Estudar a religião de um povo é uma excelente forma de entender seu pensamento. É fácil identificar diversas diferenças culturais, por exemplo, entre os antigos Gregos e os povos Nórdicos, ao analisar suas religiões. Mas é igualmente fácil traçar um paralelo entre algumas das divindades destes dois panteões – Zeus e Odin, por exemplo, compartilham diversas características.
Real X Fictício
As religiões politeístas (e, consequentemente, as mitologias que as acompanham) perderam influência ao longo dos séculos, mas boas histórias não perderam seu apelo para a humanidade. Nos últimos séculos, alguns panteões supostamente fictícios emergiram das mentes de escritores brilhantes. Algumas destas mitologias, apesar de serem extremamente interessantes, e cuidadosamente detalhadas (como é o caso do universo Tolkieniano), são obviamente fictícias – fruto de anos de esforço intelectual, mas ainda assim, invenções elaboradas.
Outras mitologias, no entanto, estendem seus tentáculos sobre a realidade consensual amplamente aceita, e são consideradas por muitos tão reais quanto as mitologias dos povos antigos. É o caso, por exemplo, das entidades trazidas à luz do mundo desperto por H. P. Lovecraft. Neste primeiro artigo da série, compararemos Cthulhu com outro personagem da cultura pop – Sonho dos Perpétuos.
Onde os caminhos se cruzam
Além de serem os mais famosos membros de suas próprias mitologias, Cthulhu e Sonho têm outras características em comum. Sonho, por exemplo, cuida do Sonhar e é capaz de controlar os sonhos de todas as criaturas. De forma menos evidente, Cthulhu também afeta os sonhos da humanidade. Sonho é retratado como um prisioneiro no arco Prelúdios e Noturnos, enquanto Cthulhu, morto, dorme em sua casa em R’lyeh. A idéia de potência constrita está presente nos dois casos. A moralidade de ambos é discutível.
Cthulhu é retratado como uma entidade maligna, e Sonho é, via de regra, heroico (com algumas atitudes bastante cruéis ao longo de uma eternidade de existência). Uma análise mais criteriosa evidencia o fato de que ambos são incapazes de entender a humanidade; e, portanto, não devem ser rotulados no tocante à nossa moralidade. Cthulhu é notoriamente extraterrestre – Sonho está presente em todas as terras, em formas diferentes. (E, com seu elmo, lembra bastante a figura do alienígena clássico popularizado pelo cinema.) Cthulhu está ligado ao pensamento, à inteligência, aos processos cerebrais e mentais; Sonho, com frequência, conduz os mortais a uma compreensão mais ampla sobre tudo. É o que sonhos fazem conosco. O contato com qualquer uma destas entidades pode deixar profundas cicatrizes psicológicas em uma mente despreparada.
No clássico O Renascer da Magia (que acaba de ser republicado no Brasil), Kenneth Grant traça um paralelo entre o Mythos de Lovecraft e o Culto de Crowley. Vale a pena conferir.
Peter J. Carroll, em seu Epoch, traz um programa de trabalho bem estruturado com as entidades Lovecraftianas.
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