Fizemos recentemente alguns comparativos entre o panteão Lovecraftiano e os Perpétuos de Neil Gaiman: Cthulhu vs. Sonho, Azathoth vs. Delírio, Hastur vs. Destruição, Shub-Niggurath vs. Morte e Nyarlathotep vs. Desejo e Desespero. Dando continuidade à nossa série sobre Religião Pop Comparada, confrontaremos Yog-Sothoth e Destino dos Perpétuos.
Como seria de se esperar ao comparar uma entidade cósmica e a antropomorfização de um conceito, a aparência física dos dois não traz muitas semelhanças. Yog-Sothoth é normalmente descrito como um aglomerado de globos iridescentes, enquanto Destino é simplesmente um homem alto, vestido com um manto de cor indefinida. As semelhanças começam a seguir.
Os planos de Leng parecem ser a morada de Yog-Sothoth. Estes planos podem ser descritos como uma projeção incompreensível dos bastidores da realidade perceptível. Destino habita um jardim com um imenso labirinto.
Tanto Yog-Sothoth quanto Destino tudo sabem e nada fazem. Yog-Sothoth conhece os segredos do espaço e do tempo. Domina o deslocamento espacial e temporal, o teleporte e a viagem no tempo, mas não pratica estas técnicas. Destino não deixa pegadas. Yog-Sothoth pode alterar a realidade pela mera contemplação da mesma, mas nada faz. Destino não tem sombra.
Yog-Sothoth é ilimitado – existe fora do tempo, tudo contém e em tudo está contido. Destino é o mais velho de todos os Perpétuos, e será o penúltimo a deixar de existir. Só sua irmã, Morte, viverá mais do que ele – afinal, alguém tem que apagar as luzes.
A consciência absoluta é representada em Yog-Sothoth. Ele é conhecedor de todas as possíveis realidades, em todos os possíveis tempos. Todos são um em sua consciência infinita. Destino anda com um livro acorrentado a si, que supostamente contém tudo que foi, é e será. Alguns pensam que Destino é cego, mas há quem defenda que ele vê tudo, absolutamente tudo, o que não é muito diferente de não ver nada. Mas conhecer tudo, ao contrário do que se pode supor, não é um benefício. Saber tudo torna qualquer atitude inútil. A onisciência vem ao custo da impotência. Não é à toa que Destino está acorrentado ao seu livro, como um presidiário a uma bola de ferro. É um fardo a ser carregado, com um enorme potencial para o desastre.
Quando uma mente humana limitada estabelece contato com a consciência de Yog-Sothoth (como fez Charles Randolph Carter, e como pode fazer qualquer psiconauta ousado), duas possibilidades são oferecidas. Yog-Sothoth permite que se volte atrás, ou que se siga em frente. Não impõe dificuldades. O preço a se pagar é a loucura e o desastre acarretados pelo excesso de conhecimento. Talvez como consequência do fardo que carrega, Destino não se envolve ativamente com os assuntos dos mortais, e desestimula os demais perpétuos a fazê-lo. Em uma das raras ocasiões em que Destino teve contato significativo com humanos, a consequência foi a gênese de um dos Cavaleiros do Apocalipse. Parece sábio que estas entidades mantenham seu estoicismo, confrontados eternamente ao conhecimento absoluto.
O panteão Lovecraftiano também tem relação com o culto de Crowley. Estas relações são descritas em O Renascer da Magia, de Kenneth Grant. Esta obra acabou de ser lançada, em uma edição caprichada, em Português, pela Penumbra Livros. Usos mágicos para as entidades Lovecraftianas estão descritos no Epoch, de Peter J. Carroll.