Malleus Maleficarum: O Martelo das Feiticeiras

Malleus Maleficarum: O Martelo das Feiticeiras

Por Laphroaig Al’Hazred

Já explicamos como a Bruxaria foi um fenômeno inventado pela Igreja Católica (embora a sua prática seja muito anterior a isso), e contamos como essa mesma Igreja perseguia sem perdão qualquer um que se opusesse à sua fé. Agora é a vez de falarmos de uma das estrelas dessa perseguição: o infame Malleus Maleficarum.

Socadão que nem martelo!

A magia só entrou para o rol das heresias no século XIV já que, diziam as más línguas, suas práticas implicavam em pactos demoníacos e, pior ainda, infidelidade com a fé cristã! Quando o papa João XXII emitiu a bula Super Illius Specula, ele autorizou a Inquisição a lidar com os praticantes das artes diabólicas.

No século XV começaram a surgir processos contra a feitiçaria e tratados de demonologia, até que na década de 1480 dois dominicanos alemães, Heinrich Kraemer e James Sprenger, publicaram o Malleus Maleficarum Maleficat & earum haeresim, ut framea potentissima conterens (e tem gente que acha o título do Principia Discordia grande e sem sentido).

O que algumas pessoas acham que sabem é que o tal Malleus Maleficarum, também conhecido como O Martelo das Feiticeiras, foi uma obra encomendada pelo papa Inocêncio VIII como um manual de combate aos praticantes de heresias. O que quase ninguém sabe é que o livro nasceu porque Kraemer era um melindroso, um futricado, alguém que não aceitava bem críticas. Anos antes ele havia empreendido esforços para processar mulheres suspeitas de bruxaria e mesmo encontrando povoados repletos de feiticeiras. As autoridades locais mostraram-se relutantes em fazer qualquer coisa contra elas. Kraemer tentava conectar “desvios sexuais” femininos com a bruxaria, mas sem sucesso algum: muitos espectadores do clero chegaram a afirmar que ele reivindicava algo que não poderia provar, e seus processos foram arruinados. Ele insistiu em tentar reavivar os processos, mas só obteve negativas. Até que, finalmente, recebeu uma ríspida ordem episcopal para sair da cidade, ou ficar e sofrer a ira das famílias cujas esposas e filhas ele tinha ofendido.

Como um religioso culto, maduro e equilibrado, ele escreveu o livro como forma sistemática e abrangente descrever as bruxas, seu caráter e comportamento, e ainda expor um resumo das medidas legais e espirituais a usar contra elas. Um dos pontos mais marcantes desta obra é mostrar a bruxaria como algo exclusivamente feminino – os homens que trabalham com as formas populares de magia são chamados de superstitiosi ou de magi, ao invés de bruxos malefici. Os bruxos são exceções; os magos não são bruxos, eles só fazem uso de poderes naturais ocultos ou são pessoas iludidas, pensando que agem sob comando ou influência do demônio, embora claramente eles, ao contrário das bruxas, jamais poderão estar ligados ao diabo, pois isto só ocorre por meio de um pacto explícito selado com a relação sexual.

Nenhum tratado anterior foi tão enfático em mostrar o sexo feminino como instrumento satânico quando este. Não é exagero afirmar que quem quer que já tenha lido uma cópia do Malleus Maleficarum teve em mãos o documento responsável pela demonização da mulher, o mais perverso e cruel manual de ódio, tortura e morte feminina.

 

No próximo texto dessa série, vamos falar sobre como a Igreja, munida com a misoginia do Malleus Maleficarum, esticou seus bracinhos para fora da Europa e chegou a queimar “bruxas” em Salem e até no Brasil. A Arte dos Indomados, de Nicholaj de Mattos Frisvold, fala mais sobre como o Malleus Maleficarum foi escrito por dois imbecis, e apresenta seus temas centrais. O livro pode ser encontrado na loja da Penumbra Livros.

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