O Bode de Schrödinger

O Bode de Schrödinger – Um Paradigma Discordiano

Parte I – O Gato de Schrödinger

Se você está lendo isso, já deve conhecer o experimento do Gato de Schrödinger. Mas não custa recapitular. A ideia é a seguinte: imagine uma caixa hermeticamente fechada. Dentro dessa caixa há:

  • Um gato;
  • Um átomo radioativo, prestes a decair;
  • Um dispositivo que envenena o gato se o átomo decair.

Não é possível saber o que há dentro da caixa sem abri-la. Não dá nem para ouvir o gato miando e arranhando as paredes. Na hora que a caixa for aberta, vai ficar bastante óbvio se o gato está vivo ou morto. Mas enquanto ela não for aberta, é impossível saber se o átomo decaiu (matando o gato) ou não (nesse caso, nada acontece com o gato).

A conclusão desse experimento não é intuitiva. Você pode pensar que o gato pode estar vivo ou morto, nós é que não sabemos. Mas não é isso que ocorre. Nesse caso, segundo o Sr. Schrödinger, o gato está vivo e morto ao mesmo tempo. É isso mesmo. Esse é o Quantum para você.

[Informamos que nenhum animal foi maltratado no curso destes experimentos. A não ser que algum idiota não tenha entendido nada e tenha feito tudo errado.]

Parte II – O Bode na Sala

O experimento do Bode na Sala não é tão famoso quanto o do Gato de Schrödinger. Mas é igualmente importante.

Diz a lenda que um cidadão vivia uma vida de merda. O casamento ia mal, os filhos só davam dor de cabeça, estava desempregado, o cano do banheiro tinha estourado, e o aluguel estava 14 meses atrasado. Até que um sábio o aconselhou a colocar um bode no meio da sala de seu apartamento. Ele achou aquilo tudo muito estranho, mas pior do que estava não podia ficar, então ele colocou o bode lá.

Mas ficou pior.

O bode, por si só, já fedia. Mais do que o cano estourado. Comia tudo que via pela frente (um dia, quase engoliu um dos filhos do homem). E cagava a sala inteira. O filho mais novo ficava brincando de caubói e gritando “aiô Silver” o dia inteiro. Sua esposa reclamava sem parar do bode. A situação piorava dia após dia, até que o síndico do prédio descobriu e ameaçou chamar a polícia. Nesse dia, nosso herói decidiu que não podia continuar naquela situação. E transformou o bode numa buchada.

A buchada estava boa, mas o dia seguinte foi melhor ainda. O cheiro do bode sumiu. Os cocôs pararam de proliferar pelo tapete. As coisas da casa pararam de ser mastigadas. O filho parou de gritar. A esposa parou de reclamar. O síndico não tinha mais motivo para chamar a polícia.

O cano continuou estourado, o homem continuou desempregado, o casamento continuou ruim, os filhos continuaram problemáticos, o aluguel continuou atrasado, mas tudo estava subitamente muito melhor do que antes.

Colocar o bode na sala foi a decisão mais sábia que aquele homem poderia tomar. Não à toa, a dica foi dada por um sábio.

[Ao contrário do Gato de Schrödinger, o bode se deu mal no fim dessa história. Um minuto de silêncio, por favor.]

Parte III – O Bode de Schrödinger

Einstein não tinha um acelerador de partículas quando bolou a Teoria da Relatividade. Quando você trabalha com o Quantum, boa parte de tudo que você faz são experimentos mentais. Experimentos com animais são mais legais se forem mentais. As vantagens são muitas. Com experimentos mentais, você não vai precisar enfrentar defensores de direitos dos animais, nem fazer um minuto de silêncio, nem arrumar a cozinha depois de preparar uma buchada. Acredite: experimentos mentais são mais legais.

E se você pudesse transformar o experimento do Bode na Sala em um experimento mental? Além das vantagens já citadas, você não teria que lidar com todos os problemas criados pelo bode. O que é deveras interessante.

A proposta é a seguinte: quando sua vida estiver uma bosta, saia de casa, e coloque um bode na sala. Mas não um bode qualquer. Tem que ser um Bode de Schrödinger.

Como você não estará em casa, não terá como saber se o bode está realmente lá. Pense bem: ele pode ter entrado pela janela do banheiro. Ou pelo sistema de ventilação. Ou pode ter pego o elevador e entrado pela porta da frente. Se você acha isso improvável, pense direitinho: de todos os textos que já foram escritos na história da humanidade, você está lendo exatamente este aqui. Qual é a probabilidade disso acontecer?

Agora você está fora de casa, e o Bode de Schrödinger está lá (e, ao mesmo tempo, não está). Agora pense em todo o estrago que ele está causando. Visualize o melhor que puder. Sinta o cheiro do bode. Seja esquizofrênico em sua imaginação. Pense na sua coleção de latinhas sendo devorada. Na sua TV UHD 4K 3D que levou um coice. Tudo isso está, realmente, acontecendo. E, ao mesmo tempo, não está. Fique com raiva do bode. Muita raiva. Ele está destruindo sua vida. Quando estiver tomado por um ódio incontrolável, volte para casa, com a intenção de preparar uma buchada com o desgraçado do bode.

Há uma grande chance de, ao chegar em casa, não haver bode nenhum. Bodes de Schrödinger tem um péssimo hábito de sumir quando você menos espera. Nesse caso, fique feliz!

Se, por outro lado, o bode estiver lá, não tem problema. Sua raiva não terá sido em vão. E você vai poder matar a fome com aquela buchada. Quem sabe até chamar uns amigos. E ter uma história interessante para contar nas próximas festinhas.

 

Mesmo que você ainda não saiba disso, se você leu até aqui, você é um membro da Sociedade Discordiana. (Ou não.) Então aqui vai uma boa notícia: o Principia Discordia, o único livro que você precisa na sua vida, está finalmente em pré-venda, e você já pode adquirir o seu na loja da Penumbra Livros!

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