O duplo é um daqueles conceitos tão simples que chega a ser difícil de se definir com palavras. Algo que se experimenta melhor do que se explica. Mas vale a tentativa:
O duplo é descrito em todas as tradições mágicas, desde o Xamanismo ancestral, passando pelo “Ka” dos Egípcios e pelo “Ki” das artes marciais ocultas até as ideias de alma ou fantasma e o conceito oculto do corpo astral. Ele é visto ou experimentado com maior frequência quando o corpo físico passa próximo da morte.
Peter J. Carroll, Liber Null e Psiconauta – Liber Nox
A ideia é que podemos projetar esse corpo astral usando diversas técnicas e com diversas finalidades – cura, ataque, acessar informações normalmente inacessíveis, etc. Como uma extensão energética de nós mesmos, pode nos ajudar a realizar tarefas que nosso corpo físico é incapaz de realizar.
O Duplo e o Diabo
Embora haja desavença com os linguistas, há quem defenda que a palavra “diabo” se origina da mesma raiz de “duplo”.
O sentido verdadeiro e qabalístico da palavra “diabo” nos permitirá recuperar sua significância primordial. O diabo, diable, ou dual, era o duplo, ou gêmeo (doppelgänger) das fases mais antigas da mitologia.
Kenneth Grant, O Renascer da Magia, Cap. 3
Embora do ponto de vista linguístico essa afirmação seja questionável, a demonização dessa duplicata, desse “diabolus”, faz todo sentido histórico. Se ele é capaz de conferir poderes à pessoa normal, é do interesse das religiões monoteístas limitadoras torna-lo proibido, demonizado.
Gêmeos do Mal
O duplo tem uma tendência a se assemelhar à sua contraparte física. E às vezes é possível que uma pessoa veja o duplo de outra – especialmente em situações anormais, como experiências próximas da morte. Essa uma explicação para os diversos fenômenos de bilocação registrados ao longo da história. E é natural, com a ocorrência desse fenômeno, que surja toda espécie de lendas a respeito do duplo. O que só colabora para sua demonização.
É por causa de aparições inesperadas de duplos que surgem os mitos de doppelgängers (e também o ka dos egípcios, o vardøger dos nórdicos, etc.). É também por esse motivo que gêmeos idênticos foram vistos com maus olhos por séculos.
As manifestações do duplo, para pessoas não treinadas, ocorrem espontaneamente, e somente em momentos especiais. Momentos de grande sofrimento, opressão, etc. É natural, portanto, que o duplo faça coisas que sua contraparte, restrita pelas amarras (sociais ou físicas), não faz. E daí surgem também histórias de pessoas que manifestam seu “lado negro”. Dr. Jekyll e Sr. Hyde, Bruce Banner e o Hulk, Harvey Dent e sua moedinha; todos são releituras mais ou menos modernas dos mitos milenares envolvendo o duplo.
Libertando o Duplo
OK – pessoas normais manifestam essa força involuntariamente, descontroladamente. Mas é possível fazer isso deliberadamente? Resposta: é claro que sim, e há vários métodos para isso. Mas não quer dizer que seja fácil.
As técnicas de projeção pouco além do corpo são normalmente trabalhadas nas artes marciais e nas técnicas orientais de cura. A prática faz a perfeição.
Usando métodos xamânicos, é possível fazer com que o duplo se manifeste em outras formas – como, por exemplo, formas de animais. Dessa forma, ele não apenas assume outra forma, como também apresenta características atávicas. É assim que os xamãs são capazes de assumir temporariamente os poderes de diversos animais.
O duplo também pode ser acionado para realizar viagens astrais. É preciso ter uma grande dose de concentração e treino para lançar a forma imaterial pelos planos sutis sem nenhum auxílio externo, mas é um método tradicionalmente empregado pelas mais diversas culturas.
E há, também, o método dos sonhos, que talvez seja o mais difícil mas é, certamente, muito recompensador. Apesar de não ser fácil, qualquer um determinado o suficiente é capaz de conseguir aplica-lo. Basta dizer que o obtuso e recalcitrante Carlos Castañeda de 1972 teve sucesso nessa operação, seguindo as vagas instruções de Don Juan. Sua aventura no despertar do duplo é descrita em Viagem a Ixtlán.
Se quiser saber mais sobre o duplo, duas boas referências são O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, e Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll. Enquanto O Renascer da Magia trata do simbolismo e das correspondências cabalísticas relacionando o Duplo e o Diabo, Liber Null e Psiconauta trata dos aspectos práticos de como libertar o duplo e usá-lo a seu favor na grande obra da magia. Os dois títulos podem ser encontrados na loja da Penumbra Livros.