Por Raphael Fernandes, editor e roteirista da Editora Draco (vim só pelo merchan)
Quando me ofereci para ser convidado a escrever um texto sobre o descartável livro Principia Discordia, fiz questão de negar a proposta logo de cara. Mas como a Penumbra Livros me prometeu um cacho de bananas e um churrasco grego sagrado, não pude negar.
Foi quando percebi que a única forma de escrever sobre esse marco da falta de coerência e da ausência de objetivos na vida… era sendo tão caótico quanto possível. Para isso, desenvolvi 5 pontos irrelevantes para quem quer entender e viver sob a luz estroboscópica da Deusa Éris, ou de seu primo mendigo Jesus Noé.
1- Quando eu me tornei Papa do Discordianismo
Para não dizerem que sou ególatra, vamos dizer que essa primeira parte é sobre um amigo meu, que tem o mesmo nome que o meu e faz a mesma coisa, mas não quis se identificar.
Se tem uma pessoa com qualificações e referências para ser um Papa do Discordianismo, certamente não é esse meu amigo. Mesmo assim, tudo começou para mim (ou melhor, pra ele) quando tive (ele teve) a fracassada ideia de fazer um curso de História para virar escritor. Logo quando vi (ele viu, caramba) que tinha feito uma péssima escolha profissional, acabei (ele acabou, merda) virando editor de quadrinhos. Especificamente da revista MAD, a mais antiga e emblemática publicação de humor do mundo, só que na versão pobre, capenga e desesperada para o público brasileiro. Antes que me perguntem (perguntem pra ele, inferno) qualquer coisa, depois de 9 anos tentando explicar que eu (ELE, eu disse ELE) era editor por engano, eles aceitaram minha (minha o diabo, a dele) demissão e cancelaram o título. Ufa!
Enquanto isso, me (eu vou chorar, sério) meti em outras coisas completamente desagradáveis e igualmente desimportantes como editar o site de contracultura pop Contraversão e a me (me, mi, comigo… MORRA) tornar editor, roteirista, sócio, bailarino e mago da Editora Draco, uma casa editorial voltada para o terror, fantasia e ficção científica em quadrinhos e literatura. Claro que tudo isso não me (meme ou mene?) trouxe fama e fortuna, mas dívidas e má fama. Porém, estou (ele está, eu não tô nada) aqui por conta disso tudo.
Por (aqui o sujeito é oculto, ufa) não estar entendendo nada e totalmente fora de órbita, acabei (se acabou mesmo) me encontrando em círculos ocultistas, paranoicos e doentios. Comecei a jogar Tarot (ele joga lá no Viaduto do Chá), praticar Magia do Caos (precisa ver como ele faz imposto de renda), escrever sobre fatos estranhos (estranho mesmo é quando ele escreve) e buscar no ocultismo respostas para perguntas que eu nem mesmo tinha pensado em fazer (como por que diabos estou falando de mim mesmo aqui). Foi quando caiu em minhas mãos (nas mãos dele também) um exemplar gringo de Principia Discordia e minha vida mudou…
Tá, não mudou porra nenhuma, mas foi uma baita leitura divertida! E chegou a sua hora de ler esse livro sagrado do caos e das aleatoriedades.
2- A Banana é mais forte que a espada
Seguindo os conselhos obtidos na obra “Grouxo-marxismo”, de Bob Black, o humor é a melhor ferramenta para desestabilizar o sistema e apanhar bastante da polícia. Pensando nisso, decidi deixar minha já raquítica humildade de lado e fazer aqui alguns ajustes para que Principia Discordia faça sentido para o público brasileiro.
ATENÇÃO – Apenas adianto que não sou nem um pouco engraçado e nem estou me esforçando para fazer ninguém rir. Quero apenas fazer sua leitura mais lubrificada e alargada com um ou dois dedos antes de enfiar esse monte de merda na sua cabeça.
Um dos principais símbolos do Discordianismo é a maçã dourada, que não faz o menor sentido para o brasileiro. Afinal, esse símbolo eurocentrista de poder não nasce naturalmente em nossas terras, apenas em fazendas da Turma da Mônica. Reza a lenda que quando os portugueses (ou seriam os vikings?) desembarcaram por aqui, os indígenas seguiam uma estranha divindade cujo símbolo era uma banana dentro de um heptágono com um símbolo de um tamanduá bandeira numa das pontas e um sigma dos integralistas na outra.
Em 2014, teóricos discordiaistas ligariam o símbolo heptagono ao famigerado 7×1 que o Brasil levou da Alemanha na Copa do Mundo. (Acredito que o verdadeiro significado desse sigilo seja que não há significado algum.)
Porém, pude perceber algumas conexões estranhas e assustadoras em nossa cultura ao notar que um obscuro ator carregava em si a marca da Banana Discordiana em sua face. Sim, estamos falando de Éris Johnson, que por muito tempo carregou o nome da deusa de uma forma tão óbvia que ninguém nunca notou. Tanto que ele construiu sua própria cabala de erisianos com outras pessoas que portavam tal marca, como a apresentadora Angélica [lembra quando ela e Éris fizeram sua própria versão do mundo mágicko com a novela Caça Talentos (bate na testa, Fada bela)?]. Outra de suas parceiras foi a pubianamente farta Claudia Ohana que dizem portar a marca de Éris em seu próprio instrumento reprodutor, mas não temos provas e preferimos acreditar que tudo isso é boato. Ohana nas alturas!
IMPORTANTE: A polarização Banana x Maçã é a verdadeira disputa que deve ser feita em suas redes sociais. Os tecnocratas querem fazer você acreditar que o que interessa é biscoito x bolacha, mas a realidade é que essa é apenas uma corruptela da verdadeira discussão para te distrair sobre o que é a realidade.
