Eu sei, eu sei. Dimensões invisíveis, universos paralelos e o “quantum” podem explicar qualquer coisa. E é muito fácil teorizar sobre o que não pode ser provado nem refutado. Eu sei. Mas essa hipótese do Universo Quadridimensional é realmente interessante.
É consenso geral que nós vivemos em uma realidade com ao menos três dimensões. Cientistas há décadas tentam formalizar a possibilidade de que talvez haja mais dimensões – quatro, cinco, doze, não importa. Para os céticos de plantão, o próprio São Carl Sagan dá uma explicação muito boa (o vídeo está dublado em português):
Muitas vezes na história da humanidade, as charadas existenciais foram decifradas não pela ciência, mas pelo estudo do oculto. Na verdade, os dois campos se confundem bastante. É desnecessário lembrar das contribuições dos alquimistas, astrólogos, curandeiros e outros tantos para o corpo de conhecimento científico da humanidade. Mas se você acha que esse tempo passou, está enganado. Até hoje há magos cientistas trabalhando com a interseção do estado da arte da tecnologia nesses dois campos.
Um desses é Peter J. Carroll, pioneiro da Magia do Caos e físico teórico de mão cheia, desenvolveu em seus trabalhos mais recentes uma teoria de hiperdimensionalidade. Talvez a forma mais palatável de entender suas teorias é lendo The Octavo (ainda não lançado em português – mas quem sabe?), e o seu próprio site. Mas, resumindo bastante, a tese é a seguinte.
Oito dimensões?
Muita gente diz que uma suposta quarta dimensão seria o tempo. Esse não é o caso com Carroll – na verdade, ele propõe que o espaço é quadridimensional, e o tempo tem mais quatro dimensões. Isso daria um total de oito dimensões. Não vou aqui tentar explicar o aspecto temporal de sua hipótese. O conceito de Carroll sobre “shadow time” é muito peculiar e merece um texto à parte. Estamos aqui falando exclusivamente de espaço.
Uma dimensão pode ser representada por um ponto. Duas dimensões, por um círculo. Três dimensões, por uma esfera. O entendimento que o senso comum do ser humano tem é de que o espaço é tridimensional. Há muita discussão na comunidade científica sobre o Universo ser finito ou infinito, limitado ou ilimitado. Em todo caso, considerando um universo tridimensional, temos duas afirmações inegáveis:
- Do ponto onde estamos, parece que estamos no centro do universo (o que pode ser comprovado pelas medições de desvio para o vermelho – não vou me aprofundar nesse tema);
- Supondo que fosse possível andar, em uma velocidade impossível, alguns bilhões de anos-luz em qualquer direção, (a) vai chegar uma hora em que o universo vai acabar ou (b) vamos seguir para sempre, vendo coisas novas, e nunca encontrar o fim.
Espaço Quadridimensional
Em quatro dimensões, extrapolamos o ponto, o círculo e a esfera, e entramos em uma nova forma geométrica: a hiperesfera. Isso não é piração minha, é uma forma geométrica genuína. Seu análogo “quadrado” seria o hipercubo, recentemente popularizado pela Marvel – o Tesseract.
A hiperesfera é uma estrutura profundamente perturbadora, um tanto lovecraftiana, e é meio inútil tentar explicá-la com palavras. Eis uma representação tridimensional de uma hiperesfera em movimento:
E se o universo for uma hiperesfera, acontece uma outra coisa caso andemos indefinidamente em uma direção: nós mais cedo ou mais tarde vamos voltar ao ponto de partida. Mais ou menos do mesmo jeito que uma formiga volta ao ponto de partida se começar a andar em volta de uma bola de futebol.
Não vou entrar nas implicações mágicas ou ocultas desse fato (e elas não são poucas), mas isso justifica uma das coisas que percebemos quando consideramos o universo tridimensional: um observador em qualquer ponto de um universo quadridimensional terá a impressão de que está no centro de tudo. Isso acontece porque ele está, de fato, no centro. Porque o centro são todos os lugares, e lugar nenhum.
Hoje nós olhamos para o pensamento geocêntrico com certo desprezo, com um ar de superioridade. Como é possível que homens esclarecidos pensassem que somos importantes a ponto de o Sol e os outros astros girarem ao nosso redor?
E é exatamente esse mesmo tipo de pensamento antropocêntrico que temos ao pensar que nossa posição calhou de ser exatamente o centro do universo.
E isso nos leva ao Livro da Lei.
AL, II:3
O físico / mago Peter J. Carroll não nutre grandes amores pelas pirações de Aleister Crowley, então é improvável que tenha baseado o trabalho de sua vida em uma linha sem importância particular do Livro da Lei. Mas isso não impede uma mesma verdade de estar expressa de duas formas em linguagens diferentes. E Nuit afirma:
Na esfera eu em toda parte sou o centro, uma vez que ela, a circunferência, é em lugar algum encontrada.
Liber AL vel Legis, II:3
Isso com certeza me dá o que pensar. E você? O que acha dessa maluquice toda? Deixe sua opinião nos comentários!
Se quiser conhecer melhor os fundamentos das teorias de Peter J. Carroll, um bom ponto de partida é o seu primeiro livro, Liber Null e Psiconauta, no qual ele ainda não havia enveredado por esse caminho, mas é uma leitura importante para tirar o máximo de proveito de suas obras posteriores. Você encontra o Liber Null e Psiconauta na loja da Penumbra Livros. Uma explicação formal (não é para iniciantes!) dessa hipótese está neste paper científico do próprio autor.