Muita gente acha que na Magia do Caos, tudo é esculhambação. Realmente, essa corrente mágica surgiu como um rompimento com o cerimonial excessivo e exagerado das manifestações “clássicas” da magia. Normalmente os ritos Caoistas usam apenas os elementos essenciais para alcançar seus objetivos. O desprezo à solenidade vem também de uma certa influência discordiana (vide Principia Discordia, páginas 00061, 00074 e 00119). Em muitos casos, referências pop são usadas nos trabalhos de magia do caos, no lugar de divindades ancestrais e muito pouco relevantes para nossos subconscientes do século XXI. Mas mesmo com este curioso conjunto de fatores (não solenidade, referências pop, minimização de elementos rituais), ainda restam cerimônias “sérias” na magia do caos. A Missa do Caos é um ótimo exemplo.
Existe Mais de uma Missa do Caos?
Sim, existe mais de um ritual chamado Missa do Caos. Mas aqui estamos falando da original, a Missa do Caos B.
Mas… se é B, é realmente a original? Não deveria ser A?
Na verdade, a Missa do Caos B originalmente só se chamava Missa do Caos, e nada mais. Outros ritos de natureza similar foram desenvolvidos a posteriori, e foram também “apelidadas” de Missa do Caos.
Por exemplo, a Missa do Caos A é uma invocação de Azathoth (de onde vem o A). A Missa do Caos C é a Missa de Choronzon (de onde vem o C).
Agora ficou fácil adivinhar de onde vem o B da Missa do Caos B!
A Invocação de Baphomet
Essa é a principal diferença da Missa do Caos para uma eucaristia convencional: enquanto a missa cristã normal é, do ponto de vista cerimonial, apenas uma encenação dos mistérios dessa fé, a Missa do Caos sempre tem um objetivo específico.
A Missa do Caos B (ou apenas Missa do Caos) consiste basicamente de uma invocação de Baphomet, e seu propósito é aberto. O celebrante, tendo assumido a forma-deus de Baphomet, está naturalmente mais carregado de energia mágica do que o seu normal. É um estado de energia e consciência ideal para quaisquer operações mágicas – lançar encantamentos, buscar iluminação, fazer evocações, e até mesmo como um ponto de partida para outras invocações.
A Estrutura da Missa do Caos
O cerimonial da Missa do Caos não é complexo, e consiste de poucas etapas. Todas são altamente adaptáveis às circunstâncias e objetivos, e até o número de participantes é flexível. É possível realizar este rito sozinho, em grupos com dezenas de pessoas, ou em qualquer outra configuração, fazendo as adaptações necessárias.
Preliminares
A primeira coisa a se fazer é preparar o ambiente e os celebrantes – com a parafernália necessária, consumo de sacramentos e realização dos ritos preliminares.
Em seguida, há a declaração de intenção – passo fundamental no cerimonial mágico. Isso é seguido por uma evocação Enoquiana do Caos, que apresentamos na íntegra abaixo. (Evite ler em voz alta se não pretende fazer a invocação.)
OL SONUF VAROSAGAl GOHU
VOUlNA VABZIR DE TEHOM QUADMONAH
ZIR ILE IAIDA DAYES PRAF ELILA
ZlRDO KlAFI CAOSAGO MOSPELEH TELOCH
PANPIRA MALPIRGAY CAOSAGl
ZAZAS ZAZAS NASATANATA ZAZAS
A tradução completa da Invocação do Caos está no Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll, mas o sentido do último verso, Zazas Zazas Nasatanata Zazas é abordado nesse texto.
A Invocação
A invocação de Baphomet propriamente dita vem na sequência. O operador se prepara pelos meios que forem necessários (vestimentas ou a ausência delas, concentração, etc.). É nesse ponto que a energia mágica (Kundalini, Chi, etc.) é desperta e erguida dentro do operador. Há várias formas de cumprir esse passo.
O operador conclui a invocação de Baphomet recitando a litania aeônica, que apresenta a imagem de Baphomet associada a cada um dos aeons.
Concluída a invocação, o operador se ocupa do objetivo da Missa do Caos. É nessa parte que não adianta muito ter um plano pré-estabelecido – a energia de Baphomet é intensa e selvagem demais para se ater a planos. Se a invocação tiver sido bem executada, basta seguir o fluxo e confiar – tudo deve dar certo.
Arrumando a Casa
Isso conclui os passos principais da Missa, mas ainda é preciso encerrar os trabalhos. É comum que a invocação seja muito intensa, e pode ser preciso aplicar um exorcismo sobre o operador. Embora essa etapa seja opcional, a seguinte não é – um banimento é fundamental para encerrar o rito sem que os celebrantes misturem essa intensa carga caótica com seus afazeres mundanos.
Existe um Roteiro “Oficial”?
A resposta curta é: não. Mas no Liber Null e Psiconauta, o autor Peter J. Carroll detalha melhor cada uma das etapas, e dá conselhos práticos para realizar o ritual com sucesso e sem contratempos.
A Missa do Caos é um dos cinco Ritos do Caos descritos em detalhes no Liber Null e Psiconauta. Se você quiser saber mais sobre estes ritos, o livro está disponível na loja da Penumbra Livros.
Veja também:
A obra que influenciou a Magia do Caos
Religião Pop Comparada: Azathoth vs. Delírio dos Perpétuos
Choronzon, o Senhor da Dispersão
Saiba mais sobre o Liber Null e Psiconauta
Entrevista com Peter J. Carroll