3- Nunca encare os olhos de Jesus Noé
“Diga-me com quem andas, eu te direi quem és.”, afirmou rindo Jesus Noé a um cadeirante.
De todas as manifestações tupiniquins (o que isso significa?) da Deusa Éris, certamente a mais irrelevante é a entidade mendigo Jesus Noé. Apesar de um pouco desconhecido, ele teve até mesmo uma comunidade no falecido Orkut que não me deixa mentir, JN foi um dos tripulantes da antiga embarcação de Noé (aquele maluco da Bíblia que os filhos comeram o toba, sabe?). Como todo coroinha aprendeu, Jesus Noé passou a viagem toda tomando o vinho que o Noé levou para a viagem e quando o velho colecionador de bichos foi comemorar a chegada em terra firme, encontrou apenas Jesus Noé vomitado, cagado e dormindo depois de transar com o casal de Girafas.
O que menos pessoas sabem é que Noé amaldiçoou seu parente Jesus Noé a se tornar um pedinte e que seu olhar destruísse a bebedeira de todos que o encontrassem. Desde então, Jesus Noé veio morar no Brasil e se disfarça de morador de rua. Se você estiver saindo com os amigos para beber e Jesus Noé trocar olhares com você, certamente sua noite será uma furada sem limites. Vai pisar na merda, vai sentar no vômito de outro bêbado, vão te confundir com algum cantor de Sertanejo e o segurança da balada vai achar que você tá cantando ele.
Por isso, fica a dica, se encontrar Jesus Noé, desista de beber. Afinal, ele te dá com uma mão e com a outra tira e ainda te dá um tapa no ouvido. E tapas no ouvido doem muito e podem prejudicar sua audição permanentemente. Por isso, estejam alertas; deem corotinho para os mendigos do seu bairro; e acima de tudo não convidem JN para sua noitada. Ou a girafa da noite pode ser você.
4- A redenção do churrasco grego
Quem leu Principia Discordia (e se você não leu, clique aqui para comprar), sabe que comer cachorros-quentes numa sexta-feira é uma forma de reforçar seu amor pela deusa. Afinal, o dogão representa o rompimento com todas as outras religiões e com o próprio discordianismo (que proíbe o consumo de pão de cachorro quente).
Após muita reflexão (aproximadamente 5 minutos), percebi que no Brasil temos a tradição de prensar o cachorro-quente. Alguns lugares usam purê de batatas e ovo de codorna. E, por tudo isso, Éris nos puniu com impostos altíssimos, taxas de juro exorbitantes e governantes que acreditam que para “melhorar a nossa vida” devem cortar saúde e educação pública por 20 anos.
Porém, como Éris é caótica e linda, deixou um caminho para nos redimirmos como nação e esse caminho é o consumo de churrasquinho grego às terças ímpares. Isso mesmo, meu amigo, Éris, após sair para comer um prensado e continuar com fome, acabou pedindo um churrasquinho grego e ficou encantada com o suco grátis adoçado por abelhas. Foi aí que ela teve a ideia de deixar esse adendo ao povo brasileiro, pois em sua sabedoria sabia que lançariam uma versão de seu evangelho em 2017.
Por isso, se você está tendo um dia de merda, suas contas não fecham no final do mês e seus amigos estão jogando Overwatch ao invés de sair com você, espere até a próxima terça-feira ímpar e coma um belo e suculento churrasco grego, mas não esqueça de jogar um golinho do suco grátis no chão para a deusa Éris.
5- Sobras, apêndices e glândulas pineais
Entre muitas outras brasilidades que podem ser inseridas no Discordianismo estão as questões do Brasil ser pentacampeão de Futebol (e logo em seguida perder seus poderes de maior seleção), os filmes terem nomes traduzidos sem nenhum critério e a existência dos malandro agulha.
Porém, dentre todas vale destacar que existe uma conspiração envolvendo o quadrinho O Rei AMARELO em Quadrinhos (não falei que ia ter merchan?), que por um acaso total foi publicado pela minha editora. Lembre-se que as bananas em seu estado máximo de poder são AMARELAS, durante a Copa do Mundo em que o Brasil iria ultrapassar o número da Éris o jogador Ronaldo AMARELOU, também não podemos esquecer que a parte mais obscura de nossa bandeira é AMARELA, os piores partidos políticos brasileiros têm a cor AMARELA em sua composição, as pessoas foram se manifestar as ruas com panelas e ideologias antiquadas usando camisas AMARELAS e seguindo um pato AMARELO. Por isso, cuidado ao comer uma banana sem saber de seu real poder e relevância ou você pode acabar com a mão AMARELA.
Além de tudo isso, fiquei pensando em quem seriam as grandes figuras discordianas brasileiras e só pude pensar em nomes como Pedro Malazartes, Mazzaropi, Sergio Mallandro, Cajuru e João Grilo, mas não existem registros históricos de que eles realmente tenham existido. Por muito tempo, acreditei que Os Mutantes (a banda, não a novela) fossem os verdadeiros avatares de Éris. Tanto que o fim desastroso da banda comprova que estou viajando na maionese.
Foi gratificante descobrir que a edição brasileira de Principia Discordia tem conteúdo inédito e exclusivo, feito por pessoas que comem churrasquinho grego às terças e jogam um golinho para Éris. Certamente essas pessoas são grandes fãs do Gótico Reginaldo e sua poderosa marca da banana. Outro detalhe que não pode ficar de fora é que o livro tem uma exuberante capa AMARELA e acabamento de extrema qualidade. A ideia da Penumbra Livros é impedir que as pessoas usem as páginas de Principia Discordia para limpar suas bundas. Desejo que isso nunca aconteça e que ninguém imprima esse texto para o mesmo.
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