Azathoth vs. Delírio dos Perpétuos

Religião Pop Comparada – Azathoth vs. Delírio

Existe uma relação entre os Deuses Antigos de Lovecraft e os Perpétuos de Neil Gaiman. É também possível correlacionar o panteão Lovecraftiano com as entidades do Culto de Crowley. Coincidência ou não, as semelhanças são evidentes. No primeiro post desta série (clique aqui para ler), apresentamos nosso primeiro comparativo: Cthulhu vs. Sonho dos Perpétuos. Cthulhu está ligado ao pensamento, à inteligência, aos processos cerebrais e mentais; Sonho, com frequência, conduz os mortais a uma compreensão mais ampla sobre tudo. Seguindo a linha Lovecraft vs. Gaiman, este artigo identifica Azathoth e Delírio dos Perpétuos. Azathoth é o Deus cego e idiota no centro do Caos nuclear; enquanto Delírio personifica a Loucura entre seus irmãos, que representam as agruras e emoções dos seres conscientes.

Azathoth e Delírio: dois mutantes

A percepção de Azathoth na mente de Lovecraft foi sendo alterada ao passar dos anos, mas o nome o assombrou por anos a fio. Inicialmente ele reconhecia Azathoth apenas como um nome horrendo. Anos mais tarde, Azathoth é descrito pela primeira vez como uma massa amorfa de confusão, que blasfema e borbulha no centro do infinito, além do tempo e do espaço, ao som de tambores e flautas malditas. Delírio, apesar de manter a representação antropomórfica, muda de forma constantemente – seus olhos não têm a mesma cor, seus cabelos estão em constante mutação, e há frequentes trocas de figurino. Os cabelos são normalmente coloridos e as roupas, frequentemente rasgadas. O sinete de Delírio é multicolorido e sem forma definida. Sua sombra não corresponde à sua forma física. Tanto Azathoth quanto Delírio possuem esta característica amorfa e mutante.

Em outros escritos, Lovecraft descreve Azathoth como o caos nuclear monstruoso além do espaço, entronado no centro do Caos definitivo. Os reinos de Delírio são uma massa caótica de cores e objetos estranhos. Estes reinos são fáceis de se visitar, mas quase impossíveis de se compreender. No centro de seus reinos, lê-se a inscrição “Tempus Frangit” – O Tempo Quebra. Lembram que Azathoth está presente fora do espaço e do tempo?

Como podemos entender Azathoth e Delírio?

Talvez a descrição mais sucinta e conhecida de Azathoth seja a do Deus cego e idiota no centro do Caos definitivo, rodeado por dançarinos, ao som monótono de flautas demoníacas. No caso de Delírio, basta trocar os dançarinos por peixinhos coloridos, e as flautas demoníacas pelos pensamentos que vêm e vão.

Azathoth é a Loucura em nível cósmico: o eterno ciclo de criação e destruição. Estrelas engolidas por buracos negros, supernovas ejetando massa na imensidão do nada. Delírio é a Loucura em um nível mais pessoal, que impulsiona os necessários processos de mudanças de paradigmas pelos quais precisamos passar para sair do antinatural estado de inércia que a vida cotidiana nos impõe.

As relações entre as entidades Lovecraftianas e as do Culto de Crowley estão descritas em maior detalhe no Capítulo 6 (Nomes Bárbaros de Evocação) de O Renascer da Magia, de Kenneth Grant. A Penumbra Livros lançou uma nova versão desta obra em Português. Usos mágicos para as entidades Lovecraftianas estão descritos no Epoch, de Peter J. Carroll.

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