Shaitan, o Opositor

Shaitan, o Opositor

Satanás figura no nosso imaginário como o grande adversário do Deus das religiões monoteístas. Mas será que é isso que Satanás, Satã, ou Shaitan realmente representa?

Satanás, Satã ou Shaitan?

A primeira coisa a se observar é a origem do nome Satanás. É comum que, com o passar dos milênios, os nomes originais sejam alterados. E não é diferente com Satanás. Esse nome se origina de Shaitan, que significa “o opositor” em árabe. Em hebraico, outra língua semítica com várias semelhanças, seu nome é Satan. O sentido se mantém. Mas antes de ser conhecido pelos povos semíticos, os conceitos relacionados a Shaitan já existiam na figura egípcia do deus Set.

Set era o principal deus dos egípcios nos primórdios dessa civilização. Isso na época em que o cômputo do tempo era mais predominantemente estelar do que solar. Quando a contagem do tempo passou a ser solar, deuses solares passaram a prevalescer. Set foi então relegado a um segundo escalão, sendo não mais do que um aspecto oculto de Hórus. No entanto, seus fiéis mais devotos migraram para a Suméria, onde seu culto sobreviveu. Mas Set passou a ser Sat-An, Senhor do Norte e do Sul. E, claro, O Adversário.

Semelhanças com o mito da queda dos anjos não são meros acasos. O fato é que Shaitan permaneceu sendo venerado pelos iazidis. Em O Renascer da Magia, Kenneth Grant detalha a trajetória histórica do culto de Shaitan, da antiguidade aos dias de hoje.

Shaitan na Bíblia

Satanás aparece na Bíblia, mas não deve ser confundido com Lúcifer. São dois seres (ou conceitos) distintos. E o próprio conceito de Satanás é diferente no Velho e no Novo Testamento.

Shaitan parece ocupar uma posição dúbia no Velho Testamento. Parece, na verdade, agir em conjunto com Deus, e não contra ele. A pedido de Deus, Shaitan tenta acabar com a fé de Jó, fazendo ele passar pelas maiores provações. Ele também age como um advogado de acusação contra Josué num tribunal celestial.

Já no Novo Testamento, Shaitan se identifica mais com o conceito que carregamos em nosso subconsciente. É um príncipe demoníaco, e inegavelmente maligno. Será que se trata da mesma entidade? Ou será que no passado mais remoto o conceito de “opositor” estava mais presente, enquanto nos tempos de Jesus era necessário encontrar alguém para “demonizar”?

A Aparência de Shaitan

É fato conhecido que as religiões monoteístas, de forma geral, sempre arrumam uma forma de denegrir as crenças das culturas e seus inimigos (opositores?). E durante o processo de expansão do cristianismo, vários arquétipos de deuses de outras culturas foram assimilados à figura de Shaitan.

Por exemplo, por que toda aquela coisa de pele vermelha? O Shaitan dos hebreus já se relacionava diretamente com o elemento fogo, e a gematria de seu nome carrega o conceito da Espada Flamejante. Daí a ser vermelho e viver cercado de fogo e enxofre, é apenas um pulo. Mas mesmo estando associado ao fogo, seu tridente provavelmente é uma herança do Poseidon dos gregos.

E a associação com o bode? Há algumas possibilidades. Primeiramente, Shaitan estava associado à constelação de Capricórnio. O deus grego Pã também tem muitas características físicas que passaram a ser atribuídas a Shaitan – inclusive a parte de baixo de seu corpo, semelhante à de um bode.

Além da semelhança com o bode, os chifres podem vir da associação com Cernuno, ou Cernunnos, o deus cornudo dos celtas. Na verdade, como bem nota Peter J. Carroll, em seu Liber Null e Psiconauta, todas as tradições xamânicas no mundo incluem um deus cornudo, mesmo em terras onde não há animais com chifres. E isso se associa à capacidade do homem de projetar sua consciência além da cabeça. É claro que uma religião monoteísta, dominadora e repressiva não tem interesse em incentivar o aumento da consciência do indivíduo. E, é claro, os chifres passaram a fazer parte do pacote de características demoníacas.

Tanto O Renascer da Magia quanto Liber Null e Psiconauta estão disponíveis na loja da Penumbra Livros – e por um tempo limitado, você pode comprar os dois com um belo desconto.

Uma última dica: se você se interessa por demônios, vale a pena ler Kalciferum – Demônios, Bruxas de Vagantes, de Andrei Fernandes.

Shaitan, o Opositor

 

Save

Save