão é aquilo que se deseja suprimir. Um bom exemplo disso é São Jorge, que ao vencer o dragão simboliza a vitória do cristianismo sobre o paganismo, tornando-se um campeão da nova fé.
Filhos do Dragão
Um dos temas recorrentes na tradição esotérica é a origem dos poderes e da capacidade mágica – o chamado “sangue bruxo”. Uma visão sobre esse tópico indica que o conhecimento, a cosmovisão, a sabedoria, a clareza de pensamento necessária para o adepto vêm de sua ascendência draconiana.
A palavra “dragão” é derivada do grego “edrakon”, que é um aoristo da palavra “derkesthai”, que significa “ver claramente”. O Dragão é, portanto, o Dragão herdado, como arquétipo, e que o arquétipo é a visão clara de conduta através do qual flui o conhecimento da raça. Visão clara também se refere principalmente à consciência transcendente.
De Vere, citado por Nicholaj de Mattos Frisvold – A Arte dos Indomados, p. 53
A “ascendência” em questão não é necessariamente sanguínea. Pode ser resultado de “confrontar” o dragão e receber dele conhecimentos, como é o caso com os dragões asiáticos e mesoamericanos. E pode, é claro, resultar de uma continuidade da tradição draconiana, existente há milênios na Mesopotâmia e no Egito – como é o caso da Corrente Tifoniana, hipótese defendida por Kenneth Grant.
O Dragão dos Céus
Grant também aponta outra associação draconiana – a constelação de draco, muito usada por povos da antiguidade como referência para cômputo de tempo.
A constelação do Dragão aparece no céu do hemisfério norte, próxima à Ursa Maior. Sua posição celeste está ligada ao ponto em que o Sol “morre”. Por isso é relacionada à noite, ao abismo e ao inframundo. Simbolicamente, tem semelhanças com Nuit, em uma versão desprovida de qualquer moralidade.
A constelação do Dragão deixou de ser usada como mecanismo de cômputo do tempo na mesma época em que o Sol assumiu essa função. E, naturalmente, as mitologias acompanharam essa mudança. As divindades fálico-solares passam a ter maior importância. O protótipo da lenda de São Jorge está escrito nas estrelas.
O Poder do Dragão
Na mitologia gnóstica e na doutrina thelêmica, o Dragão está também associado a Apófis, que representa o poder negro da escuridão ou da noite. Apófis (A) interliga I (Ísis) e O (Osíris) na clássica fórmula mágica de IAO. A união do feminino com o masculino, do negativo e do positivo, só rende frutos mágicos se carregados com o poder de Apófis. Nesta fórmula, o Dragão representa a vibração da Corrente Ofidiana. Sem esse poder, essa união não possui significado ou efeito mágico. O poder do dragão é, portanto, o combustível que alimenta a mágicka sexual.
Tudo Coisa da Sua Cabeça
É fato científico conhecido que nossos cérebros são compostos de diversas partes semi-independentes, que foram se acumulando ao longo do processo evolutivo. Peter J. Carroll, em seu Liber Null e Psiconauta, argumenta que o verdadeiro Dragão não está nas estrelas, nem no caos primordial, nem nos rios e mares, nem na Corrente Ofidiana. Está em nossas cabeças.
O dragão das nossas mitologias dorme dentro de nossas cabeças. A evolução nos deixou com três cérebros. (…) As partes mais primitivas do cérebro são algo que os mamíferos, incluindo nós, compartilham com os répteis. O humano tem um homem, um lobo e um crocodilo vivendo dentro de seu crânio.
Peter J. Carroll – Liber Null e Psiconauta, p. 179
Essa parte de nossos cérebros é normalmente controlada e suprimida pelas outras, mais evoluídas. Mas entra em ação, por exemplo, em situações de vida ou morte. Ela não é, de forma alguma, inútil, nem mesmo no curso ordinário dos acontecimentos de nossas vidas. E é claro que também pode ter aplicações mágicas.
Libertando o Dragão
Diz o ditado que “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Mas se o “bicho” em questão for o Dragão, você tem outras opções.
Somos ensinados desde pequenos a controlar nossos instintos. São Jorge, matador de dragões, é celebrado como herói até hoje. Desde que Tolkien escreveu O Hobbit, o dragão ficou marcado a ferro e fogo como o grande vilão em nosso imaginário. Mas não precisa ser assim. O dragão não precisa ser derrotado nem vilanizado.
Aprender a libertar e controlar o poder do dragão – seja como circuito cerebral, símbolo de poder, divindade, poder caótico ancestral, arquétipo astrológico, ou o que quer que seja – é uma excelente ferramenta para o adepto. Isso significa acessar uma fonte de poder imensa, ancestral e selvagem. O poder, a sabedoria, o conhecimento, a capacidade de realizar desejos – todos estes frutos podem se originar do despertar do dragão.
O dragão é retratado como temível, e isso não é à toa. Lidar com o dragão não é um passeio no parque, e essa tarefa não deve ser levada como uma brincadeira. Mas aqueles que conseguem acessar este repositório de energia têm um grande poder à sua disposição.
Diversas obras tratam do tema do poder draconiano, suas aplicações mágicas e como despertá-lo. O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, explica como os povos antigos trabalhavam com esta corrente, e como podemos restaurá-la nos dias de hoje. Do mesmo autor, Aleister Crowley e o Deus Oculto entra em mais detalhes sobre a aplicação do poder de Apófis na mágicka sexual Thelêmica. Em A Arte dos Indomados, Nicholaj de Mattos Frisvold aborda o tema da hereditariedade mágica, do sangue bruxo, e como o Dragão está presente nos ritos da noite e da escuridão. Finalmente, Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll, trata dos diversos circuitos presentes em nossos cérebros, e como aplicar magicamente cada um deles.
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