Poucos conceitos abstratos estão tão presentes em nossas vidas quanto o da Morte. Não é de se espantar que virtualmente todas as mitologias tenham alguma figura antropomórfica para representar o fim da vida. Há cultos inteiros voltados à adoração desta ideia. O conceito está profundamente entranhado em nossos subconscientes, e a cultura pop não fica de fora – representações da morte estão presentes por toda parte. Do Saturno dos romanos às histórias em quadrinhos, vamos conhecer melhor algumas das personificações da Morte.
Saturno e os Greco-Romanos
Não satisfeitos com uma única forma humanizada para o conceito, os gregos e romanos retratavam os conceitos de Morte por meio de entidades distintas.
Cronos era o Titã relacionado ao conceito de tempo. A passagem do tempo era percebida primariamente pela passagem das estações do ano, motivo pelo qual Cronos tinha uma relação com a colheita. Mas a passagem do tempo, que traz a colheita e a vida, também traz a morte, e estas são as principais atribuições de Cronos. Sua associação com morte e colheita é a raiz da figura clássica da Morte portando uma foice ou ancinho.
Tanto Cronos quanto Saturno, seu equivalente romano, tinham a fama de devorar seus próprios filhos. O grego Hades e o romano Orcus, filhos de Cronos e Saturno, superaram os maus tratos que sofreram quando crianças e se tornaram deuses do Submundo. Hades conseguiu fazer do Submundo um lar feliz, com direito a cachorro e tudo mais. Todos conhecemos a figura do Cérbero, o cão de três cabeças de Hades.
Para completar, há ainda Tânato e Mors, personificações diretas da morte. Tânato era um jovem alado que carregava uma espada, não muito diferente da imagem clássica dos anjos hebraicos. Mors já se assemelha mais à figura de Morte que vemos hoje.
Mitologia Nórdica
O aspecto de Saturno é melhor representado entre os Nórdicos pela deusa Hel, também uma deusa do Submundo, similar a Hades e Orcus. Seu reino recebia seu próprio nome, Hel (de onde se origina a palavra inglesa Hell, Inferno), e ficava em Nilfheim, o mundo das névoas e da escuridão. Curiosamente, Hel é às vezes representada com um cão (que não tem três cabeças).
Anúbis
A lista de aspectos de Saturno seria incompleta sem mencionar Anúbis, o deus Egípcio dos Mortos. Era a divindade relacionada à mumificação e ao pós-vida, o embalsamador. Todo o processo da morte era acompanhado de perto por Anúbis, da famosa pesagem do coração (segundo o Livro dos Mortos) à condução das almas ao pós-vida. Curiosidade: Anúbis tinha corpo humano e cabeça de chacal, um parente do cão. Coincidência?
Kali
Kali, assim como Cronos e Saturno, é uma Deusa do tempo; e, portanto, da criação, mudança, preservação e destruição. É uma das divindades hindus mais adoradas. Este culto é melhor detalhado em O Renascer da Magia.
Cultos da Morte
Sobrevivem até hoje diversos cultos à morte, em diversas personificações.
Há toda uma família de Loas relacionados à morte nas tradições voudon do Haiti, a família Ghuedhe. Sua adoração é peça central destas tradições. Gnose Vodum detalha o trabalho com o Grimoire Ghuedhe dentro da tradição do voudon gnóstico.
A Fraternitas Saturni, como é de se esperar pelo nome, foca todo seu trabalho no tráfego com inteligências de Saturno.
Na cultura latino-americana, há correntes religiosas e mágicas inteiramente focadas à adoração destas entidades, como o culto de Falxifer, o Ceifador, que equivale parcialmente a San La Muerte. A Santa Muerte é amplamente adorada em regiões como o México, até mesmo por ditos cristãos. O Liber Falxifer II trata exatamente da adoração a Falxifer e da gnose da Morte.
Na Cultura Pop
“ONDE ESTAVA A PRIMEIRA CÉLULA PRIMITIVA, EU TAMBÉM LÁ ESTAVA. ONDE ESTÁ O HOMEM, ESTOU EU. QUANDO A ÚLTIMA VIDA RASTEJAR SOB AS ESTRELAS CONGELANTES, LÁ ESTAREI.”
Morte, segundo Terry Pratchett
A cultura pop fervilha de personagens com aspectos de Saturno e personificações da Morte em si. A Morte está em toda parte, da Turma da Mônica ao Sandman. São muitas referências para se listar, e é inevitável deixar algumas ótimas de fora.
A Morte, da série Sandman, é a primeira que vem à cabeça de muita gente quando se pensa na Morte da ficção. Já fizemos uma discussão mais aprofundada desta personagem, comparando-a com Shub-Niggurath, dos mitos de Lovecraft.
Morte está também na série Discworld, do fabuloso Sir Terry Pratchett. É a clássico imagem do esqueleto de manto portando uma foice. Aparece constantemente em diversos livros da série, cumprindo seu árduo e interminável trabalho.
Apesar de ninguém morrer e continuar morto nos quadrinhos de heróis, a Morte também faz parte do universo Marvel, tendo aparecido pela primeira vez em 1973. A Tia May, com suas múltiplas ressurreições, é um exemplo de que esta Morte não cumpre sua função tão bem assim.
Vale uma menção honrosa a Bill e Ted – Dois Loucos no Tempo, possivelmente a única representação completamente idiota deste conceito tão… mórbido.
Mais Referências
Detalhes sobre Kali e sua adoração podem ser encontrados em O Renascer da Magia, de Kenneth Grant. Gnose Vodum, de David Beth, trata do trabalho com a Grimoire Ghuedhe, e introduz o sistema mágico do voudon gnóstico. Liber Falxifer II trata diretamente da magia da Corrente 218 e da adoração a Falxifer, o Ceifador. Todos estes livros estão disponíveis na loja da Penumbra Livros.
Veja também:
Deuses Entre Nós: Deuses Solares