Um dos muitos nomes pelos quais Istar era chamada na Mesopotâmia era Deusa Quinze. Esse nome também já foi dado a outras divindades, como Kali e Inanna. Mas se são ligadas a Vênus, cuja atribuição numérica costumeira é 7, por que a associação com o 15?
A Deusa Quinze e o Ciclo Lunar
Um ciclo lunar completo tem vinte e oito dias. A lua leva quatorze dias para passar de nova a cheia, e mais quatorze para passar de cheia a nova. O ciclo, então, se repete indefinidamente.
Este período de vinte e oito dias, por muito tempo, foi um importante mecanismo de cômputo de tempo para a humanidade. Era o que determinava o tempo das caçadas, e até a fertilidade e a procriação de nossa espécie. Uma herança que carregamos até hoje é o ciclo menstrual feminino, que dura (cerca de) vinte e oito dias. Estes ciclos (menstrual e lunar) têm uma tendência maior à sincronia nos povos que vivem em maior contato com a natureza.
Mas se cada metade do ciclo tem quatorze dias, e há uma clara ligação com o ciclo lunar, de onde vem a tal “Deusa Quinze”?
As Quinze Etapas
Entre cheia e nova, ou entre nova e cheia, a lua passa por quatorze etapas. Os antigos hindus atribuíam uma divindade a cada uma dessas etapas, e cerimônias adequadas eram celebradas em cada uma dessas luas. Em cada uma dessas etapas lunares, a representante das Deusas na Terra – a Mulher, a Sacerdotisa – também apresentava um equilíbrio hormonal diferente, que afetava suas emanações sutis. Mas havia também a Deusa Quinze, apesar de não haverem quinze luas.
A décima quinta emanação, o décimo quinto raio, se manifestava na sacerdotisa quando a energia criativa (ou destrutiva) do meio-ciclo lunar chegava a seu ápice. Não há uma lua específica para representar este momento. Trata-se de um estado de poder extremo.
No ápice do meio-ciclo lunar e menstrual, a sacerdotisa treinada se torna a própria Deusa Quinze. Seus poderes são incalculáveis – seja para a criação, a destruição, ou mesmo para a profecia.
E é por essas múltiplas atribuições que a Deusa Quinze está tão ligada à deusa Kali.
As Naturezas de Kali
Kali é uma das deusas mais complexas e difíceis de se explicar em poucas palavras. É retratada como a Mãe do Universo, e também como sua destruidora. Tem uma aparência terrível, mas é considerada uma das deusas mais bondosas. É comum que seja representada nua, pois não é afetada pelas ilusões de Maya.
Istar também apresenta aspectos aparentemente desconexos. É uma Deusa da Guerra, mas também da Fertilidade. Esta deusa encontra uma contraparte na Inanna dos sumérios. Os motivos são os mesmos presentes no culto de Kali. Mesmo estando associadas a Vênus, estas deusas são profundamente lunares em suas essências.
Kali é morte e destruição, num ciclo sem fim. Como as fases da lua. No fim das contas, Kali é uma Deusa do Tempo. Da passagem do tempo, da vida sendo consumida e gerada novamente conforme o tempo passa. Dos ciclos, da lua. Kali é a verdadeira Deusa Quinze. E seu Yantra representa isso de forma clara.
O Yantra de Kali
O Yantra de Kali representa os principais aspectos da Deusa Quinze em formas geométricas. Vemos ao centro da imagem cinco triângulos, totalizando quinze pontas – que são representativas das quinze etapas da Lua em sua metamorfose. A Deusa Quinze é circundada por três círculos, que representam as três formas de consciência de acordo com o conhecimento hindu. Estes círculos, por sua vez, são cercados por oito pétalas, que representam o poder de manifestação da Deusa se propagando para as oito direções. Neste sentido, as oito pétalas representam exatamente o mesmo simbolismo da Estrela do Caos.
Cinco triângulos (5 x 3) totalizam quinze, mas todos aprendemos na escolinha que a ordem dos fatores não altera o produto. O mesmo simbolismo está presente na Coroa do Magista dos escritos de Crowley. Mas, neste caso, aparece como três pentagramas (3 x 5). Eles também são envoltos por um círculo (a própria coroa). Muda o verniz cultural, mas o simbolismo da Deusa Quinze se mantém.
Celebrar os mistérios de Kali (ou Inanna, ou Istar), vinculados às fases da lua e ao ciclo menstrual feminino, é a chave para a libertação do poder da Deusa Quinze. Estas associações são expostas em detalhes por Kenneth Grant em Aleister Crowley e o Deus Oculto, publicado pela Penumbra Livros.
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