Por Vinicius Ferreira, editor da Penumbra Livros
Eu não gosto de discutir política, mas algumas coisas são tão evidentes que nem precisam ser discutidas. Por exemplo, o fato de que O Grande Topete, Rei da América Setentrional, é uma ameaça ao mundo.
Combatendo O Grande Topete
Se nós, que vivemos aqui no Brasil e só sofremos uma influência lateral das cagadas dO Grande Topete, já caímos na enorme rede de antipatia deste maluco, imagine o povo estadunidense. Eu sou cidadão brasileiro e me limito a falar mal e fazer piadas dO Grande Topete. Mas, se eu fosse americano, não tenham dúvidas de que não conseguiria ficar quieto. (Percebam, caros leitores, que estou medindo minhas palavras, mas ainda assim, já perdi todas as esperanças de renovar meu visto de turista para visitar a terra do Tio Sam nos próximos anos.)
E é claro que minha presença ou ausência no Greatest Country in the World (pense no Borat dizendo isso) não faz tanta diferença assim. O Grande Topete não está nem aí para mim. Mas o povo de lá está se movimentando. Mesmo havendo muita gente contra O Grande Topete, ainda há muita gente a favor, acredite se quiser. Afinal, mal ou bem, ele ainda foi eleito pela (quase) maioria do povo americano. Há uma tensão entre opositores e apoiadores dO Grande Topete. E essa tensão não está limitada às ruas e às manifestações. Ela está ganhando espaço na esfera da magia.
Sim, é isso mesmo. Há dois movimentos acontecendo na América. De um lado, temos um grupo de pessoas defendendo magicamente O Grande Topete. De outro lado, temos outro grupo (muito maior, diga-se de passagem) lançando ataques mágicos contra ele. E os dois lados desse conflito estão envolvidos em uma guerrilha mágica muito maluca. Há quem chame o que eles estão fazendo de ativismo mágico, bruxativismo, e vários outros nomes esquisitos. Mas a gente sabe que o nome que se dá a uma coisa não muda sua essência.
A Batalha PelO Grande Topete
Resumindo a história, várias bruxas convocaram pela Internet um grande ataque mágico aO Grande Topete. A ideia era restringir seu poder para que ele não faça (tanto) mal. A convocação não se restringiu a bruxas, mas a qualquer espécie de magista. Xamãs, magistas cerimoniais tradicionais, feiticeiros, praticantes de Vodu, todo mundo estava convidado. A operação, que culminou no solstício de verão, levou meses. Não dá para saber quantas pessoas participaram. Mas foram muitas.
(Até Lana del Rey, a cantora famosinha, entrou nessa. Deu publicidade à operação, convocou seus fãs, fez seu ritualzinho em casa. Ousado, uma personalidade “com uma reputação a zelar” dar a cara a tapa dessa forma. Pontos para Lana.)
Do outro lado, temos meia dúzia de supremacistas brancos alt-right que se acham bruxões nórdicos. E temos a Golden Dawn. Sim, aquela Golden Dawn, a Aurora Dourada. Essa mesmo. Que decidiu usar seus poderes mágicos para defender O Grande Topete. Resultado para a Golden Dawn: o chefão deles sofreu um acidente e deu perda total no carro, o cachorro dele morreu, e a esposa dele teve um troço.
Os bruxões nórdicos não fizeram diferença nenhuma. Sugiro não procurar no Google, não quero dar ibope para essa gente escrota.
(As bruxas passam bem, obrigado.)
Quanto aO Grande Topete, será que realmente está amarrado e incapaz de causar mal? O que eu sei é que ele ainda não apertou o botão vermelho contra o bebezão da Coréia do Norte, mesmo tendo vários motivos (na cabeça dele) para fazer isso.
Ativismo mágico não é novidade
A batalha pelo Topete pode ser super recente, e esse ativismo mágico pode parecer novidade, mas não é. Combater o status quo usando como ferramentas magia, ocultismo, religião, ou simplesmente a imagética que os envolve é algo que ocorre desde sempre.
Quer exemplos? Vamos lá.
Aviso: se você não é capaz de entender ironia, é melhor parar de ler agora mesmo.
Faraó maluco pegando no pé da sua etnia e da sua religião? Dê uma valorizada no seu passe, diga que Deus falou com você. Consiga seguidores, acabe com a mão de obra escrava do faraó, leve todo mundo para dar um longo passeio pelo deserto.
Igreja controladora querendo dizer o que é bom ou mau, o que você pode ou não pode fazer e pensar? Junte sua turma, acenda uma fogueira no bosque, dance com o Diabo. Mostre para todo mundo quem é que manda na sua vida.
Cansado da opressão do Ocidente judaico-cristão malvado? Faça uma lavagem cerebral em meia dúzia de malucos, dê uma AK-47 na mão de cada um, prometa umas virgens no além para eles, e faça alguma covardia contra inocentes para aparecer na televisão e conseguir quinze minutos de fama. Sempre funciona.
É claro que, fazendo isso, você talvez tenha que passar quarenta anos perdido no deserto, queimar na fogueira ou enfrentar o desproporcional exército dO Grande Topete. Ativismo é assim – se você enfrenta o sistema, tem que estar preparado para ser enfrentado por ele.
Mas como com quase tudo nesse mundo, é possível buscar um meio termo. Se seu ativismo conseguir incomodar na medida certa, você pode causar mudanças reais sem se condenar a um destino terrível.
Recuse-se, Resista!
Eu escrevi isso tudo para deixar uma mensagem: você também pode usar o ativismo mágico para fazer sua vontade valer, lutar pelas suas causas e alterar a realidade ao seu redor.
Uma das coisas boas a respeito do ativismo mágico é que você pode causar enormes estragos sem se incriminar. Uma coisa é plantar uma bomba na Casa Branca (que provavelmente será descoberta antes de explodir, não vai adiantar nada, e o único morto será você). Outra coisa é acender uma vela no solstício, repetir uns encantamentos enlatados, e ver no que vai dar.
Sinceramente, eu acho que nenhuma dessas duas metodologias é acertada. Uma é radical demais, outra é branda demais. Mas a bruxaria, e a magia em geral, não precisam ser brandas. Nem um pouco. Você pode usar magia para fazer coisas realmente sinistras, se quiser. E essas coisas funcionam que é uma beleza. Tudo depende do quanto você está disposto a se comprometer.
O Manifesto
O Manifesto da Bruxaria Apocalíptica, que (obviamente) está no livro Bruxaria Apocalíptica, de Peter Grey, me impactou muito quando eu o li pela primeira vez. E me impactou mais ainda conforme eu comecei a trabalhar com o livro e entender o Manifesto em profundidade.
Esse Manifesto me fez enxergar algumas obviedades. Resumindo bastante, temos os seguintes pontos:
- A situação atual é insustentável e nós não podemos ficar de braços cruzados;
- A Bruxaria é a melhor forma de alterar essa situação, pois é acessível a todos e não há restrições à sua prática;
- Você não está sozinho, mas é uma parte importante desse combate;
- Essa luta não é nova, é a continuidade de um processo atemporal;
- Você não vai conseguir nada se não estiver disposto a sujar as mãos.
E se isso não te der vontade de fazer alguma coisa, não sei se ainda há esperanças para você.
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