Muita gente gosta de se gabar de que já conhecia ou acompanhava alguma coisa antes dela ficar famosa. Já começamos a ver esse fenômeno acontecendo com o Doutor Estranho. Apesar deste personagem ter sido criado por Stan Lee em 1963, até o recente lançamento do filme pouca gente por essas terras de fato conhecia este herói. Então vamos falar um pouco sobre o que faz ele ser tão diferente.
Quais são os poderes do Doutor Estranho?
Quase nenhum herói que se preze tem um poder só. O Super Homem, por exemplo, tem uma coleção invejável. Entre os heróis mais modestos, é comum a combinação de força, resistência e agilidade sobre-humanas, somadas a alguma coisa que os diferencia dos demais. É o caso do Aquaman (forte, resistente, ágil, respira debaixo da água, se comunica com a vida marinha). O Capitão América tem essa combinação, mais um leve fator de cura. E por aí vai.
Mas o Doutor Estranho não tem nada disso. Ele lança os mais variados feitiços, viaja entre planos de existência e defende a Terra de ameaças sinistras. Mas é apenas um humano comum. Um homem comum, com inteligência e determinação extraordinárias. E uma bela dose de sorte.
Todas as coisas inacreditáveis que o Doutor Estranho é capaz de fazer (e são muitas!), ele faz porque estudou e se esforçou para isso. Afinal, ele é o Mago Supremo! E, exceto no mundo de Harry Potter, ninguém nasce mago.
Mas alguma coisa do Doutor Estranho tem a ver com a realidade?
Sim e não. A pirotecnia e as pirações visuais são todas coisas da ficção. (Mas podem também ser coisas da sua cabeça!) Mas mantendo o pé no chão, muitas das coisas que o Doutor Estranho faz nas suas histórias têm uma contraparte no mundo real. Projeção astral, alteração das probabilidades (alguém falou em sorte?), tráfego com entidades imateriais, manipulação do tempo, artes marciais ocultas – tudo isso é possível de se replicar no nosso mundo. Mas, é claro, ninguém nasce mago. E é preciso estudar e praticar.
O Doutor Estranho também usa vários apetrechos mágicos, que chama de Relíquias. Isso não é invenção da Marvel – relíquias, amuletos, talismãs, fetiches e outras traquitanas são frequentemente feitos por magos de verdade, para acumular poderes, tornando seu uso mais conveniente.
Mas o que o Doutor Estranho estuda?
No filme recém-lançado, além de textos em latim, dos Vedas e outros textos clássicos do esoterismo, que existem na nossa realidade, dois nomes chamam a atenção: a Clavícula de Salomão e o Livro de Cagliostro.
A Clavícula de Salomão é um livro de verdade, que sobreviveu ao passar dos séculos, e pode inclusive ser comprado pela Internet. É um tratado fundamental de magia salomônica, que discute as técnicas básicas para a evocação de gênios da mitologia judaico-cristã.
O Livro de Cagliostro é supostamente atribuído ao Conde Cagliostro, um membro dos Illuminati. Sua missão foi disseminar a ideologia dos Illuminati entre os maçons e outras sociedades discretas. É, supostamente, o responsável pela sobrevivência dos Illuminati mesmo depois da dissolução oficial do grupo. Até onde se sabe, o Livro de Cagliostro só existe na ficção – mas quem pode dizer com certeza? O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, conta a história dos primórdios dos Illuminati, e inevitavelmente menciona o Conde.
Então eu posso seguir os passos do Doutor Estranho?
De certa forma, sim. Qualquer um que esteja disposto a dedicar anos de estudo e prática a uma arte ou atividade – artes plásticas, escrita, xadrez, ping pong, não importa – tem o potencial para se tornar realmente bom naquilo. Segundo Robert Greene, em seu excelente Maestria, a quantidade de esforço necessária é bem definida: são necessárias 10.000 horas de dedicação a uma coisa para se atingir a maestria. E não é diferente com a magia.
É claro que são muitas horas, mas com muito menos do que isso já se consegue resultados bem interessantes. Com esportes, por exemplo, isso não é tão simples. Se uma pessoa de quarenta anos decidir se tornar um mestre do futebol, sem nunca ter jogado, pode chegar ao fim de sua vida como um bom jogador. Mas nunca se equiparará a alguém que tenha começado a treinar com o mesmo afinco aos cinco anos de idade.
Com a magia não é assim. Proficiência e maestria na magia não dependem de habilidade física. Portanto, nunca é tarde para começar.
Se você quiser começar, é importante decidir qual trilha você pretende seguir. Correr para todos os lados pode ser ótimo para aumentar seu conhecimento, mas dificilmente proporcionará experiência prática suficiente. E para decidir qual trilha pretende seguir, um bom conselho é ler alguns livros clássicos.
A loja da Penumbra Livros está com alguns pacotes promocionais com livros essenciais, que podem te dar uma orientação sobre as trilhas a seguir. Por enquanto ainda não temos o Livro de Cagliostro, mas você acha por lá, por exemplo, a Clavícula de Salomão. Se até o Doutor Estranho começou por ela, por que você não pode?
(Arte: Christian Ward)