Diz o ditado que “se você quiser algo bem feito, faça você mesmo”. Assim como a maioria dos ditos populares, esta não é uma verdade universal. Se aplica em alguns casos, mas em outros não. De qualquer forma, algumas tarefas são simplesmente trabalhosas demais, consomem tempo e esforço demais. Pense, por exemplo, na vida de uma pessoa que trabalha muito, fora, o dia inteiro. Como essa pessoa consegue manter a casa limpa e arrumada? Ela pode, é claro, passar as madrugadas limpando a casa. Mas também pode conseguir alguém para fazer essa faxina, em troca de dinheiro. Na verdade, é bem provável que esse profissional da limpeza faça um serviço melhor do que nosso hipotético trabalhador de escritório. Na magia não é diferente. Para essas tarefas que não podemos nos dar ao luxo de fazer por conta própria, existem os servidores.
De onde vem os servidores
As operações mágicas básicas são encantamento, divinação, invocação, iluminação e evocação. O uso de servidores cai nessa última categoria, e é o único tipo de magia no qual o operador não é o principal agente da mudança.
A diferença entre invocação e evocação é simples. Quando você invoca alguma entidade, você está chamando ela para dentro de si. Quando evoca, você está projetando uma entidade para fora, para que se manifeste externamente a você. Viu como é simples?
E o uso de servidores é uma dessas operações em que você faz com que uma entidade se manifeste, de forma semi-senciente, fora de você. Mas ela não precisa se originar fora de você. Na verdade, o Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll, considera três tipos de entidades que podem ser evocadas: as descobertas de forma clarividente, as listadas nos grimórios, e as criadas pelo próprio magista.
A origem das entidades descobertas clarividentemente é questionável. As listadas nos grimórios podem ter sido criadas (ou descobertas) por alguém há muito tempo, mas vem sendo energeticamente alimentadas desde então. As criadas pelo magista são aquelas que você pode criar sob medida para resolver os seus problemas.
Tipos de entidades
Em Caostopia, Dave Lee apresenta os principais tipos de entidades que se pode evocar, apontando as principais diferenças entre elas. Resumindo muito, temos os seguintes tipos:
- Servidores, que podem ser criados de acordo com especificações bem definidas;
- Elementais, forças naturais que precisam ser “caçadas” no astral e convencidas a trabalhar em conjunto;
- Tulpas, similares aos servidores, mas mais generalistas – trabalham em troca de aumento de inteligência, podendo se tornar extremamente poderosas;
- Egrégoras, consciências ou entidades coletivas de certos grupos de pessoas;
- Deuses, egrégoras antigas, do conhecimento de muitos, com muito poder acumulado;
- Totens, similares às egrégoras, mas com a característica de “devorar” e assimilar o totem dos povos derrotados;
- Atavismos, como definidos na visão de Austin Osman Spare;
- Humanos divinizados, pessoas que já viveram mas atingiram status de divindade, devido à adoração após suas mortes.
Não há aqui uma hierarquia bem definida. Um simples servidor, quando bem construído, pode trazer resultados melhores do que deuses. (Na verdade, isso é bem comum.) Mas há particularidades no uso de cada uma dessas categorias, que devem ser levadas em conta.
Mas estamos falando aqui sobre servidores.
Por que usar servidores?
Para causar efeitos tangíveis no universo externo, normalmente a forma mais simples é usar de simples encantamentos. Mas às vezes eles não são a melhor escolha.
Por exemplo, uma tarefa mágica pode demandar esforço continuado, ou exigir ação em uma janela de oportunidade muito específica. E você não tem disponibilidade para passar dias e dias sem fazer nada além dessa tarefa. Nessas horas, ajuda é muito bem-vinda, e servidores são provavelmente a melhor escolha.
Servidores também podem agir como intermediários entre pessoas. Por exemplo, se você por algum motivo não deseja trocar energias com uma pessoa desagradável a você, mas pretende agir magicamente sobre ela, um servidor pode ser uma boa solução.
Finalmente, uma grande vantagem dos servidores está na sua praticidade. Depois da primeira vez (ou das primeiras vezes) que você trabalha com um servidor, você já emprestou energia suficiente para que ele tenha autonomia para desempenhar suas funções. E a partir desse ponto, você pode dispensar um ritual mais complexo, e pode ativá-lo de forma mais simples e rápida. Magia de guerrilha para o dia a dia.
Servidores dos outros
Você não precisa criar todo servidor que quiser trabalhar. Também pode usar um servidor “coletivo” – um servidor que está aí, na internet, em algum livro, ou grimório (como os demônios goéticos, por exemplo). Essas entidades existem, (algumas) são bem reais. Às vezes, ao começar a usar um servidor sobre o qual você não sabe muito, é possível adquirir conhecimentos sobre ele, que mais tarde mostram-se corretos. É como se a informação sobre o servidor existisse em um âmbito de não-localidade, ou como se houvesse uma forma de telepatia entre seus usuários.
Tudo parece muito bom, mas existe aí um problema. Você não sabe como esse servidor foi criado. A despeito do que te disseram sobre ele, você não sabe qual é o verdadeiro propósito dessa entidade, até estar afundada até o pescoço em trabalhos com ela. Você quer mesmo alimentar com sua energia uma inteligência cujo verdadeiro propósito lhe escapa? Se você tem plena confiança no criador do servidor, ótimo para você. Caso contrário, talvez a melhor alternativa seja fazer o seu próprio servidor.
Criando Servidores
Servidores podem existir apenas nos planos sutis, ou estar ligados a bases materiais. Estas podem ser de qualquer espécie – objetos inanimados, criaturas vivas, lugares… A imaginação é o único limite. De qualquer forma, para criar um servidor com sucesso, o Liber Null aponta a necessidade de, no mínimo, os seguintes três passos:
- Criar uma relação – é preciso definir como é o servidor que você pretende criar. Quanto mais detalhes, melhor;
- Emprestar energia – o servidor vai sair de dentro do seu pensamento para se manifestar no mundo exterior. Então, nada mais justo do que você emprestar uma parte da sua energia, da sua força vital, a ele.
- Banimento – quando o trabalho estiver concluído, force-se a esquecer a respeito do servidor e de seu objetivo. Só assim ele terá liberdade suficiente para realizar sua função.
Os passos podem parecer simples – e realmente são – mas é importante dedicar algum estudo e esforço a essa tarefa. Estudando mais você pode assimilar dicas importantes – como, por exemplo, não ter muitos servidores ativos de cada vez. Assim você pode evitar resultados negativos, que vão desde o mero fracasso até a criação de inimigos incontroláveis.
No fim das contas, usar servidores não é uma solução preguiçosa, assim como contratar um profissional da limpeza não é. Mas a não ser que você saiba exatamente o que está fazendo, o dito popular se mantém: se quiser um servidor bem feito, faça você mesmo.
Se você quiser saber mais sobre servidores e evocações em geral, recomendamos as fontes que já citamos ao longo do texto: Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll, e Caostopia, de Dave Lee. Os dois estão disponíveis na loja da Penumbra Livros (inclusive como um pacote promocional), e o Liber Null também está disponível nas grandes livrarias.
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