Zazas Zazas Nasatanata Zazas – essas palavras, assim como suas grafias alternativas, aparecem repetidamente em diversos contextos no ocultismo, mas não há um consenso sobre seu significado. De onde será que vem, e o que será que significam?
A Voz de Choronzon
Aleister Crowley afirma que essas palavras remontam à mais longínqua antiguidade, tendo sido usadas por Adão para abrir os portões do inferno. Segundo ele, trata-se de um encantamento usado frequentemente para abrir as profundezas do Abismo, a morada de Choronzon. Em A Visão e a Voz, Crowley relata uma situação na qual estava em um deserto na Algéria explorando os Aethyrs. Ao explorar o décimo, ZAX, ou o Abismo, o próprio Choronzon teria clamado essas palavras ao abrir seu discurso.
Enoquiano?
A origem do encantamento é controversa. Muitos creem piamente serem palavras em enoquiano, a língua angelical “revelada” a John Dee e Edward Kelley. Mas isso não procede. O Dicionário Completo de Enoquiano, compilado por Donald C. Laycock, inclui todas as palavras em enoquiano que aparecem nos trabalhos do Dr. Dee, nas chamadas enoquianas da Aurora Dourada e no Equinox. E não há nenhuma menção a Zazas ou Nasatanata, ou outras formas de escrever estas palavras.
Abrindo os Portões do Inferno
Apesar de não ser enoquiano, parece haver um consenso quanto à função das palavras: abrir os portões para as regiões infernais. Mas será que é cabível uma tradução literal? Há quem diga que não: Peter J. Carroll, em sua Missa do Caos, aplica a frase em uma invocação, mas esclarece que ela não pode ser traduzida. Mas há quem diga o contrário, apresentando como uma possível tradução “Abram, Abram, Portões do Inferno, Abram”. Mas ninguém se aventura a dizer que língua é essa.
Outra corrente defende que Zazas vem puramente da gematria enoquiana. Sua soma é 37, um número com propriedades estranhas. Quando multiplicado por 3, resulta em 111. Por 6, 222. Por 9, 333, e assim por diante. Tudo bem, Choronzon é o Senhor do Triângulo, seu número é 333, a palavra Zazas aparece 3 vezes no encantamento… Mas dizer que a palavra vem exclusivamente da gematria não parece um tanto forçado?
Igualmente forçada parece a hipótese de Nasatanata ser uma corruptela do sânscrito Sat Cit Ananda – Ser Consciência Felicidade. O que não tem rigorosamente nada a ver com a abertura de regiões infernais.
Mas… Inferno, mesmo?
Kenneth Grant defende e complementa a posição de Crowley em seu O Renascer da Magia. Mas o Inferno, segundo ele, não deve ser interpretado literalmente.
O inferno é o lugar escondido – o buraco ou salão dos mortos; sendo os “mortos” as imagens esquecidas de nossas existências passadas, que respondem ao encantamento e ressuscitam na carne do presente. O inferno é a região que os antigos Egípcios chamavam de Amenti – o local do Sol Oculto. A palavra Amen significa “o escondido”, e ta significa “terra” ou “morada”. Amenta ou Amenti é, portanto, o local dos espíritos dos mortos; mortos, isto é, para a mente consciente, mas muito vivos para o subconsciente.
Além do esclarecimento da curiosidade, não parece haver muito sentido em elucidar os mistérios por trás de Zazas Zazas Nasatanata Zazas. Como o próprio Grant argumenta, a ausência de uma concepção pré-estabelecida sobre o significado de uma frase como essa para a mente consciente é o que confere a ela seu verdadeiro poder.
O capítulo Nomes Bárbaros de Evocação, de O Renascer da Magia, explica detalhadamente o mecanismo subconsciente que faz com que palavras estranhas a nossos ouvidos sejam tão poderosas. Grant também conta mais algumas das aventuras de Crowley ao explorar os Aethyrs. Em Liber Null e Psiconauta, Peter J. Carroll apresenta a Missa do Caos em sua totalidade, nos presenteando com a Invocação Enoquiana do Caos – e a tradução das partes traduzíveis.
Outra forma interessante, e certamente menos perigosa, de visitar as regiões infernais é lendo Kalciferum, um livro de ficção cheio de demônios (disponível em versão física e em e-book).
Todos estes livros estão disponíveis, em português, na loja da Penumbra Livros.